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domingo, 7 de março de 2010

Retiro na cidade - 19







A Palavra de Deus
Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 13, versículo 3

O fruto da paixão


Uma desgraça caiu sobre um grupo de Galileus. Enquanto ofereciam um sacrifício, foram massacrados por Pilatos. Algumas pessoas relatam o acontecido a Jesus. O objectivo deles é claro, o seu julgamento afirmado: eles não podem ser senão pecadores para terem merecido essa sorte!

Eles esperam essa condenação por parte de Jesus, mas a Sua resposta é outra. Jesus não afirma que são pecadores esses pobres Galileus, nem mesmo Pilatos que acaba no entanto de cometer um crime. Por outro lado Jesus avisa seriamente os que lhe contam o acontecido: «Em verdade vos digo que se vos não converterdes perecereis todos como eles.»

Que conversão é essa tão vital, tão necessária, ao ponto de nos fazer perigar se não acontecer? Como bom pedagogo e perante a nossa legítima incompreensão, Jesus conta uma Parábola para nos abrir à sua mensagem.

Um homem tinha uma figueira plantada numa vinha, mas esta figueira não dá frutos, um verdadeiro drama para o seu proprietário: «há já três anos que eu venho buscar os frutos desta figueira e não encontro nenhum; corta-a.» Três anos em que esta figueira teve a sua sobrevivência graças à longa paciência do proprietário. Sobrevive, com efeito, mas não vive, não vive uma vida fecunda, vida que se comunica para fora de si mesma. Sem frutos ela tem a aparência de um morto vivo que é apenas um corpo sem espírito, nem alma. «porquê uso esta terra para coisa nenhuma?», exclama o proprietário! Esta figueira estéril não se alimenta do solo, não aproveita os elementos nutritivos que as suas raízes poderiam ir procurar longe nas profundezas. Ela não se preocupa com o sol nem com a chuva fecunda. Nada a toca, ela está ali sentada sem qualquer relação e sem saber que pode dar frutos e não cumpre aquilo para que foi criada. Será essa a conversão que nos é proposta: darmos frutos?

No seguimento da parábola, um misterioso vinhateiro intervém em favor da árvore: «Mestre, deixa-a mais este ano, o tempo para que eu cave à volta dela e para que eu a adube.» Normalmente o vinhateiro acupa-se dos ramos que poda para que a vinha dê boas uvas banhadas de sol. Mas aqui ele coloca-se de joelhos, ao pé da árvore, para cavar profundamente e pôr adubo.

Adubar à volta da árvore; como um forma de lhe dizer: vai ao fundo de ti mesma, a fonte está em ti. O olhar do vinhateiro é no início um olhar de confiança e de esperança de que todo o ser possa crescer deixando expandir o seu ser interior como a árvore expande e se alarga pela abundância da seiva. A conversão começa quando eu deixo penetrar em mim o olhar que faz vir à luz do dia o meu ser mais profundo. A conversão acontece com este olhar de Cristo que quer fazer crescer o homem repetindo-lhe a razão da sua existência: amar e dar a sua vida como Ele mesmo o fez «dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros; como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros.» (evangelho segundo São João, capítulo 13, versículo 34). Antes de nos dar este testamento, Cristo colocou-se ele também aos pés dos seus discípulos como um escravo, vestido com uma simples túnica e lavou-lhes os pés. Terna solicitude do mestre que não se enoja da sujidade dos nossos pés pela demasiada errância no pecado, a negação e o medo, mas ele diz-nos: «avança e continua a caminhar, sou eu quem te lava».

Precisamos de acolher a nossa conversão acolhendo um Deus que nos purifica através da sua misericórdia e do seu perdão. Deus ama-nos primeiro, muito antes de nós o amarmos, é ele o primeiro que se põe de joelhos, é o primeiro a lavar-nos e a curar-nos.

Então, sim, a vida, a verdadeira vida transmite-se e nós daremos finalmente frutos recebendo o fruto da paixão do Filho. Cristo deu a sua vida aceitando humildemente ir até á cruz, até ao rebaixamento da morte. Essa dádiva absoluta de amor, essa dádiva total da sua vida é a seiva de que nos podemos alimentar para darmos frutos. Esta vida recebida «de dentro» comunica-se «para fora» em frutos de vida mal nos voltemos na direcção dos mais pequenos dos nossos irmãos. «Deus quer que precisemos uns dos outros». Dizia a santa Catarina de Sena. A paixão de Deus pelo homem é uma paixão por uma humanidade fraterna. O fruto não é para a árvore, o fruto não alimenta a árvore. A glória da árvore é produzir fruta para que outros se alimentem. Ninguém deve viver sem o seu irmão, sem lhe levar frutos e o irmão sem o receber. Ninguém é uma figueira completamente estéril.


Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/?date=2010-03-07&lecture

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