A Dinâmica da Salvação...!

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” 

1Cor 3,11.

A nossa natureza humana, a mais íntima, sobretudo aquela que dorme e vive nos porões da nossa alma, é como se fosse um diamante com várias faces, que na maioria, foram e continuam a ser “polidos” por “paradigmas”; o seu significado literal é: “modelos”, que nos apontam-impõem mesmo que inconscientemente, diversos padrões a serem absorvidos e seguidos…!

No campo da espiritualidade, esses paradigmas quase sempre acabam por possuir uma tal força e influência, que dificilmente se pode ou consegue escapar à sua passagem em nós, sobretudo quando vivemos e comungamos com eles, e ainda mais quando um dia “abrimos” a porta da nossa interioridade para nunca mais a encerarmos…! Aqueles que conseguem voltar a encerrá-la, quase sempre pagam um preço demasiado elevado…! Mas na maior parte dos casos, essa porta fica de tal maneira “arrombada” que dificilmente a conseguiremos fechar na totalidade ao “intruso”…!

Um dos paradigmas que mais influenciou e marcou a espiritualidade cristã relaciona-se com o tema dos Fundamentos da Fé…! … que acabou infelizmente por se tornar ao longo dos anos, para muitos, nos Fundamentos da paralisia da Fé…!, ainda que muitos o neguem e rejeitem como algo real e concreto nas comunidades cristãs…!

Hoje, a IDEIA do FUNDAMENTO, cada vez mais está carregada de algo tipo FIXO-RIGIDO… algo que se tornou como que estabelecido para sempre… construído, ensinado e estabelecido neste caso, pela religião…!

Por exemplo, reparem num dos casos simples, como a “coisa” acontece! Alguém com responsabilidades do Anúncio nas comunidades um dia pergunta-nos:

- Crês nestas coisas? (doutrinas e ensinos). E nós respondemos: Sim creio. Depois de respondermos a estas questões, se a resposta for positiva, então voltam a perguntar-nos:

- Queres ser baptizado com base nestes fundamentos desta confissão de Fé? Respondemos: Sim quero ser baptizado! (estou aqui a referir-me apenas aos que se baptizam na idade da razão!)

E pronto, a coisa já está feita, é como se fosse um passe mágico…! A gente passa a partir desse momento a SER…! A partir daqui, a gente sente-se pertença deste fundamento, e que me desculpem os mais sensíveis, mas a verdade é que é aqui que acontece aquilo que mais mata a Fé em nós, sobretudo aquela Fé ainda genuína, inocente e depreendida,  liberta dos esquemas teológicos… etc…!

Dizia eu, que é a partir desse dia, quando nos julgamos pertença desse fundamento, que a maioria deixa de ter vida para dentro…!E deixamos de ter mais vida para dentro porque dizemos: Agora já estou salvo, já fui baptizado, já fui incorporado, já faço parte da multidão dos que receberam a salvação, já coloquei os meus pés no fundamento eterno… e esta constatação apenas se fundamenta nas confissões que se faz ao responder afirmativamente às questões que citei acima!

A partir desse dia, passamos a ter olhos somente para os outros e não para nós mesmos! É quando começamos a julgar, a interpretar, a querermos ser salvadores do mundo… afinal não somos nós o SAL da Terra…! E ainda mais pesados e intolerantes ficamos se tivermos uma doutrina que nos dê amparo semântico a essa SALVAÇÃO FIXA… 

De facto, é verdade que a Salvação de Deus é eterna, ninguém mais a pode tirar de nós:  “aquele que vem a Mim eu de modo algum o lançarei fora” João 6,37… disse Jesus…! No entanto, a Salvação é uma obra que jamais pára, estagna, torna-se fixa, pois ela é dinâmica, crescente, é um Caminho que só termina–recomeça no Encontro da Eternidade…!

Mas como as cabeças de muitos cristãos foram forjadas nos fornos da religião, a ideia da FIXIDEZ do Fundamento passou a ser como a rocha, a pedra… Serei fiel até à morte e ninguém me tirará a coroa da Vida…! Tenho os meus pés firme aqui e daqui não saio e daqui ninguém me tira…!

O pior é quando o solos onde sustentamos os pés da nossa Fé começam a tremer-sacudir as nossas seguranças e certezas… ou quando as ondas do sofrimento ou das lutas da vida ameaçam virar a Barca onde fazemos a VIAGEM da Fé…!

Quando chegará o dia em que aprendemos a não construir mais sobre a areia das nossas ilusões, sobre o imediato, sobre os caprichos sobre os direitos pessoais? Quando chegará o dia em que aprenderemos a não construir mais sobre os julgamentos, sobre as impressões, sobre a vida, sobre fantasias, sobre o culto ao elemento mítico da nossa alma, sobre a imprudência que lança pérolas aos porcos…?

Quando chegará o dia em que deixaremos de colocar as bases da nossa casa espiritual sobre os fundamentos da vingança, da mentira, da fantasia mental, ou de necessidades de afirmação pública, através de gestos públicos, sejam eles esmolas, orações, ou quaisquer que sejam as bondades, reputações construídas nas imagens que fabricamos e alimentamos, ao invés de nutrirmos o que é verdade e real no nosso ser, sem andarmos conforme a opinião dos outros nem tão pouco para lhes agradar..!

Se não aprendermos esses passos, caminharemos inevitavelmente no caminho da hipocrisia, das exterioridades apenas, o que acaba por arruinar a nossa existência ao encher-nos de ansiedade, colocando-nos no caminho da superficialidade total, portanto, no fundamento arenoso, no fundamento da superfície e não das entranhas, o que nos torna presas fáceis… por isso é que qualquer lobo vestido de peles de ovelha leva-nos e rouba-nos tão facilmente, abandonando-nos depois nas bermas dos caminhos da miséria humana-espiritual, como moribundos, depois de nos sugar a alma até ao tutano... deixando-nos como "restos" ... bem ao estilo das profecia de Zacarias…!

Tão simples e tão difícil ao olhar humano…! Tanta luz e ao mesmo tempo tanta escuridão nos filhos de Deus que já receberam há muito a luz de Cristo…!

E o Senhor a apontar-nos o Caminho…! E o Senhor a dar-nos respostas tão claras sobre o Verdadeiro Fundamento que é Ele próprio… aquele que nos convida diariamente a fazer essa VIAGEM DINÂMICA  da SALVAÇÃO…!

Quem tem ouvidos que oiça… quem tem olhos, que leia…!

 “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!” Mateus 7,13-14.