UM DIA ELE ABRIRÁ A PORTA
A PALAVRA DE DEUS
1Então,
o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo”
Mateus 4-1
A MEDITAÇÂO
Esta semana, os presos das prisões Lille, acompanhado pelo Irmão Franck
e capelania prisional, dão o seu testemunho.
Não sei onde começou o meu inferno, este percurso de obstáculos, um
suplício, este deserto. Apenas me vem à memória as recordações deste corpo
vazio, martirizado, murcho em que eu vivia ou mais exactamente errava. Eu
deixei-me abocanhar por múltiplas tentações, pela corrida do mundo: quais eram
os meus autênticos desejos, o meu projecto de vida? Tornados mudos, afogados,
asfixiados, enfurnados no turbilhão das normas pré estabelecidas das nossas
sociedades.
Nessa corrida louca, perdi a minha identidade, como um carneiro de
Panurge com a sua camisola, segui de cabeça baixa o cortejo fúnebre. Não soube
tomar posição, recuar, tomar o tempo de discernir quais eram os meus valores,
os meus interesses, o que fazia deles. E fui lançada no abismo, arrastada,
aspirada. Depressiva, o meu sofrimento foi tal que só a morte parecia ser o
remédio: mais um golpe. Tantas provas percorridas sozinha, no escuro que eu
moia, inconscientemente eu fechava-me e atolava-me. Ter-me-iam sido precisos
pelo menos quarenta anos antes de ter a noção deste maravilhoso tesouro que é a
vida, de tal forma belo que eu a desejo eterna.
E é convosco, sim graças a vós que eu acordei desta hipnose sorrateira,
por causa dessa eclosão eis-me liberta. Ao abrir muito o meu olhar e o meu
espírito, o meu coração também, para vós, para as vossas vidas, para a VIDA.
Através dos vossos actos, li, aprendi; sobre os vossos fracassos, as vossas
vitórias que poderiam ser as minhas, eu tornei-me maior. Nas vossas reflexões
me apoiei, e elas salvaram-me.
Ex-solitária, pois nunca mais quero viver sem os outros, tenho tanta
necessidade desta partilha preciosa, única, insubstituível, As vossas
felicidades, as vossas alegrias, a vossa amabilidade, o vosso riso, a vossa
caridade são tantas belezas que iluminam os meus dias. Um simples olhar, uma
palavra, apenas um sorriso, estes «pequenos nadas» que resplandecem como faíscas:
uma luz que cada vez brota na minha vida. Recebo-os como ecrãs protectores à
volta do meu coração.
Hoje, tenho fé. Caminho num passo novo e esclarecido. Que Deus me
perdoe todo o mal que eu fiz. Através de vós: dos testemunhos, eu encontrei-O:
«Eu estarei convosco todos os dias» (*), Pois era verdade. Foi-me preciso
tempo, mas finalmente compreendi que Nosso Senhor Jesus realmente viveu,
assumiu a nossa condição humana, entre nós. Ele está plenamente habilitado a
ensinar-nos. As Suas Palavras são Verdade. Dos seus grãos semeados, eu
alimentei-me, eles germinaram em mim e deram fruto.
«Amai-vos uns aos outros» (**), pediu-nos Ele, este Amor, eu senti-o. A
mim também, humildemente, permiti-me que vos ofereça o meu. Deus, ele, não nos
tenta, não nos ludibria. Ele não nos engoda, não nos oferece pedras ou esquemas
funestos. O Seu Amor é gratuito e para sempre, incondicional o Seu Perdão, a
sua Misericórdia, que Ele nos dá. Cada um é livre de O acolher sem tardar.
É com muita pena que tenho de deixar-vos. Pois preciso de concluir, Não
será antes disso, por favor, que vos convido a ler o belo Evangelho que me é
tão caro: Lucas Capítulo 16, vers19 e seguintes (***) e de voltar a dizer-vos:
Obrigada
* Mateus 19, 25
** João 13, 24
*** Lucas 16
PARA IRMOS MAIS LONGE COM A PALAVRA:
19«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e
linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. 20Um pobre, chamado
Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. 21Bem desejava ele
saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham
lamber-lhe as chagas. 22Ora, o
pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão.Morreu também o rico e
foi sepultado. 23Na
morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe,
Abraão e também Lázaro no seu seio. 24Então,
ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para
molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou
atormentado nestas chamas.’ 25Abraão
respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida,
enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és
atormentado.
Lucas 16, 19-25
2 comentários:
SEmpre pensei...mas como é que o Espírito leva Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo?
Seria para forçar o diabo a proporcionar a Jesus a oportunidade de fazer uma catequese bem clara sobre os malefícios do poder?
Somos sempre o rosto de Jesus para os que buscam ou andam cansados e oprimidos... como o reflectimos?
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