Matando, a ovelha muda
«foi contado entre os criminosos»
Livro de Isaías, Cap 53, vers 12
Obediente à vida até na morte.
Contemplamos a carne da nossa carne, Jesus, esmagado num presente
eterno. Os seus pés estão entrevados para o impedir de pisar a terra dos
homens. As suas mãos estão pregadas para o impedir de tocar os infelizes. A sua
fronte está cravada de espinhos para barrar os abraços, afastar a consolação. O
seu lado está dilacerado para que nenhum discípulo possa ali repousar. Carrascos,
guardas, fariseus, transeuntes rodeiam Jesus e pressionam-no. Em verdade, todos
aqueles são estranhos para ele e distantes de tudo o que se passa. Mas são familiares
da mentira, curiosos da humilhação e ávidos da condenação.
Enquanto que os próximos olham de longe, pois não podem
enfrentar o horror. O pavor mantem-nos à distância. Mais tarde, ao pé da cruz,
apenas algumas mulheres, com um discípulo, e no entanto, todo o amor do munto
estará ali. Nesta narrativa, alguns são assinalados pelo nome, como Maria de Cléofas
e Maria Madalena. Outros são designados de outra forma, como o discípulo amado
que é anónimo, Assim tanto podes ser tu ou ser eu. Os dois ladrões, malfeitores,
não têm igualmente nome. Pode ser eu ou tu. Um pressente Deus e pede tudo, o
outro contenta-se em querer salvar a sua pele. O centurião, também ele não tem
nome. Ele é o mais estrangeiro nesse grupo pela sua cidadania romana, por ser
militar, pela sua missão de ocupante. Ele, o pagão, ele vê Deus, dá graças e
testemunha. Ele pode ser tu ou eu.
Para se fazer obediente até á morte como Cristo, não se trata de se submeter
seja a quem for, sobretudo à morte; mas aceitar os necessitados, ceder aos
acontecimentos, acolher o que acontece, ajustar-se à vida até tocar as margens.
A Sexta-feira Santa deve de ser para nós um dia feliz porque na Cruz está o
nosso triunfo, o nosso estandarte, a nossa bênção. Nela está a verdade de um dom,
a prova de uma paixão eterna para a humanidade. Nela está a manifestação de um
amor de sempre por cada um de nós.
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