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sábado, 30 de agosto de 2014

Se alguém me quer seguir...


In IHU




Logo em seu primeiro anúncio da Paixão, Jesus diz claramente, aos que estão a segui-lo, ser preciso tomar o mesmo caminho que ele: o da renúncia e da cruz.

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 22º Domingo do Tempo Comum (Domingo, 31 de Agosto de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1a leitura: Jeremias 20,7-9
2a leitura: Romanos 12,1-2
Evangelho: Mateus 16,21-27
Recusa à violência

Mal os discípulos reconhecem na voz de Pedro a identidade do Cristo,ele lhes vem anunciar o que irá acontecer em Jerusalém. Através destes acontecimentos, os homens irão descobrir Deus tal qual Ele é e irão saber o que significa ser «o Cristo, o Filho do Deus vivo".

De fato, o que nos ensina a última verdade sobre Deus, sobre o Cristo e sobre o homem é o dom que Jesus nos faz de si mesmo. Por que se desencadeia contra ele tanta violência? Porque veio nos dizer que só podemos ser homens de verdade se fundamos a nossa vida unicamente no amor. Não no poder, na reputação ou na posse de bens que, conforme acreditamos, são apenas demonstrações do nosso potencial e do nosso valor. Resumindo, trata-se de deixar de adorar todos estes ídolos provedores da violência. 

Nem mesmo os discípulos estão ao abrigo destas vertigens: imaginam que Jesus irá tomar o poder. Mesmo depois da Ressurreição, perguntam ao Cristo se agora restabeleceria a Realeza em favor de Israel (At 1,6). Ainda não haviam compreendido que todo o nosso valor, o nosso único valor, reside em nossa escolha de ajudar os outros homens a viver. E a recusa de dominar, que equivale à recusa da violência, faz desencadear a violência dos violentos. O que provoca a derrota da violência? É que o Cristo aceita sofrê-la, sem esposá-la, sem compactuar com ela.
Teria entrado no jogo da violência, se tivesse aceitado que Pedro se servisse da espada para defendê-lo (Jo 18,10).


A morte da morte

Responder com violência à violência é duplicá-la. Se Cristo tivesse entrado neste jogo, tê-la-ia, neste mesmo ato, divinizado. Mas não poderia simplesmente ter escapado dela? É exatamente o que Pedro diz, ao ouvir Jesus anunciar a sua morte: «Que isso nunca te aconteça!» «Não a ti»: só aos outros, então? Se Jesus tivesse se esquivado, subtraído aos nossos dramas, o nosso problema não teria sido resolvido. Através dele, Deus entra neste nosso mundo de violência. Será que simplesmente para contemplar o nosso mal e se retirar?

Sendo Amor, poderia nos deixar sozinhos, carrascos e vítimas? Desaparece aqui a imagem do Deus vingador tão frequente na Bíblia, à espera da resposta final dada pelo Cristo crucificado.
A partir daí, podemos compreender melhor por que o Novo Testamento afirma tantas vezes que seria preciso Jesus passar pela Cruz. Aqui se desmente o valor fabricado da violência e se manifesta o caráter divino do amor. Mas disto não se perdoará nem a Jesus nem a quantos se reclamam como seus seguidores: a crucifixão irá se reproduzir de geração em geração. Mas em vão, porque não se pode matar Deus e nem os que, aceitando a Lei do Amor, se fazem um só com Ele. A Ressurreição revela que a violência é, em definitivo, a perdedora. Como diz Paulo em 1Cor 15,54: a morte pereceu em sua vitória.




A aventura de Pedro, nossa aventura.

No versículo 17 do evangelho, não é enquanto filho de Jonas, segundo «a carne e o sangue», que Simão reconheceu em Jesus o Filho de Deus: não foi com os seus olhos humanos, mas com a visão divina. No versículo 23, tudo mudou: ele agora voltou a ser o filho de Jonas e se pôs atravessado no caminho de Jesus, como um «Satanás», um adversário que veio barrar-lhe o caminho. Jesus lhe ordena deixar esta posição de obstáculo, deixar de se comportar como pedra de tropeço no caminho para Jerusalém. Em vez de se manter à frente de Jesus, deve ir para trás dele e segui-lo. A dureza da reprimenda faz pensar que Simão se fez aqui um cúmplice da tentação maior de Jesus: escapar do «cálice» que lhe será dado a beber (Mt 26,39). 

A «vida pública» de Jesus está como que enquadrada pelas tentações de um messianismo de poder e de glória do capítulo 4 (a tentação no deserto) à oração em Getsêmani. A intervenção de Pedro situa-se, de alguma forma, no meio do caminho e profetiza o seu comportamento no decurso da Paixão. Estes textos devem ser lidos em paralelo. E também nós estamos implicados neles: não é só Simão que deve ir para trás de Jesus, para segui-lo na estrada que vai se abrir. 

Quem quiser se beneficiar do que Jesus traz deve também tomar a sua cruz, tomar as cruzes que a vida lhe impõe. Falando de outra maneira, em vez de nos revoltarmos, devemos aceitar a condição humana e comportarmo-nos, portanto, como Jesus se comportou. É uma questão de vida ou de morte: quem quer economizar a própria vida perde-la-á e quem aceita perdê-la por causa do Cristo estará salvando-a. Mas as falhas de Pedro nos devem tranquilizar. Não faremos melhor que ele, mas, assim como a ele, o Cristo virá nos encontrar.

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