*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

terça-feira, 15 de abril de 2014

Madrugadas da Ressurreição...!



Mergulhando ainda neste último texto do retiro, veio-me à memória esta partilha, já antiga, que procurava também fazer essa caminho onde o tema do retiro de hoje nos leva….! Se me permitem partilho-o aqui tb.

Numa destas manhãs, ao olhar-me ao espelho, ainda com os olhos semi-abertos de sono, tentava descortinar o rosto que se escondia por detrás do sopro da minha respiração que se colava naquela superfície de cor de prata, como as águas de um lago onde tantas vezes vi reflectidas nas caminhadas do tempo, as outras faces de uma vida repleta de recordações…!

Resistindo… como que temeroso, passei o dedo naquela superfície húmida enquanto tentava descortinar por entre os rasgos que provocava como um pincel naquela tela de vidro, o rosto que me vestia a existência nessa madrugada…!

E ali fiquei… algum tempo, absorto… paralisado e silencioso, nesse diálogo interior que tantas vezes entabulamos com o outro, esse Eu que nos habita e não se quer deixar ver, escondendo-se atrás desses mil e tantos rostos que levamos e que todos os espelhos dos encontros da vida se encarregam de nos desnudar-reflectir… sacudindo-nos as incertezas que nos vasculham o coração e nos fazem partir para as fugas… esse caminho fácil que todos já conhecemos e fizemos um dia… quantas tentativas… como quem tenta partir esse espelho para que nunca mais volte a encontrar o seu rosto ali reflectido…!

Dizem que os espelhos deformam a realidade daquele(a) que ali se expõe ao seu olhar…! Não sei… mas uma coisa sei… que olhar os olhos dos outros é cada vez mais difícil e raro nos dias de hoje… outra coisa também sei… que olharmo-nos nos nossos próprios olhos ainda é mais difícil… para muitos que conheci, essa experiência tornava-se até como uma tortura…!

“A lâmpada do corpo são os olhos; se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado. Se, porém, os teus olhos estiverem doentes, todo o teu corpo andará em trevas…” (Mt 6,22-23)

No olhar de cada um de nós existe sempre outro OLHAR… aquele que vê-discerne primeiro… aquele que nos faz ver a vida, a real… mesmo que a neguemos com as nossas eternas fugas da realidade… aquele que nos interpela e desassossega a alma…!

E quem é que não gosta de apresentar-se ao mundo com um rosto limpo e lavado…!

… enquanto passava a lâmina de barbear pelo meu rosto, a cada passagem da lâmina, sentia como se fosse um arado que revolvia a terra da minha existência, golpeando cada poro da pele, como faz o médico que tenta extrair as impurezas que se alojaram no corte de um golpe… fazendo-o sangrar com força… expurgando com violência até à dor… como faz também a lâmina na sua passagem pelas nossas faces da existência, arrancando as raízes dessa barba como se fossem ervas daninhas...!

Assim são os nossos dias… assim são as nossas madrugadas de Ressurreição que nos despertam a cada dia da Graça…!

… o problema não está em encontrarmos-vermos finalmente o nosso verdadeiro rosto… o problema é não aceitarmos como somos… o que somos… e então aí sim… deixar que a “lâmina” da Misericórdia Divina vá extraindo e cortando a raiz do mal que existe em nós, até ao mais profundo de nós mesmos… como o dono da vinha que poda “sem dó nem piedade”, mesmo aqueles ramos que “parecem” sãos… para que na altura da vindima, os cachos sejam fortes e suculentos de vida…!

“«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (João 15,1-5).

2 comentários:

um irmão. disse...

.. naqueles dias quando escrevi... já não recordo os sentimentos que me invadiram... mas hoje bateu-me com alguma dureza este pedaço escrito de mim...

Nele que é a nossa Páscoa...

Maria-Portugal disse...

sempre caminhando às apalpadelas...com o fiozinho de Luz q o véu semi aberto deixa entrever...e sempre bom lermos e falarmos sobre o que nos vai acontecendo neste bom combate q levamos até aos dias sem ocaso!