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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Cristo, o Rei do Universo


In IHU




Cristo, o Rei do Universo que festejamos hoje, nos é apresentado como um rei que se identifica com os seus governados. Só que não a quaisquer governados, mas sim aos famintos, aos sedentos, aos forasteiros, aos indigentes, aos doentes, aos prisioneiros... Não pede honra alguma, apenas solicitude, que é manifestação do amor.

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras da Festa de Jesus Cristo, Rei do Universo (23 de novembro de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.

Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Rei e pastor de Israel, Deus julgará seu povo (Ezequiel 34,11-12.15-17)
Salmo: Sl 22(23) - R/ O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma.
2ª leitura: A realeza universal do Filho (1Coríntios 15,20-26.28)
Evangelho: A vinda do Filho do homem, pastor, rei e juiz do universo (Mateus 25,31-46)
Rei, mas não como os outros

O Rei é quem detém o poder de decisão. Na Antiguidade, juntavam-se nele o legislativo e o executivo. O tema da Realeza divina significa que não há no Universo poder algum que seja superior ao poder de Deus. Está bem. Mas a Bíblia, em sua narrativa inicial, mostra o criador submetendo ao homem o universo inteiro: «Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai, etc.» Deus, portanto, se desapega do seu poder em favor do homem.

 O problema é que o homem vai se encontrar frente a muitas forças que o superam, a começar pelas que provocam os fenômenos naturais. Vai ser preciso aprender a dominá-los, desarmá-los, utilizá-los… Não chegamos ainda ao final das nossas penas! 

 No fundo, afirmar que Deus é o rei de toda a criação equivale a dizer que não fomos dominados pela cegueira nem pela irracionalidade. Um passo a mais e podemos dizer que o amor é o fundamento e o «soberano» de todas as coisas, apesar das aparências em contrário e da nossa ignorância do que significa a palavra «amor» quando queremos lhe dar o seu sentido mais pleno. 

Sempre que falamos do Cristo Rei, queremos significar que o mistério profundo da realeza divina encontra-se revelado nele, mesmo se não temos terminado - e é necessário fazê-lo - de decifrar esta revelação.

O Cristo Rei

Cristo Rei é um pleonasmo, porque «Cristo» significa «O que recebeu a unção». Esta unção é aquela feita com óleo com o qual os reis eram sagrados (ver 1 Samuel 10 e 2 Samuel 2). A isto corresponde o epíteto «filho de Davi» tão utilizado por Jesus. Deixemos de lado o fato de que, à época em que mais se falou em Cristo Rei, este não era um discurso inocente da parte de pessoas da Igreja, ou desprovido de intenções políticas, num momento em que a maior parte dos Estados libertava-se de um poder clerical que mal distinguia Deus de César

Este tema do Cristo Rei é rico de muitos outros valores. Podemos nos perguntar em primeiro lugar sobre o que ou sobre quem o Cristo reina, sobre quem ele exerce o poder. 

A este respeito, Paulo fala muitas vezes em «potestades, tronos, dominações, principados». A lista é resumida na leitura de hoje pela fórmula «todo principado e todo poder e força». Esta linguagem um tanto mítica, simbólica, pode significar tudo o que é veiculado «nos ares dos tempos», tudo o que pesa sobre a liberdade dos homens em virtude das modas correntes, das ideologias reinantes, dos preconceitos. 

É assim com o mito da liberdade absoluta, com todos os «é proibido proibir» em matéria, por exemplo, de sexualidade ou da busca de lucro (e tanto pior para as vítimas), com a submissão às primeiras impressões, aos instintos imediatos, às cobiças não criticadas. Cristo toma o poder sobre todas estas «potências dos ares» (Efésios 6,12).

O Reino «já, mas ainda não»

Uma evidência: o reino do Cristo não se bate contra a natureza nem contra os homens, mas contra tudo o que nos aliena. Nós, com certeza, o reconhecemos como tendo poder sobre nós, mas este poder só é exercido se o atribuímos a ele, o que só se pode dar em confiança absoluta. Foi na Cruz que o Cristo assumiu o poder, superando tudo aquilo: a maldade, o ódio, o desejo de dominar, a recusa do amor. Coisas todas que conduzem ao assassinato. 

Este assassinato foi assumido pelo Cristo e, por aí, ele se fez mestre. Os evangelhos não cessam de repetir que Jesus não quis assumir o poder sobre nós: a sua maneira de tornar-se Senhor foi tornar-se servidor. Ao fazê-lo, põe-se acima de todo desejo de «senhorio», de toda obsessão por dominar. Só vai dominar a paisagem deixando-se levantar, ser exaltado, na Cruz, mas então atrai todos, homens e mulheres, para si (João 3,14 e 12,32).

O segredo desta tomada de poder é evidentemente o amor, que é a substância mesma de Deus. Tudo o que nos faz mal, tudo o que nos derrota, inclusive «o inimigo último, a morte» que recapitula tudo o que nos agride, atribuindo-lhe o sentido, tudo isto é, pois, superado pelo Cristo e no Cristo. Cabe a nós fazer nossa esta vitória. 

Por isso é que podemos dizer que o Reino do Cristo, o Reino de Deus, já veio e, também, que permanece por vir. De fato, ele já está aqui desde que o amor reúne homens e mulheres em unidade, figura da unidade divina.

1 comentário:

Maria-Portugal disse...

Um Reino que nada tem a ver com as pompas,poderes e glórias dos reis do mundo!!