Maqueta do Templo de Jerusalem. Fonte: Agência Ecclésia
Do templo de pedra ao templo de carne
A Palavra de Deus
«Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. 15Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas» João 2, 14-15 (Bíblia dos Capuchinhos)
A meditação
Um homem puro e justo, um homem de coração humilde que nos convida a amar mesmo os nossos inimigos, pode ele encolerizar-se? Bem, no texto que acabámos de ler, o próprio Jesus encoleriza-se e é com uma certa violência que ele expulsa os vendilhões para fora do Templo. Convido-vos hoje a que vos coloqueis esta questão: porque razão faz ele isso? Imaginem uma mãe que pede aos seus filhos que limpem e arrumem a casa, porque haverá uma festa à noite. Vai às compras e quando regressa encontra os filhos a brincar e a casa pior do que estava anteriormente. Que irá ela fazer? Certamente, ela irá encolerizar-se e ralhar com os filhos. Não é porque já não os ama, mas porque a hora da festa se aproxima e eles não compreendem isso. Jesus faz como ela, porque a festa da Páscoa, a grande festa está próxima, e os vendedores comportam-se como crianças fazendo da casa de seu Pai uma casa de tráfico. Mas, de que casa se trata?
Quando ouvimos a palavra «casa», a primeira coisa que nos vem à cabeça, é a imagem duma habitação onde há quartos, uma sala, uma cozinha, etc. Mas a casa do Deus invisível, o que poderá ser? O Deus que habita o Céu tem ele necessidade verdadeira de uma casa?
Como cristãos dizemos que a Igreja é a casa do Senhor. Mas esta casa não é uma casa de pedra, como o Templo de Jerusalém, mas uma morada de carne. Deus não mora entre as paredes mas no mais profundo do homem, de cada um de nós. A cólera de Jesus visava fazer-nos compreender que o lugar onde oramos a Deus não é um lugar de comércio e que não há nenhuma razão para que se torne. Mas mais ainda, Jesus queria fazer-nos compreender que Deus não reside principalmente num edifício. Ele queria dizer-nos que Deus reside num templo completamente diferente, um templo de carne, e quando ele fala do Templo, fala do seu próprio corpo, o novo Templo. O seu corpo é não só o novo Templo, mas vai tornar-se ele mesmo igualmente uma oferenda que virá substituir os sacrifícios do Templo. «Destruí este templo, e em três dias eu o reconstruirei», diz Jesus.
Após a Ressurreição do Senhor, os discípulos compreenderão que era do seu próprio corpo que ele falava. Mas eles compreenderão igualmente que cada crente é para o Senhor um novo Templo porque somos da mesma carne. São Paulo na sua epístola aos Coríntios não lhes diz: «Não sabeis vós que sois um templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?»?
Somos nós suficientemente conscientes desta graça que nos habita? Será que os nossos rostos resplandecem desta presença de Deus em nós?
Nestes dias de quaresma, agora que a festa da Páscoa se aproxima, preparemos o nosso coração, limpemo-lo, afastemos de nós o que faz mal ao outro, façamos a paz e partilhemo-la entre nós, porque pelas nossas obras glorificamos Deus. Eis Jesus que bate às nossas portas, ele quer entrar para nos convidar a estarmos com ele. Não hesitemos a abri-la, não pensemos que somos indignos ou que não precisamos dele. Ele é o único que purifica o corpo dos seus pecados, porque o tempo dos sacrifícios acabou. Deixemos Jesus trabalhar em nós: É ele que agarra toda a obscuridade que habita em nós, é ele que nos torna filhos de Deus. Jesus mostrou o verdadeiro rosto de Deus e o verdadeiro rosto do homem. Ele pôs-nos em relação directa com Deus como pai e faz de nós filhos. Basta-nos fechar os olhos e pensar Nele e encontrá-lo-emos próximo de nós, que fala connosco pelo seu Espírito que está em nós e nos conduz de novo à santidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário