*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

RELIGIÃO OU IDEOLOGIA RELIGIOSA?




"Se não há silêncio além e dentro das muitas palavras de doutrina, não há religião, apenas uma ideologia religiosa. Porque religião vai além das palavras e ações, e chega à verdade última somente no silêncio e no Amor.

Somente no silêncio e na solidão, na tranquilidade da adoração, na paz reverente da oração, na adoração na qual o ego-eu inteiro silencia e se rebaixa na presença do Deus Invisível para receber Sua única Palavra de Amor; somente nessas "atividades" que são "não-ações", o espírito desperta verdadeiramente do sonho de uma existência variada, confusa e agitada.


Precisamente devido a isso, o homem moderno ocidental tem medo da solidão. Ele é incapaz de ficar sozinho, em silêncio. E está transmitindo sua enfermidade mental e espiritual aos homens do Oriente."


Thomas Merton em "Amor e Vida", Martins Fontes, 2004, pág. 22.

8 comentários:

Rui Melgão disse...

Verdade...

um irmão. disse...

As linguagens da Fé jamais são estáticas, elas estão sempre em evolução! De facto, a Verdade é uma, mas a Fé que nos “aproxima” dela e nos faz ver algumas das suas faces, não se reduz apenas a um ritmo ou a um caminho, e o silêncio, que é um desses caminhos não é forçosamente a única porta para chegar e dialogar com Deus. Negar isso seria negar a possibilidade da santidade na cidade e noutros espaços, e da possibilidade do diálogo com Deus nesses lugares onde há impossibilidade total do silêncio… abundam os santos que viveram em espaços onde o silêncio não era forçosamente a regra primeira…!

O silêncio não tem sentido no caminho de Deus se ele não se faz comunhão e diálogo com outros… mesmo na clausura… O IDE é sair de nós mesmos, mesmo em clausura sem termos forçosamente que nos deslocar fisicamente… o silêncio mal compreendido, por vezes carrega o perigo de jamais sairmos de nós mesmos e de levar a fecharmo-nos numa BOLHA, onde só há espaço para nós e Deus… Há uma concepção por vezes muito mal explicada sobre o verdadeiro silêncio, e o mundo monástico, tem por vezes muita dificuldade em actualizar a sua linguagem para a comunicar aos tempos actuais… este é uma das grandes fraquezas e fragilidades do mundo monástico, por oposto ao mundo exterior… nas abadias discute-se muito este tema da linguagem que não comunica o verdadeiro silêncio...!

Não há dúvida alguma que o silêncio é um dos melhores caminhos para Deus… mas não é o único.. e ainda bem… senão, só haveriam monges e monjas, anacoretas e afins no céu…risos…!

Maria-Portugal disse...

Sim, até porque o nosso Modelo usou o silêncio em alternância com a comunicação...é Ele que nos mostra as balizas...

Maria-Portugal disse...

Aliás Merton bem o entendeu ...

Anónimo disse...

Gostei muito deste seu comentario, Ir. Mas mesmo no meio dos outros, na cidade, na familia, ha um diálogo intimo com Deus ao longo das horas, que só Ele ouve, num recanto quieto do nosso coracao. Nao será esse lugar,onde nem há palavras, que exige "silencio", ou seja, ausencia de bulicio?
Lila

Maria-Portugal disse...

Uma vez o patriarca anterior disse q Maria não precisou de estar em clausura para viver em intimidade com Deus "conservando as coisas em seu coração".

um irmão. disse...

Creio que uma das passagens mais fortes sobre a questão do silêncio está no cap. 6 do Evangelho de Mateus… ele todo, mesmo que por vezes o faça indirectamente… Mas sublinho dois versos o (6 e 7) que me parecem de uma claridade terrivelmente simples:

“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.”Mt 6,6-7

E sim Irmã Lila, esse “quarto” esse cantinho que aponta, é de facto o CORAÇÃO daqueles(as) que falam como um filho(a) faz com um Pai.. sem medos nem planeamentos nem lugares organizados.. (acontece o silêncio porque se sente necessidade de estar a sós com Deus, ponto final…).. e como Mateus diz, no silêncio orante, mesmo que introspectivo, não se pede ausência de palavras, mas sim ausência do supérfluo no coração, daquilo que está a mais… isso acontece nas abadias onde existe o silêncio como regra… e no entanto, ali fala-se normalmente quando é necessário comunicar com o outro ou por causa do trabalho ou por questões normais da vida… longe vão os tempos que ali se comunicava com a linguagem dos gestos como fazem os surdos mudos… (outra coisa é aprender a respeitar o silêncio do outro, uma grande batalha nessas comunidades, uma escola do silêncio muito difícil…!)

Recordo que o silêncio sem a Graça nele, pode fazer muito dano… quantos dos(as) que vivem em clausura acabam por criar doenças psíquicas porque não conseguiram o “equilíbrio” que tanto fala o nosso Irmão Merton… sim Irmã Maria, ele foi dos poucos monges que abriu muitas portas à compreensão do mundo sobre o verdadeiro silêncio que os da clausura tentam viver e aperfeiçoar embora com muitos erros o que é uma verdade inegável, como é a questão do isolamento continuo,(os muros), precisamente o contrário do que Jesus o “Modelo” fez como já falamos tantas vezes… bom, um tema inesgotável..

… o importante é procurar e viver com equilíbrio essa relação do silêncio com Deus e com os outros… e onde não conseguimos entender, ai está Ele, o Modelo, basta olhar como Ele viveu e actuou em relação ao silêncio…. O resto, como diz o seu santo Evangelho: “há tempo para tudo…”

um irmão. disse...

…. um exemplo riquíssimo de umas das muitas “formas” com que se pode viver o verdadeiro silêncio, encontramo-lo naqueles Irmãos de Tibhirine… reparem como viveram o silêncio monástico no meio daqueles que os acolheram naquele povoação… tremendo… as comunidades monásticas aprenderam muito com eles, eles e nós também podemos aprender muito sobre o silêncio se abrirmos o coração… assim o espero, assim o desejo…