*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

terça-feira, 2 de agosto de 2011


Se todos os caminhos levam a Roma, o Santo Padre quis que levassem, também, a Assis. Em 1986 não podia encontrar um lugar mais significativo para um encontro mundial de oração pela paz. Não hesitou: na escolha daquela colina e daquela "estreia", Ele foi o guia iluminado e pertinaz.

João Paulo II tinha-se deslocado a Assis em 3 de Novembro de 1978, duas semanas apenas após a sua eleição, depois em 12 de Março de 1982, peregrino com os Bispos italianos para o oitavo centenário do nascimento do Poverello. Quando, em 25 de Janeiro de 1986, anunciou em S. Paulo fora dos Muros o encontro para 27 de Outubro seguinte, dá o motivo da escolha da cidade de Úmbria, dizendo que Assis é "o lugar que a figura seráfica de S. Francisco transformou num centro de fraternidade universal". E, de facto, os representantes de todas as religiões aí se encontraram, com toda a naturalidade, como "em sua casa". Recordo que o Grande Rabino Elio Toaff, para a oração hebraica, tinha encontrado a área de uma antiga sinagoga.


Para evitar, também, a mínima aparência de sincretismo, o Papa acompanhou, passo a passo, os dez meses de uma minuciosa e laboriosa preparação. Dedicou, ainda, inteiramente, quatro "Angelus" consecutivos para explicar o significado de um acontecimento que alguns tardaram a compreender. Nada foi deixado ao imprevisto e em nenhum momento uns rezaram com a oração dos outros. Mas, a não ser nestes momentos propriamente religiosos, o encontro desenvolveu-se na mais fraterna liberdade. Vejo ainda o pequeno autocarro, que de manhã nos levava de Santa Maria dos Anjos à Basílica de São Francisco. Sentados lado a lado, João Paulo II, o Arcebispo de Cantuária, um metropolita russo e o Dalai Lama: não falavam de religião, simplesmente se sentiam felizes por estarem juntos. Vejo ainda o Papa maravilhado como todos nós pelo arco-íris que despontou, de surpresa, sob um céu tempestuoso; à tarde, no grandioso refeitório do Sagrado Convento onde recebia os seus hóspedes, disse-me, à parte, que aquele sinal fora para ele um sinal visível de uma aliança entre Deus e todos os descendentes de Noé.

Desde aquele dia, Assis tornou-se, no coração de João Paulo II, como que a arca espiritual onde se refugia a humanidade inteira. Nas horas de maior desalento aí se dirige pessoalmente e abre as portas da oração como fez em 9 e 10 de Janeiro de 1993, em plena guerra dos Balcãs e como fará em 24 de Janeiro próximo [2002], face às perturbações que devastam a terra.

Mas trata-se, ainda, de compreender bem o significado de tal passo, insólito e raro. Para isso, é preciso voltar a um importantíssimo discurso aos Cardeais e à Curia Romana, pronunciado no dia 22 de Dezembro de 1986. O Papa confidenciava-lhes a chave de leitura teológica do acto com o qual convidava, pela primeira vez na história, os representantes das Igrejas e das religiões do mundo para um dia de oração, de peregrinação e de jejum pela paz.

Foi então que lançou "um apelo pressuroso para encontrar e manter o espiríto de Assis como motivo de esperança para o futuro" , aquele "espírito de Assis" que João Paulo II não deixou de fazer soprar desde há quinze anos nesta nossa terra perturbada e sobre águas revoltas de violência e divisão. Comunidades cristãs, crentes de todas as religiões, como o exemplo de Eliseu que recebeu o manto de Elias, revestem-se hoje do "espírito de Assis" e tornam-se por toda a parte artífices da paz. Assim em cada ano, a Papa desejou enviar uma mensagem de paz aos encontros inter-religiosos de oração, organizados pela Comunidade de Santo Egídio. A originalidade e a audácia de Assis consistiram em pôr no primeiro plano a "energia pura" da oração e do jejum, mobilizando (se posso ousar dizer esta palavra) todos os líderes religiosos a assumir o seu dever imperioso de educar as consciências humanas no serviço da justiça e da paz.

A luz de Natal ilumina e aquece a nossa noite. É louco, com a loucura de Deus, tudo isto que "o espírito de Assis" pode imaginar e criar, no seguimento dos anjos que cantam: "glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama".

"Espírito de Assis" desce sobre nós!

CARDEAL ROGER ETCHEGARAY

(artigo publicado no Osservatore Romano)


in Ecclesia

5 comentários:

Anónimo disse...

Mal posso esperar pelos dias que faltam... Levar-vos-ei comigo.
Melhor, Maria?
Lila

Ana Loura disse...

Como eu gostei de pisar terra, de orar em Assis...Grata a Deus...agora só falta Compostela. Lila, ficas também no nosso coração

Maria-Portugal disse...

Desta feita tem levado mais tempo...as resistèncias mais gastas.

Fica-me a mágoa de Assis e Lisieux.

Em Assis reza comigo,Lila.

Anónimo disse...

Lila deu-me a entender que vai a Assis.Que bom! que esses passos te façam bem à alma. Não peço que ores,porque sei que o fazes.
Bjs boa viagem.:)(Alma Rebelde)

andarilho disse...

Estive em Assis como vos partilhei antes... deixei até umas partilhas sobre a experi~encia... foi um tempo cheio de Deus... muito mesmo...

Bom seria se a Igreja voltasse ao espírito original do Evangelho em Francisco... só tinha a ganhar...

mas ....