A grande aposta do Natal - uma vida feliz para todos
A extraordinária revelação do Natal é a de um Deus para o qual só a procura de uma vida feliz para todos os humanos faz sentido.
A prova máxima do universalismo libertador da mensagem natalícia está no caminho seguido pelo Deus de Jesus para se aproximar da condição humana. Não foi um caminho traçado a partir de critérios de poder e de triunfalismos espectaculares, mas um percurso feito a partir dos fundos da humanidade.
O Deus do Natal, para vir ao encontro dos humanos, começa por fazer-se pequeno e, como todas as crianças do mundo, torna-se dependente de sua mãe, Maria, e de seu pai José, que o ensinaram a andar, a falar, a orar e a trabalhar. Em Jesus revela-se um Deus que se coloca nas mãos dos humanos. Foi como humano que amou e procurou resposta no seu amor, como o demonstra a interrogação ao primeiro dos seus discípulos: “Pedro, tu amas-me?”Não é por acaso que o nascimento de Jesus é apresentado em circunstâncias tão precárias e obscuras e sendo reconhecido apenas por pastores, gente mal vista, afastada do Templo não cumpridora dos preceitos e regras culturais em rigor naquele tempo entre os judeus. Até mesmo a maior parte da existência terrena de Jesus passou completamente despercebida aos olhos dos seus contemporâneos.
Assim se percebe a razão que tem o autor do quarto evangelho para dizer que, em Jesus, Deus montou a sua tenda entre nós. Não edificou um palácio, mas uma tenda. Acampou. Tornou-se “um de nós”. E o grande objectivo de um tal percurso divino de vir daquele modo ao encontro dos humanos não foi outro, a não ser que “todos “tenham vida e vida em abundância”.
Deste modo, assumir a carne humana foi um caminho percorrido por Jesus até às últimas consequências, terminando por levá-lo à prisão e à Cruz, precisamente por ter pregado uma mensagem nova de Bem-aventurança assente em bases novas e a começar pelos mais pobres, os famintos, os injustiçados, os necessitados e capazes de misericórdia e compaixão.
Não pertencendo à tribo sacerdotal e não sendo, por isso, um sacerdote, membro do sacerdócio levítico em serviço no Templo de Jerusalém, Jesus inaugura um sacerdócio novo “sem holocaustos nem sacrifícios”, mas expresso no seu “eis-me aqui” disponível a Deus e à oferenda do próprio corpo “realizada de uma vez por todas”, como nos diz o texto bíblico dos hebreus. Estamos longe de um “sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas, pois que ele passou pelas mesmas provações que nós, menos no pecado” (Heb 4:15)
Estamos perante a grande aposta do Deus de Jesus, como aposta no ser humano. É esta aposta que está a fazer falta no nosso mundo e é a ela que são convocados, pelo Natal, todos os humanos, em especial os cristãos e suas igrejas.
A maior parte das dificuldades, misérias e injustiças espalhadas pelo nosso mundo põem em evidência a ausência de uma verdadeira aposta numa procura de dignidade de vida para todos. Veja-se o que se passa com as reservas e suspeitas acerca dos resultados da cimeira internacional sobre a problemática do clima, prevendo-se não se chegar a acordo sobre medidas destinadas ao apoio dos que mais precisam e à preservação de um futuro humano mais digno para todos.
Que o espírito de Natal toque o coração e a consciência de todos, em especial, daqueles que detêm maior poder e responsabilidade na condução dos destinos dos povos e nações.
Bom Natal.
Cipriano Pacheco
in: Jornal Diário
2009-12-21 06:00:00
5 comentários:
O problema, é que, como não pertencemos à “tribo”… a tal que o autor descreve nesse texto que transcreves Ana, a tal da “ordem sacerdotal”, resta-nos satisfazer-nos com as promessas, e nisso a Igreja é abundantemente confrangedora…!
Ó Ana, não percebo porque espera ainda a Igreja para se tornar de uma vez por todas fermento e sal no mundo em vez de atirar sempre essa responsabilidade para outros...!
E não é com documentos mais eruditos e mais estonteantemente teológicos, as tais chamadas “encíclicas”, ou repetindo na rotina dos discursos moralizantes e cheios de promessas ao longo dos anos e dos calendários litúrgicos, como se passa com a festa cristã do Natal, (que de cristã cada vez vai tendo menos em essência, sejamos honestos ao menos aqui...!), não é desta forma que a “evidência da ausência de uma verdadeira aposta numa procura de dignidade de vida para todos…” se diluirá em gestos concretos que abram pontes e caminhos para uma mudança verdadeira nos homens e no mundo…
E aqui ninguém está inocente… tudo porque não há maneira de assumimos o nosso lugar na dinâmica de uma vida autenticamente cristã, começando pelos mais responsáveis, se é que existem diferenças na graduação de responsabilidades…!
Ora bolas para os papagaios oficiais da moral estabelecida …. E que me perdoem os que se sintam ofendidos com esta tirada, mas estou a ficar saturado dos ”gorgolejos” dos actuais inquilinos da casa herdada das heranças que restaram do império cristão de Constantino… e o pior é que a raiz de tal herança advém precisamente da vitória sobre o mais fraco, na tal batalha da Ponte Mílvio…!
Bom, melhor não ir mais longe senão ficam escandalizados comigo…
Escrevo assim, porque já não tenho “pachora” para ouvir e ver tanta infantilidade cristã em gente que deveria ser referência e apoio para tantos… confesso que me é cada vez mais difícil suportar o “enjoo da alma” provocado pelos “oportunistas” que só se lembram destas épocas como se passa no Natal, para virem debitar as suas promessas de um mundo melhor, e depois durante todo o ano andarem a assobiar para o ar como se nada fosse com eles, que a tal miséria, o sofrimento e a desgraça que tantos irmãos e irmãs estão a viver no mundo é apenas folhetim e fogo atiçado pelos tais da teologia da libertação…!
… portanto... minha querida irmã Ana... ou mudamos de rumo, ou a "APOSTA" já está perdida...! E não há promessa que resista à mentira dos homens… não há, lamento dizer a autor deste texto que partilhaste connosco…!
Creio que o autor apenas fala de uma aposta:aquela de Jesus no ser humano...por ela cresceu,viveu,sofreu e morreu....
Em todos os Natais de forma especial nos é anunciado esse Menino que nasceu para nós,esse Filho que nos foi dado e que em cada dia do ano nos pede bem mais que piedosas palavrinhas de circunstância ou de actos efémeros que se esgotam numa semana.
Concordo com o P.Cipriano...cada dia devemos nos tornarmos mais humanos para nos revestirmos de Cristo.
Na verdade não houve ninguém mais humano que ELE.
Bom, eu SOU IGREJA.
Lerei mais logo durante as longas oito horas de trabalho nocturno, oxalá não haja muito, o que escreves, Victor.
Ah, votos de boa viagem rumo a Coimbra. Bjinhos
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