*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vá para fora... cá dentro!

As maravilhas da Beira Profunda * III


Desde as Termas de Monfortinho, de regresso ao hotel, passámos por Proença-a-Velha, uma freguesia portuguesa do concelho de Idanha-a-Nova, com 57,75 km² de área e 282 habitantes (2001). A sua origem remonta até antes da nacionalidade, e é uma das mais antigas povoações de Portugal. Foi vila e sede de concelho entre 1218 e 1836.
O calor apertava e a sede começava a pedir alguma bebida fresca ou um geladinho… Indicaram-nos um único sítio onde poderíamos encontrar tal, nessa terra onde as pedras contam história e o tempo parece ter parado séculos atrás. Lá fomos, e – estupefacção nossa! – entrámos num “talho”. É verdade. Um talho, onde se vende carne. E foi aí que comprámos não só o gelado, mas também alguns biscoitos e um sumo. O talho vendia tudo… Veio-nos à lembrança o exemplo das “cantinas” das nossas terras de África, onde se vendia tudo, inclusive medicamentos – os mais frequentemente usados.
Dessedentados, fomos então ver o museu do azeite. Coisa impressionante, o “lagar” onde entrámos: “Ad dextram”, uma forja, com um grande fole, uma bigorna, martelos, canelos e ferraduras… “A sinistra”, um tronco de ferrar bois e cavalos (pôr-lhes os “sapatos” nas patas)… Ainda perguntámos aos visitantes se alguém estava, ali, a precisar de meias solas… e queria aproveitar a ocasião. Franca gargalhada! - ninguém se quis aprestar para o serviço.
Ainda do lado direito, e numa longa prateleira, um grande número de vasilhas de lata – talhas. Ao fundo, então, as prensas: de um lado e de outro, duas prensas de varas – as varas eram, afinal, dois enormes troncos de árvore, com a raiz, empedernida, a servir de contrapeso, deitados cada um sobre o eixo da sua prensa. Esta, manobrada no sem-fim, fazia, apertar as seiras acumuladas no espremedouro, cheias de azeitonas esmagadas nos lagares de grandes mós de pedra, a fim de se retirar sob pressão o que ainda restava de azeite no bagaço. Já em Idanha-a-Velha tínhamos visto uma coisa assim. Impressionantes, estes lagares antigos! E como era engenhosa a perspicácia inventiva da nossa gente! Hoje, é tudo sofisticadamente mecânico e electrónico. Naquele tempo, no produto final, estava incorporada a alma e o labor do cuidado humano; hoje, já quase tudo se faz sem que o coração do homem tenha participação. Automatismo impessoal da modernidade e da técnica!
Ainda aqui, em Proença-a-Velha, gastámos uns escassos minutos para visitar a igreja matriz – Igreja de Nossa Senhora da Silva -, que ficava perto. Templo barroco, com lindos altares e vistosas imagens. O dia estava a findar, e tínhamos de regressar a Idanha-a-Nova. Deixámos, assim, esta vetusta povoação.
Na manhã seguinte, continuámos o périplo, em terceiro dia turístico, na direcção dos contrafortes naturais do Marvão, a norte e fazendo parte da serra de S. Mamede. Para tal, tivemos de descer a sul do Tejo, a terras do Alto Alentejo, depois de passarmos ao lado de Castelo Branco e de Vila Velha de Ródão. Fizemos uma curta paragem em Alpalhão, para tomar um café… e para outras necessidades eventuais. Atravessámos Castelo de Vide (que visitaríamos no regresso) e continuámos até ao sopé da serra do Marvão, através de um vale formosíssimo, entrecortado de pequenas ribeiras onde a água corre límpida e fresca, a convidar o viajante a um repouso bucólico nas frondosas margens do rio Sever, e a buscar no remanso da Natureza a tranquilidade de espírito, que tanto vai faltando na azáfama da vida citadina dos nossos dias.
Subimos, serpenteando a estrada, até àquela “morada” das águias, a 865 metros de altitude – o ponto mais alto da serra de S. Mamede. Uma fortaleza natural que pelos séculos fora serviu de bastião nas lutas contra os nossos vizinhos Ibéricos, e, também, acoitou os desavindos da nossa guerra civil intestina entre liberais e absolutistas.
Toda a vila de Marvão é um repositório natural de história, que nos fala pelas pedras das calçadas, das muralhas circundantes, do pelourinho da praça, das ameias, torres, terreiros e cisternas do Castelo; também pelas casas branquinhas, quais pombas acomodadas no cima da montanha, e até pelos ninhos das águias que ali encontram ainda ambiente propício à sua sobrevivência na liberdade selvagem do seu habitat.
Para norte, e com tempo limpo, divisa-se, no horizonte, Castelo Branco e, mesmo, a Serra da Estrela, esta a 105 km de distância em linha recta. Daqui se pode, pois, deduzir como é vasto, deslumbrante, fazer um giro visual do horizonte a partir da torre de menagem do castelo de Marvão. Extasiante! - a convidar o desabafo místico: - Que bela é a Natureza que criaste, Senhor meu Deus!
O topónimo “Marvão” terá a sua origem no nome do guerreiro mouro, Ibn Marwan al-Yil’liqui, mais conhecido por “o Galego”, que, aí pelo séc. IX, tendo criado um reino independente, com sede em Badajós, se refugiou nesta montanha para ficar a coberto dos seus adversários.
Crê-se que D. Afonso Henriques, na sua gesta para Alcácer do Sal, terá conquistado esta fortaleza natural aos mouros, cerca do ano de 1166. Porém, a data mais antiga que nos aparece a referenciar a sua pertença a Portugal é de 1214 – dizem os entendidos. A presença romana nestas paragens fica igualmente atestada pela ponte sobre o rio Sever, no curso de uma via romana. Doado à Ordem de Malta por D. Afonso III, o castelo sofreu ampliações no reinado de D. Dinis, e no passar dos séculos foi objecto de várias intervenções de refortificação. Foi ocupado pelas forças francesas aquando das invasões do séc. XIX.
Almoçámos em Marvão, e, de tarde, voltámos a Castelo de Vide, a cinco léguas de distância.
Em Castelo de Vide, a conhecida “Sintra do Alentejo”, pelos seus formosos e frondosos jardins, experimentámos o calor forte de Junho, com esplanadas cheias de gente a refrescar a secura das goelas. Saudámos, de passagem, a estátua de D. Pedro V, similar à da praça da Batalha, na cidade do Porto; admirámos a imponência da igreja matriz; subimos na direcção do castelo - mais um castelo!...
Como o tempo não dava para tanto, preferimos, alguns, visitar a Judiaria. Percorremos aquelas ruas estreitinhas, cheias de flores nas janelas e varandas de todas as casas - porta estreita, porta larga - e entrámos nas “catacumbas” acanhadas de uma sinagoga feita museu, cheia de testemunhos históricos que nos elucidaram sobre a vivência atribulada, em Portugal, destes nossos irmãos que ainda esperam a vinda do Messias. Ficámos deveras impressionados, pelo quanto é duro viver a fé sem liberdade, e com as perseguições e a “fogueira” no horizonte das ameaças.
Foi um dia em cheio: turismo, cultura, boa disposição comunitária, sem esquecer a oração, que o Pe. Barros, nisso, é bem avisado e previdente.
De regresso a Idanha-a-Nova, ainda houve tempo para visitar, no centro da vila, a igreja matriz, e apreciar as cegonhas instaladas na torre sineira. As cegonhas, que nos dão um bom exemplo do que é a fidelidade conjugal. Quando casam, é para toda a vida!

Deus seja louvado!
(Continua)

7 comentários:

Ana Loura disse...

Que interessante esta "Viagens na minha terra" e tão bem documentada fotográficamente.

Beijos VS

Víctor Sierra disse...

Ana,
Obrigadinho, pelo comentário.
Como estou a escrever isto para o "meu" Jornal - o "Jornal dos Carvalhos" -, que sai mês a mês ( a 15), tenho-me demorado na descrição. Só falta mais um "capítulo", mas vou ver se o escrevo entretanto, antes do mês que vem.
Saúde e Paz!
Abraço.
VS

Maria disse...

Mas,caro amigo V.S.,sendo leitora assídua destas belas descrições não encontro a nº II aqui na comunidade.

Poderás fazer o favor de me dizer quando foi publicada?.

Dulce disse...

Em breve, daqui a quatro dias, também vou para fora cá dentro. Mal posso esperar!

Víctor Sierra disse...

Maria,
A 2ª crónica foi aqui publicada em 12 de Agosto. É a que fala da Senhora do Almortão, de Idanha-a-Velha, Monsanto e Monfortinho (Termas).
Vou mandar-ta por mail.
Quando sair a IVª., vou mandar fazer uma publicaçãozinha.
Paz e Bem!
VS

Víctor Sierra disse...

Para a Dulce:
Boas férias, e que o tempo ajude|
Abraço.
VS

Maria disse...

ah ....foi quando estive ausente...obrigada pelo mail.

E para a Dulce...boaaaaaas férias!