Os abetos alinhados na berma da estrada, espreitavam de lado o rosto de andarilho-monge que colado ao vidro da janela daquele autocarro, olhava espantado o manto verde com que os campos de Assis se haviam vestido para a festa da Primavera, por entre o crepúsculo da tarde que se aproximava lentamente, enquanto a Irmã Lua cheia, sorria naquele rosto bonacheirão, no fundo do firmamento, apoiada na torre daquela imponente Basílica que levava no seio como uma andorinha mãe, a pequena Igreja da Porciúncula, onde Francisco, o Pobre de Assis recebera das mãos do Evangelho o Abraço da Missão…
Demasiadas emoções para um coração já tão quebrantado pelos abraços da vida… era como se quisessem parti-lo outra vez em pedaços para com eles rasgarem as terras da alma ferida de securas de abraçar toda a Criação livre dos muros de todos os “Adão’s” construídos nas teologias dos homens…
Tantos sonhos e desejos carregados por tanto tempo neste coração que ansiava conhecer as pedras das calçadas que tantas vezes haviam beijado os pés descalços de Francisco… e ali finalmente, também descalço nos pés da alma, buscando seguir o rasto do abraço que provocava em cada ser a Irmandade da alma eternamente beijada pelo Jesus no crucifixo da outra Igreja de S. Damião, erguida pelo laborar da partilha de uma pedra… apenas uma pedra para o Senhor… e uma nova Primavera da Igreja tão ansiada a explodir em mil caminhos de Paz e Bem…
Pobre Francisco… se visses hoje como se erguem naqueles campos por onde cantaste livre e despido na alma, aqueles enormes muros onde espreitam e vigiam alguns rostos irados talvez pelos excessos das visitas de tantos que ali passam apenas em busca de um sinal… e as moedas outra vez a pesarem na balança das traições à tua santa Irmã Pobreza… compreende-se o cansaço pela vida gasta como guardião de riquezas que outros visitam, paradoxos para quem entregou a vida ao carisma da Irmã Pobreza… e o cansaço a desarmar aqueles rostos de alguns frades e irmãs, pintados de alegrias fabricadas por marketing’s que exigem o sorriso inexistente na alma… sente-se a inquietude do caminho perdido…!
E o desgaste a abrir caminhos ao insulto barato apenas porque alguém tocou numa peça… numa relíquia… porque para alimentar a sua fé, fruto de tantos ensinos errados, precisa de tocar nas mil e uma formas que perpetuam o sagrado da vida de quem viveu aquilo que tantos desejam mas não conseguem alcançar… e por isso, o olhar já não se lhes contenta… e os medos do desmoronar de fontes de riquezas que sustentam sei lá eu a quantos sistemas e homens… paradoxos… imaginem, hoje até o sagrado que vestiu a alma de quem amou tanto a Irmã Pobreza, tem apenas acesso com um bilhete de ingresso… pobre de nós se assim fosse a entrada para lá das margens da eternidade… o que seria dos pobres que não poderiam pagar…
Bom, melhor fazer uma paragem no caminho por esta peregrinação a terras de Assis… antes que o coração de um andarilho monge perca a paz que tanto lhe custou a alcançar… logo que a viagem por terras dos sentimentos perplexos chegue ao destino então voltaremos a escrever algum trilho de Assis que por aqui ainda anda escondido na alma…
3 comentários:
Santo dia...
Aproveito para partilhar novamente a minha 1ª peregrinaçãoa Assis...
Uma santa semana para todos...
O centro da fraternidade universal bem oculto por essas vestes de corrosão humana.
Quase lá... O Senhor me abra os olhos do espírito, para que possa aprender alguma coisa...
Lila
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