*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

quarta-feira, 21 de março de 2012

Espaço para a autenticidade






Espaço para a autenticidade
É urgente que a vida não seja só a acumulação do tempo e do seu cavalgar sonâmbulo

Gosto, mas gosto muito, que a primeira palavra de Jesus no Evangelho de João seja uma pergunta (e seja aquela pergunta): “Que procurais?” (Jo 1,38). Consola-me ir percebendo que o que sustenta a arquitetura dos encontros e dos desencontros que os Evangelhos relatam é uma espécie de coreografia de perguntas, um intenso tráfico interrogativo, construído a maior parte do tempo a tatear, sem saber bem, com muitas dúvidas, muitos disparos ao lado, muita incapacidade até de comunicar. Isso é uma âncora, por muito que nos custe, pois uma vida só assente em respostas é uma vida diminuída, à maneira de uma primavera que não chegou a ser. Não sei como vai rebentar em nós a primavera, como se vai acender este reflorir que a natureza insinua, este renascer que o gesto pascal de Jesus espantosamente (res)suscita na nossa humanidade. Sei apenas que nas perguntas, mesmo naquelas que são difíceis e nos estremecem, reencontramos a vida exposta e aberta, certamente mais frágil, mas a única que nos permite tocar as margens de uma existência autêntica.
Todos somos habitados por perguntas e elas cartografam zonas silenciosas, territórios de fronteira do nosso ser. Estes dias reencontrei a pergunta de Pilatos (ainda no Evangelho de João): “O que é a verdade?” (Jo18,38). E dei comigo a aproximar esta pergunta de uma das frases emblemáticas de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo 14,2). Sem querer relativizar a natureza densamente dogmática do enunciado, dei comigo, porém, a revisitá-lo em chave existencial. E era como se Jesus, mestre da vida que incessantemente se reformula em nós, nos desafiasse a uma apropriação. Sim, a uma apropriação. É necessário que perante a multidão dos caminhos percorridos e a percorrer cada um de nós diga: “eu sou o caminho que percorro”. É decisivo que as verdades que acordamos não sejam uma sobreposição, mas uma expressão profunda do que somos: “eu sou a verdade”. É urgente que a vida não seja só a acumulação do tempo e do seu cavalgar sonâmbulo, mas que cada um, pelo menos uma vez, possa dizer plenamente: “eu sou a vida”. Acho que é disto que o mistério pascal fala.
José Tolentino Mendonça

2 comentários:

Maria-Portugal disse...

A vida,a vida em abundância apoia-se nas palavras de Jesus...sou a vida,a verdae,o caminhos.O que se fara fora é perda de humanidade.

Lindo texto!

vp disse...

“…eu sou o caminho que percorro”…

… tenho que ser eu a fazer esse caminho…ninguém o pode fazer por mim… só eu percebo-me interiormente e as necessidades vitais que preciso para caminhar… certamente que devo fazer caminho amparado também com a luz e a palavra dos que comigo caminham também na busca de Deus… a sua ajuda é riqueza porque me abre a outros horizontes que não os meus…

…. ajudamo-nos mutuamente nessa comunhão que respeita o caminho individual de cada um…

Gosto muito da escrita deste irmão Padre…. de uma sabedoria como poucos …. daria um belo Bispo… seria de uma grande ajuda para a igreja nos dias que correm…

Orem por nós… vamos fazendo caminho esperando na misericórdia… estou em contacto diário… se existir alguma alteração darei noticias… esperar e confiar no Pai… é o que nos resta agora… que o Pai me ajude tb a levar agora esta caminhada de outro gólgota…

Um santo dia para todos… abraços no Pai…