Como és discutível....

“Como és discutível, Igreja, e no entanto, como te amo! Quanto me fizeste sofrer e, todavia, quanto te devo! Quisera ver-te destruída e, contudo, tenho necessidade da tua presença! Escandalizaste-me muito e, apesar disso, fizeste-me compreender a santidade! Não encontrei no mundo nada de mais obscurantista, mais cúmplice e mais falso, e não topei nada de mais puro, mais generoso e mais belo!

Quantas vezes me deu ganas de te bater a porta da minha alma na cara, e quantas vezes pedi para morrer em teus braços seguros!
Não, não posso livrar-me de ti, porque sou tu, embora não seja completamente tu! E depois, para onde iria? Construir outra?

Mas não poderei construí-la, senão com os mesmos defeitos: os que trago dentro de mim. De resto, se o fizesse, seria a minha Igreja, não a de Cristo!

Sou já suficientemente adulto para entender que não sou melhor que os outros!
Aqui está o Mistério da Igreja de Cristo, mistério verdadeiramente impenetrável! Tem o poder de me santificar e é composta, toda ela, do primeiro ao último, de pecadores, e que pecadores!

Tem a Fé omnipotente e invencível de renovar o mistério eucarístico e é formada de homens fracos que andam baralhados e se debatem quotidianamente contra a tentação de perder a Fé!

É portadora de uma mensagem de pura transparência e está incarnada numa massa suja, como sujo é o mundo!
Fala da doçura do Mestre, da não violência, e ao longo da História organizou exércitos para esmagar infiéis e torturar hereges.

Transmite uma mensagem de pobreza evangélica e busca dinheiro e alianças com os poderosos!
Não, não abandono esta Igreja fundada numa pedra tão frágil, porque fundaria outra sobre uma pedra ainda mais frágil, que sou eu!...”

(Carlos Carreto,
em: ACTOS – Ano X – Agosto/92 – N.º 141 –