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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uma Encíclica que irrita- Tolentino de Mendonça e Leviandades- António Marujo





Uma Encíclica que irrita
«Caridade na Verdade» é um texto altamente irritante. É isso mesmo: um manual para o desassossego

Lembro-me muitas vezes da banda-desenhada cheia de humor de Quino, em que a irrequieta e incisiva Mafalda está com um ar abstracto e imperscrutável e diz que está a parecer-se com uma Encíclica Papal.
É uma forma engraçada de pôr o dedo na ferida, pois o grande risco é, de facto, o da recepção "abstracta e imperscrutável"que fazemos de textos que são afinal de uma impressionante concretude, agudeza e profecia.
Por vezes sinto que fazemos das "Encíclicas Papais" um género literário, altamente respeitável, mas inofensivo. A vida continua a correr com o pragmatismo do costume, indiferente quanto baste ao horizonte ideal que a tradição cristã nos aponta.
Talvez por isso, me apeteça saudar um pequeno texto de Henrique Raposo, que me incomodou muito, mas que, não posso negar, me tornou mais atento no acolhimento da Encíclica ("Expresso" (11/07/2009).
Diz o seguinte: «Não tenho problemas com o Papa, e até gosto de católicos. Mas há uma coisa que me irrita no Papa: é quando ele se põe a trazer Marx para o Evangelho. Aquilo que o Papa tem dito sobre a - suposta - falta de ética do capitalismo não ficaria mal na colectânea dos Summer hits de Francisco Louçã. Não vou aqui desconstruir a falácia antiliberal que está presente na Igreja Católica. Deixo somente uma pergunta: no "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" qual é a parte que o Papa não entende?».
É evidente que este autor entende muito pouco do cristianismo. Em vez de Marx, ele deveria perceber que o Papa liga-se à tradição bíblica e Evangélica mais genuínas, aos Padres da Igreja e a todo o extraordinário património de pensamento e acção no campo da solidariedade humana de que a Doutrina Social da Igreja tem sido esteio. Mas numa coisa Henrique Raposo tem razão: Bento XVI irrita e esta sua encíclica, "Caridade na Verdade" é um texto altamente irritante. É isso mesmo: um manual para o desassossego.
José Tolentino Mendonça



Do Blog religionline.blogspot.com



Leviandades
Por vezes não se entende muito bem como é que algumas pessoas aparecem a escrever em jornais. Ou talvez se perceba: basta defenderem o neoliberalismo vigente e usar uma linguagem aparentemente moderna para serem alcandorados a grandes cronistas da actualidade.No Expresso da semana passada, Henrique Raposo escrevia outra vez sobre a encíclica Caritas in Veritate, depois de José Tolentino Mendonça já lhe ter dito que ele, de cristianismo, perceberá pouco, como se contou no texto anterior. Mas o cronista quis ripostar, confessando que fôra "leviano".A ignorância de Henrique Raposo sobre o cristianismo (e, mais grave ainda, sobre a realidade) é mais do que leviana: primeiro, começa por falar de um cardeal "mui sul-americano (e mui vermelho)" que "destilou todos os clichês do livro de estilo marxista"; depois, cita uma frase do cardeal Maradiaga (que por acaso tem nome e é das Honduras), sobre a "cobiça" do mercado (que aliás nem se viu nas causas da actual crise) chamando-lhe "padre de passeata". Sobre o nível da prosa, que pelos vistos queria ser engraçada, está tudo dito.O mais grave é que Raposo descobre que, cruzes credo!, a encíclica Caritas in Veritate mostra "pontos de contacto entre Bento XVI e a esquerda". Se o cronista ler alguns dos teólogos dos primeiros séculos do cristianismo, vai descobrir certamente perigosos pontos de contacto com a extrema-esquerda (será que na altura já existiriam esse perigosos?), na defesa que faziam da primazia do bem comum sobre a propriedade privada (ideia que continua a ser repetida pela doutrina social da Igreja) ou quando diziam que era um crime menor alguém com fome roubar para comer...Mas ainda não chegava. E eis que o cronista descobre que a globalização "retirou centenas de milhões de pessoas da pobreza no 'resto do mundo'". Aliás, temo-las visto, a afogarem-se no Mediterrâneo ou no Atlântico, ávidas de gozarem as delícias da praia e da natação depois de descobrirem a riqueza, o emprego, o desenvolvimento, os seguros de saúde e todas as coisas boas do bem-estar... Temo-las visto no Darfur, nos Grandes Lagos, nas bolsas de miséria à volta as grandes cidades do hemisfério Sul. Ah: e temos visto também como as coisas estão tão bem que a pobreza em Portugal não só subsiste, como passa de geração em geração, como se alarga a camadas que antes não eram atingidas...A crónica acaba com uma ameaça: que Bento XVI coloca a ideologia (??) da caridade à frente da realidade e que isso será tema para outra conversa. Não, por favor, queremos ser poupados. É que quem não entende que a caridade é antes uma atitude de vida e que, sim, está muitas vezes na linha da frente na transformação da dura realidade que tanta gente... - quem não entende isto, é melhor poupar-nos a mais "leviandades".
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Sábado, 18 de Julho de 2009

Uma encíclica que irrita, como a Mafalda
Têm-se multiplicado so comentários sobre a nova encíclica do Papa. José Tolentino Mendonça escreveu na
Ecclesia um texto em que se refere a mais um desses comentários e recorda a banda desenhada de Quino, quando Mafalda se compara a uma encíclica papal.Algumas das opiniões já surgidas, mesmo em meios católicos, pretendem continuar a fazer desta encíclica concreta um texto abstracto, altamente respeitável, mas inofensivo. Não: o Papa coloca o dedo em várias feridas, apontando a necessidade de reformular um sistema financeiro tremendamente injusto, que tem levado a fome e a miséria a muita gente e que provocou a actual crise em que estamos mergulhados. A encíclica é um manual para o desassossego, diz Tolentino Mendonça.No seu artigo de hoje no DN, Anselmo Borges fala também do que a encíclica traz de importante. E destaca a atenção que lhe dispensaram políticos e media internacionai (ao contário do que se passou em Portugal), que sublinharam a sua "inesperada orientação à esquerda", a denúncia do "capitalismo selvagem", a "necessidade de o Estado recuperar um papel activo e a "a urgência da reforma das Nações Unidas e da arquitectura financeira global", entre outros temas. O texto está aqui na íntegra.
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8 comentários:

Maria-Portugal disse...

ah ah ah
A batalha dos Titans!!

Maria-Portugal disse...

Mas o desassossego devia começar pelo Vaticano...

Não é verdade q se diz q a caridade deve começar por nós próprios??

Ana Loura disse...

Nunca esqueçamos que NÓS SOMOS Igreja. Muitos de nós falamos nela/dela e não em/de nós. Falamos de fora para dentro e não de dentro para dentro e colocamo-nos numa posição de afastamento tal que nem parecemos Católicos. Dizemos que amamos a Igreja apesar...como quem diz que amamos um limão apesar de ser azedo (não fazendo parte do limão, claro).

Também sabemos o peso que temos e o papel que temos (ou não temos a maioria de nós) para que melhorem as coisas que achamos não estarem bem. FALO DE MIM, entenda-se bem, nada de equívocos, não gosto deles. Ainda há dias se passou uma coisa que para mim foi muito desagradável, eu escoicinhei da forma menos "pedagógica", soltei os bofes mas tenho a certeza de ter sido ineficaz e de certa forma ter "perdido" a razão. E agora? agora vou deixar andar, não me vou chatear. "Eles querem assim???, Seja. Parabéns a Vc..."

Bastará a "Mea culpa"? Claro que não. Ainda vou pensar se valerá a pena retomar o assunto

Fiz-me entender? Se não, digam q tentarei ser mais clara.

Abraços fraternos

irvictor disse...

Ana, quem ama não é porque ama que deve deixa de corrigir… deve-o fazer sempre desde que não fuja à caridade, não estou a dizer para fugir à verdade…

Pertencer a um grupo não significa que todos façamos a mesma coisa, nem devemos fazê-lo porque se é isso que acontece, então algo não está muito claro… unidade não é sinónimo de soldadinhos de chumbo no agir, e no pensar na fé… que é do que estamos a falar…
concretamente… porque muitas vezes parece-me que a Igreja parece para muitos estar isenta do erro… e isso não é verdade… muitos dentro dela erram… então porque não assumir isso…!

A Igreja não é um ser etéreo… é feita de homens, e isso dá espaço à correcção fraterna como a amor tb…
Ana, amar não é pactuar com a mentira… e amar a Igreja da qual eu também faço parte não me obriga a aceitar todas as tontarias que nela se fazem em nome de uma qualquer exigência de misericórdia… ou de tolerância… ser dela e ser ela não é nem deverá ser a razão válida para algum tipo de silêncio cúmplice…

Se existem dúvidas, ali está Cristo que entrou de azorrague no templo e… olha que Ele era a cabeça da Igreja…

Ana Loura disse...

Eu não disse nada disso. Acho que tenho que explicar melhor. Mais logo

Ana Loura disse...

Victor, voltei a ler o teu comentário e mais uma vez não entendi como o que escrevi pode ter-te levado a escreveres o que escreveste. E com isto não digo que não concordo com a maior parte do que disseste, apenas não entendo a ligação e onde terei dito o contrário do que dizes e para rematar em tom de descompressão pois não me apetece mesmo que seja de outra forma (também tenho as minhas rebeldias) aqui vai:

"Contigo em contradição
Pode estar um grande amigo.
Desconfia dos que estão
Sempre de acordo contigo"

A Aleixo

irvictor disse...

Ana vou refazer e esclarecer melhor o que disse em forma de resumo com excertos da tua intervenção que estarão a negrito:
“Muitos de nós falamos nela/dela e não em/de nós. Falamos de fora para dentro e não de dentro para dentro e colocamo-nos numa posição de afastamento tal que nem parecemos Católicos. Dizemos que amamos a Igreja apesar...como quem diz que amamos um limão apesar de ser azedo (não fazendo parte do limão, claro). “Ana dixit

Ana, quem ama não é porque ama que deve deixar de corrigir… deve-o fazer sempre desde que não fuja à caridade, não estou a dizer para fugir à verdade… e estar fora ou dentro da Igreja, o que me parece nem ser essa uma realidade concreta, porque a Igreja não é um espaço mas um corpo vivo, explica-me lá como se pode estar fora do próprio corpo…!

Ser parte desse limão, só porque ele é azedo não significa que todos sejamos azedos, embora todos temos alguma acidez de alma…. mas isso não nos deve inibir de tentar corrigir-nos e aos outros também… senão, nunca teríamos alguma hipótese de intervenção dentro dela, bastava olharmo-nos a nós próprios ao espelho…

Ana falas do papel que temos: ” Também sabemos o peso que temos e o papel que temos…” … olha “partir a loiça” não é algo irremediável, pode-se sempre arranjar outra, partir é incidente… matar é que é irrecuperável… e muitas vezes nem são as palavras que matam não… são pura e simplesmente os nossos silêncios cúmplices dentro dela, a Igreja…

Quando falo de soldadinhos de chumbo, estou a referir-me ao AMEM eterno e totalmente idiota que carregamos cada vez que nos calamos e deixamos que outros nos levem pela mão… mesmo sabendo que aquele caminho que nada tem a ver com a minha vida espiritual…

Espero ter sido mais claro agora, mas penso escrever uma partilha sobre o assunto, sempre poderei explicar mais claro o que entendo… estou a dizer mais claro..risos, não estou a dizer que seja o único e verdadeiro caminho… só Cristo é o CAMINHO…

Já agora, gosto muito do A. Aleixo...

irvictor disse...

é claro que podes sair do corpo..esquecia-me...risos, mas isso é significado de MORTE... e um morto a tentar corrigir moribundos…! a verdade é que não consigo ver mais nada a partir daí...

… menina, não estar de acordo é a melhor lição de unidade e de verdade para com os outros... e para connosco próprios...

descomprimir pq?!!! porque não te tenha percebido bem...! qual o problema...!

Ana... não estou dentro da tua razão nem da tua alma para entender tudo e ainda bem que assim é...

... é essa riqueza que devemos guardar, não como avaros, mas como riqueza própria que Deus dá a cada um... beijus.. menina...