Não nos iludamos. “Não se entra na
Igreja para “cobrir”, com orações e práticas de devoção, comportamentos
contrários às exigências da justiça, da honestidade e da caridade com o
próximo”. Não podemos, tampouco, “substituir com “homenagens
religiosas” o que devemos ao próximo”. Disse isto o Papa Francisco na homilia
da Missa celebrada na paróquia romana de Todos os Santos, na Via Apia
Nova, por ocasião do quinquagésimo aniversário da missa que celebrou Paulo VI aos 7 de março de 1965 no mesmo lugar e, por primeira vez, segundo as novas normas litúrgicas pós-conciliares.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada pelo sítio Vatican Insider, 07-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
O Papa Bergoglio
comentou o Evangelho do dia, com Jesus que expulsa os mercadores do
Templo. “Ele derruba os bancos e joga no chão o dinheiro, expulsa os
mercadores e lhes diz: “Não façam da casa do meu Pai um mercado!“. Esta
expressão – explicou Francisco – não se refere somente aos negócios que
se praticavam no pátio do Templo. Tem a ver principalmente com certo
tipo de religiosidade. O gesto de Jesus é um gesto de “limpeza”, de
purificação, e a atitude que ele denuncia pode ser encontrada nos textos
proféticos, segundo os quais a Deus não agrada um culto exterior feito
de sacrifícios materiais e baseado no interesse pessoal. É a chamada ao
culto autêntico, à correspondência entre liturgia e vida, uma chamada
que vale para qualquer época e também para nós hoje”.
O Papa recordou depois que a constituição conciliar “Sacrosanctm Concilium”
definiu a liturgia como “a primeira e indispensável fonte na qual os
fiéis podem encontrar o verdadeiro espírito cristão”. Isto significa,
sublinhou, “reafirmar o vínculo essencial que une a vida do discípulo de
Jesus e o culto litúrgico. Não é uma doutrina que deve ser cumprida ou
um rito que se deve seguir (também é isto, naturalmente), mas é
essencialmente uma fonte de vida e de luz para nosso caminho de fé”.
Por isso, continuou Francisco,
“a Igreja nos chama a ter e promover uma vida litúrgica autêntica, para
que possa haver sintonia entre o que a liturgia celebra e o que nós
vivemos em nossa existência”, expressando “na vida tudo o que temos
recebido mediante a fé”. O discípulo de Jesus “não vai à Igreja para
observar um preceito, para sentir-se bem com um Deus que logo não tem
que “molestar” demasiado; vai à Igreja para encontrar o Senhor e
encontrar em sua graça, que opera nos sacramentos, a força de pensar e
atuar segundo o Evangelho. Por isso não podemos pensar em entrar na casa
do Senhor e “cobrir”, com orações e práticas de devoção, comportamentos
contrários às exigências da justiça, da honestidade e da caridade com o
próximo. Não podemos substituir com “homenagens religiosas” o que
devemos ao próximo, postergando uma verdadeira conversão”.
Pelo contrário, explicou o Pontífice, é
preciso “cumprir um itinerário de conversão e penitência para retirar de
nossa vida as escórias do pecado, como fez Jesus ao limpar o templo dos
interesses mesquinhos. A Quaresma é o tempo favorável para tudo isto, é
o tempo da renovação interior, da remissão dos pecados, o tempo em que
somos chamados a voltar a descobrir o sacramento da penitência”.
No final, recordando que na mesma Igreja “o beato Paulo VI inaugurou, em certo sentido, a reforma da liturgia com a celebração da missa na língua que fala o povo”, Francisco expressou seu desejo de que esta circunstância “volte a acender em todos vocês o amor pela casa de Deus”.
No final da missa, o Papa saudou os sacerdotes da paróquia, encomendada desde sua fundação aos seguidores de dom Orione. O Papa
saudou os fiéis que não encontraram lugar na igreja. “Espero que esta
paróquia siga sendo um modelo para as celebrações litúrgicas. Gostaria
que o canto fosse mais forte. Só escutava o coro”, disse ele à pequena
multidão que se reuniu no pátio. “Foi um gesto valente da Igreja
aproximar-se do povo com a reforma litúrgica. Não se pode retroceder. Os
que retrocedem se equivocam.” Com estas palavras, o Papa Francisco explicou o sentido de sua visita à paróquia romana de Todos os Santos, onde Paulo VI celebrou há 50 anos a primeira missa em italiano com o novo rito.
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