*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

domingo, 20 de março de 2011

Retiro na cidade - 12

Foto de Ana Loura.

A Palavra de Deus

Palavra de Deus«Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz.»

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus, Cap 17, Vers 1 e seguintes

A meditação

A Luz divina, modo de emprego

Perguntas? Tenho-as a colocar sobre este texto.
Francamente, se eu fosse o Filho de Deus, eu teria agido de forma diferente de Jesus. Eu não me teria privado lembrar o meu título e a glória que o acompanham, história que os homens me tomam finalmente a sério. Também não me teria contentado com uma única transfiguração, eu teria, semeado o Evangelho com elas! Pelo que uma questão, à primeira vista paradoxal diante deste texto: «porquê finalmente Jesus se importa tão pouco com o espectacular?» Até ao ponto de ordenar às testemunhas do seu poder de curar, é constante nos Evangelhos, de não dizerem nada ao redor deles?

Mas então: «porquê hoje esta metamorfose incrível de Jesus sobre a montanha?»
A primeira razão, é que naturalmente, isso irá mudar o olhar dos discípulos. Como o marinheiro apanhado pela bruma descobre a sua posição graças a um pequeno rasgão no céu que o deixa ver o seu horizonte, da mesma maneira ,os discípulos vão agarrar de Jesus qualquer coisa de diferente do que o que os seus olhos até aí os impedia de ver, que eles talvez na melhor das hipóteses tinham suspeitado.

Mas existe outra resposta que se impõe, mais decisiva talvez, Jesus quer mostrar-se aos seus próximos na sua glória porque está na véspera de ser traído como o último dos párias. Ele manifesta-se no clarão da luz divina para sublinhar que é mesmo o Filho de Deus e que é livremente assume o caminho do abaixamento.

É isso que é o mais inacreditável! E é isso, acreditar, para um cristão. É assim bem um escândalo e uma loucura aos olhos de muitos.

Com efeito a primeira indicação que tiramos desta passagem do evangelho de Mateus é que nós não podemos separar este reencontro de Jesus na glória da aceitação da cruz. Mesmo antes da sua Transfiguração, Jesus, acaba de declarar: «Se alguém me quer seguir (…), que tome a sua cruz e siga-me». (Cap 16, vers 24). Está claro: Jesus está a caminho de Jerusalém onde o espera a sua Paixão e a sua morte numa cruz, o suplício reservado aos escravos. Mas porquê aceitar passar pelo tempo da prova, do desaire, da cruz?

Eu moro num bairro de Lille onde a miséria toma muitas vezes o rosto de amigos muito próximos, com o seu cortejo de violências, de regras de gangs, traições; com as suas tentações do álcool, as «estou-me nas tintas», ressentimentos. Vidas marcadas pelos malogros recorrentes. Difícil de suportar, inaceitável, direis. E no entanto é o caminho deles, também o caminho dos seus companheiros de jornada, é também o nosso. É aí que Cristo marca encontro connosco, pois ele mesmo nos emprestou este caminho. Ele espera-nos com uma infinita paciência ali e em mais nenhum lugar. Ele é verdadeiramente dos nossos, até ao fim. Na nossa vida obscura e maravilhosa.

Aqui podemos, então juntar-nos a ele. Então, os mesmos amigos, na claridade do seu amor, tornam-se capazes de gestos chocantes de partilha, de perdão, de ternura. A grande aventura da fraternidade e o desafio de Deus abre-se diante deles. Os rostos deles iluminam-se e nos seus olhares há pouco sem brilho, existe como que uma luz.

A nossa experiência confirma-o, isso acontece na hora em que a dúvida nos invade, em que nós ficamos chocados com a dureza da vida, com as suas injustiças e a nossa fraqueza, quando já não sabemos como aguentar, o que fazer, é aí que Jesus nos precede. Resta-nos dizer, como Jesus na cruz, no momento de entregar o espírito «nas tuas mãos, Pai, entrego tudo» (Evangelho de Lucas, Cap 23, Vers 46). No gesto de abandono confiante que é o da criança entre os braços que se abrem para a acolher.

A nossa vida fica iluminada.

Iluminada por aquela Palavra que toma corpo em Jesus e cuja presença transforma, transfigura uma comunidade de destino sofrido numa livre e fraterna comunhão para a vida.

Comunhão fiel à oração e ao serviço dos irmãos.

Nesta história da transfiguração, como nas nossas vidas, é o Espírito de Deus dentro de nós que autentica através do tal reencontro, um evento como esse, uma tal palavra, por assim dizer, a presença do Filho bem-amado

Jesus, ele, o próprio rosto do amor do Pai

Jesus, ele, o Ressuscitado

Irradiando como mil sóis.

Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2011-03-20

2 comentários:

Maria disse...

umreflexo da transfiguração de Jesus tb a temos no rosto daqueles a quem damos as mãos

vp disse...

não existe transfiguração se ela não acontece primeiro no outro nosso irmão e irmã... e ela passa pela transfiguração da sua pessoa no TODO...

Santo Domingo....