Fustigavam-lhe forte o rosto que
se erguia ao céu como que em desafio aquelas rajadas de vento que sacudiam o calor
sufocante daquele verão ardente que queimava tudo na sua passagem pela vida, enquanto
pairava no ar um odor a terra queimada que se negava a partir como se estivesse
a mendigar um espaço onde pudesse repousar dessa corrida a que o empurrava o
sopro das ventanias que chegavam das serras que ainda fumegavam de morte pelos
fogos que as iam devorando lentamente na sua passagem pelas serranias
carregadas de tons cinzentos pincelados por aqueles traços inertes de
esqueletos de árvores que ainda fumegavam inertes e feridas de morte …!
Havia perdido a noção dos passos
e do tempo já percorrido… apenas caminhava sem saber para onde… como… já não
era ele que caminhava mas apenas a vontade que o empurrava a prosseguir em
frente sem querer saber das lágrimas que lhe continham a raiva misturada no espanto
que o fizera partir daquela terra que tanto amara e onde gastara tantos anos da
sua vida e que agora envelhecera rapidamente atacada pela enfermidade do desespero
e do desânimo…
… tudo perdido… somente ruínas… e
bastara apenas um dia para extinguir-se uma vida de anos … ali mesmo à sua
frente… queimar-se como um cigarro que se esvai no fim da pirisca que se agarra
desesperada na boca que busca ainda sugar os últimos tragos de fumo de tabaco
que corrói as entranhas no engano do prazer…!
Muitos anos haviam já passado pelos seus caminhos
desde aquele dia que lhe testemunhara aquelas lágrimas de desespero… e ali
estava ele novamente, caminhando por aqueles lugares… as saudades dilaceravam-lhe a alma enquanto apanhava do
solo um punhado daquela terra ainda negra misturada nos tons acastanhados que um
dia haviam alimentado a sua vida e os seus sonhos…
Nas bermas do caminho rodeado de destroços calcinados das árvores que haviam partilhado com ele a existência surgiam pequenos rebentos de um verde a fervilhar de vidas que agora lhe espreitavam o olhar como que a querer invadir-lhe o coração… e ele… perplexo, deixou-se novamente sonhar enquanto regava com as suas lágrimas abundantes aqueles pequenos rebentos que o acolhiam novamente …!
Quem tem ouvidos que oiça… quem tem olhos que veja… quem tem coração que reescreva nele esta nova parábola de tantas terras queimadas no coração de muitos filhos pródigos modernos que habitam por essas serranias do mundo onde mãos incendiárias e sem compaixão vão ateando os fogos que calcinam a esperança que ali existe…!
A Esperança é como esses rebentos… ela nunca morre... um dia voltará a renascer no coração de todos aqueles que acreditam, mesmo apesar de terem perdido tudo... eles sabem que ainda não perderam a sua alma e isso lhes basta…!
“De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mc 8,36)

1 comentário:
Deixo aqui também uma homenagem a todos os que perderam as suas vidas, os seus haveres e também a todos os que se dedicam a combater estas tragédias que todos os anos nos batem à porta. Que o Senhor tenha misericórdia…
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