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sábado, 28 de dezembro de 2013

"Religiosidade para tempos de crise"

A crise econômica, e a consequente crise política, que tem se desencadeado, está nos afastando cada vez mais uns dos outros, estamos nos enfrentando uns com os outros, estamos nos dividindo e a cada dia resulta mais difícil nos entendermos.

A opinião é do teólogo espanhol José Maria Castillo, publicada em seu blog, Teología Sin Censura, 07-09-2011. A tradução é de Benno Dischinger. 

Eis o texto. 

Numa situação de crise econômica como a que estamos vivendo, muita gente se sente ameaçada, se vê em perigo e tem a sensação de ter perdido a segurança que antes tinha. Esta situação de medo e de insegurança tem consequências, como é lógico, em quase todos os âmbitos da vida. A muitas pessoas se lhes alteraram suas relações familiares, profissionais, laborais. Se lhes rompeu sua estabilidade interior. E tudo isto leva consigo muito sofrimento e, em bastantes casos, pouca esperança de encontrar saídas.

Pois bem, estando assim as coisas, eu me pergunto que papel está desempenhando a religiosidade de muitas pessoas numa situação como esta? Pergunto-me concretamente: as crenças e as práticas religiosas estão nos ajudando a superar esta crise? Ou, pelo contrário, a religiosidade está complicando e até agravando a penosa situação que estamos suportando?

Sem dúvida, haverá quem se surpreenda de que eu faça estas perguntas. É verdade que estamos sofrendo uma crise econômica e uma crise religiosa. Como estamos suportando uma crise política, uma frise social, uma crise cultural e tantas outras crises. Porém, neste enorme maremoto que nos está sacudindo a quase todos, o que tem que ver a religião? Não estamos cansados de repetir que as crenças religiosas estão em crise e a cada dia pintam menos? Então, a que vem falar do papel da religiosidade em tempos de crise?

Falo deste assunto e proponho estas perguntas, acima de tudo, porque é um fato que, em momentos de crise e dificuldade, o recurso a Deus e às crença religiosas é uma das soluções e saídas que mais costuma buscar o povo. Foi dito milhares de vezes que nas trincheiras não há ateus. Este único fato já explicaria a proposição que acabo de fazer e as perguntas que acabo de formular.

Mas, aqui estou apontando a algo mais concreto e mais atual. Não estou seguro de que a crise econômica nos esteja aproximando de Deus ou, pelo contrário, nos esteja afastando dele. Em todo o caso, do que estou seguro é de que a crise econômica, e a consequente crise política, que tem se desencadeado, o que sem dúvida está causando é que nos estamos afastando cada vez mais uns dos outros, estamos nos enfrentando uns com os outros, estamos nos dividindo e a cada dia resulta mais difícil nos entendermos. O que leva consigo que a convivência resulta cada vez mais difícil e com freqüência desembocamos em momentos de tensão e crispação que nos rompem por dentro e rompem os grupos humanos até tornar muito complicadas e até impossíveis as relações humanas de uns com os outros.

Pois bem, na medida em que tudo isto é assim, não é certo que necessitamos de uma religiosidade que, em lugar de dividir-nos e enfrentar-nos, teria que servir-nos para aproximar-nos, para compreender-nos melhor, para unir-nos e ajudar-nos? É uma lástima o que está ocorrendo. Nos anos da transição política, nós espanhóis soubemos reduzir ou suspender nossas diferenças, tivemos o acerto de unir-nos e ficou patente que um país progride na medida em que os cidadãos se fundem no mesmo projeto que beneficia a todos. Naquele momento, a Conferência Episcopal Espanhola desempenhou um papel decisivo para unir-nos a todos. E o resultado foi o bem de todos. Agora, sem embargo, não estou seguro de que a religiosidade nos esteja unindo a nós, cidadãos deste país. Mas então, que demônio ou que anjo de religiosidade levamos nas costas que, em lugar de edificar-nos, nos está dividindo e nos tornando tão difícil a convivência e a possível saída da crise? Em definitivo, a pergunta que eu me coloco é esta: cremos em Jesus Cristo para unir-nos ou utilizamos Jesus Cristo para enfrentar-nos? Não viria mal, tal como estão as coisas neste momento, que todos – eu como primeiro – enfrentemos seriamente esta pergunta.

(Fontes: aqui )

3 comentários:

um irmão. disse...

... não só em Espanha não... aplica-se muito bem também aqui....

...muito bom para meditar tal texto de Castillo.

Nele que nos abraça infinitamente ...

Anónimo disse...

Estranho...eu sinto que as dificuldades nos unem, porque quando as coisas correm bem ha a tendencia para a despreocupacao...
Lila

um irmão disse...

Irmã Lila.. penso que o tema é mais profundo e Castillo vai mais longe do que os nossos olhos podem alcançar se for feita uma leitura distraida...!... não se está aqui a falar de "espiritualidade" mas sim de "religiosidade" como aponta Castillo...

Um coração espiritual seja em tempos de crise ou abundancia ele não muda porque está firme sob alicerses seguros... ele sabe viver na abundancia como no pouco.. nele nada muda (Fil 4,12).. mas aquele que vive apenas da "religiosidade" exterior habituado a alimentar o seu coração apenas numa especie de "engorda espiritual" certamente que nos momentos da mesa vazia agirá como aqueles "amigos de job" que mesmo conhecendo Deus o seu papel em tempos de crise era o da provocação e divisão na própria relação de Job com Deus... (...ampliemos isto a uma nação por exemplo!!!)...

Certamente que o caminho de Espanha é mais profundo e tem raizes antigas nos ódios e na falta de perdão que ainda reside dentro das próprias familias que lutaram de ambos lados desde aquele conlito terrivel da guerra civil.. e a igreja espanhola não está nada inocente no tema... repare ainda hoje algumas posições da hierarquia...

... alguém disse que a crise económica tinha raízes profundas na crise moral...

Mas sim, percebo bem a sua interrogação... é verdade que muitos(as) nos tempos mais duros mostram o seu verdadeiro coração de Filhos amados.. e felismente são muitos... mas não basta dar uma sopa... é preciso descer e entrar nos lares e viver no meio do povo partilhando as suas abundancias asim como também as suas pobrezas... e aqui... bom, o Irmão Francisco vai deixando muitas pistas... riquissimas... assim queira cada um de n
ós escutar e perceber no coração...


Nele que nos ajuda a fazer o caminho... e nos ajuda a perdoar e a caminhar juntos...