A Utopia da Fraternidade
[Tomás de Celano, um dos primeiros biógrafos de São Francisco de Assis, deixa-nos o testemunho impressionante dos primeiros tempos da Ordem, em que os "Irmãos Menores" não escondiam a felicidade de estar e viver juntos e se exercitavam em obras de mansidão e de paz.]
É agora o momento de concentrarmos a atenção sobre a Ordem que Francisco suscitou com o seu amor e vivificou com a sua profissão.
Foi ele, com efeito, que fundou a Ordem dos Irmãos Menores e lhe conferiu esse nome (...). E, realmente, menores eram porque a todos submetidos, buscando sempre o último lugar e os ofícios a que estivesse ligada alguma humilhação (...).
Como era ardente o amor fraterno dos novos discípulos de Cristo! Que robustos os laços que os pendiam à família religiosa! Sempre que juntos se viam em algum lugar, ou casualmente se encontravam pelo caminho, mais viva irrompia neles a chama do amor espiritual, o único amor capaz de fundir uma autêntica fraternidade. E era de ver como o testemunhavam nos abraços fraternos, no conversar ameno, nos semblantes festivos, no porte humilde, no falar cortês e atencioso, na total unanimidade de vontades, na disponibilidade pronta, infatigável e recíproca.
Desprezadas as coisas terrenas e imunizados contra as tentações do amor próprio, centravam todo o afecto na comunidade, pelo que todos porfiavam na doação de si mesmos para acorrerem às necessidades dos irmãos. Eram felizes quando podiam reunir-se e, mais ainda, quando juntos viviam. A ausência, pelo contrário, era-lhes penosa; amarga a separação, doloroso o adeus. (...)
De tal modo privilegiavam a paciência, que preferiam encontrar-se onde tivessem de sofrer perseguição (...). Frequentemente injuriados, vilipendiados, espancados, desnudados, manietados e encarcerados, tudo suportavam virilmente, sem tentarem a mínima defesa. Pelo contrário, de suas bocas não saía senão a voz do louvor e da acção de graças. (...)
Sendo embora tão severos consigo mesmos, eram sempre irrepreensíveis e pacíficos no trato com os demais; exercitavam-se em obras de mansidão e de paz, e evitavam com esquisita diligência escandalizar quem quer que fosse. (...) Invejas, malevolências, rancores, murmurações, suspeitas, azedumes, não tinham neles cabimento. Reinava entre todos uma grande concórdia, uma constante serenidade, um mesmo fervor na acção de graças e no louvor a Deus.
Estes os princípios em que Francisco educava os seus novos filhos. Não eram meras palavras as suas; era o exemplo da própria vida.
Tomás de Celano - Vida Primeira (1 C), nn.38-41

8 comentários:
Só o título ( a um olhar mais atento) diz tudo e todo o caminho que se tem feito da espiritualidade de Francisco de Assis….
Desde quando é uma Utopia viver o Evangelho!!!
Diferente é a questão de se querer viver ou não e se alguém está disposto a assumir as consequências dessa escolha... essa é outra questão sim...
Por alguma razão as ordens franciscanas estão tão vazias de gente que desejava ardentemente seguir as pisadas de Francisco… não é que não existam candidatos, mas os testemunhos eliminam logo á partida qualquer “sonho” de um jovem de hoje a seguir aquele caminho na ordem dos tempos actuais… lamento mas é a realidade nua e crua…
... testemunhos referia-me claro a todos aqueles ou aquelas que escolheram abraçaram essa vida...
… sem testemunhos, não existe folclore que aguente… nem que chegue ao olhar humano embelezado por foguetes de artificio de discursos sobre a Irmã Pobreza…...
Ser humilde, menor, o último de todos... não por auto-imposição, que arrastaria consigo o orgulho de um grande feito, mas por amor gratuito ao Senhor, uma atitude de espelho humano ao Amor Incondicional da Trindade...
Que grande mestre é Francisco, que assim nos faz sentir tão pequenos ao pé da sua "pequenez".
Louvado seja o Altíssimo e Bom Senhor por nos ter dado tal irmão!
quem é a(o) anónimo que escreve o 3 cometário?... risos...
Santa semana a todos...
Ai, ai...
O anónimo do 3º comentário sou eu, Irmão Andarilho. Esqueci-me de assinar! É por isso que devemos ser sempre cautelosos com as críticas... Cá se fazem, cá se pagam, rsrsrs.
Um abraço e coragem, ok?
Lila
Uma utopia pode ter um sentido diverso do que aquele
que se usa habitualmente .
Uma utopia pode ser o que se deseja ardentemente e ainda não aconteceu.
Assim nem o Evangelho é prégao sem que se adocem os contornos nem é vivido salvo honrosas excepções na sua radicalidade.
Assim continuamos a viver na utopia da fraternidade universal que o espírito de Assis continua a acender nos corações.
Santo dia para todos/as
Como és sábia, Maria...
Lila
Lila,não me faças rir...!!
Espero bem que já estejas melhor.
Quando apareces?
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