“ Se o grão de trigo caído em terra não morrer,ficará só;mas se morrer,dará muito fruto.O que ama a sua vida perde-a. “
Evangelho de Jesus Cristo segundo São João,capítulo 12, versículo 24-25
A meditação
E aqui está como Deus ainda exige mais qualquer coisa de mim.
A minha primeira reacção ao ler estas duas linhas é:”mas que impertinência!. Como posso não amar a minha própria vida? Podemos aplicar estas palavras aos monges da Idade-Média que estavam enclausurados, que jejuavam,que se flagelavam e não viviam esta vida,mas que esperavam a vida eterna
Mas eu que sou um filho de uma época centrada no amor a si próprio, de uma época em que aproveitamos da alegria e dos recursos da vida ao máximo,duma época em que o individualidade da pessoa é um bem essencial,deuma época em que a minha opinião é intocável,como poderei compreender este texto num tal contexto ? Ora bem, é uma idéia absurda.
Se alguém me disser hoje que em vez de amar e de aproveitar a vida prefere afastar-se do mundo,vou olhá-lo de lado.
Logo que penso no meu próprio caminho, sinto-me mal por dizer se comecei por procurar Deus ou por me procurar a mim mesmo.Talvez fosse Deus que começasse por me procurar...Pouco a pouco,descobri a força que, segundo espero, Deus colocou em mim. Comecei a tira-la. Depois descobri que não podia seguir o ritmo. Era muito para mim. Tinha necessidade de fazer escolhas e de tomar decisões, que nem sempre são fáceis e mesmo, por vezes, muito difíceis e dolorosas. Então, pensei que fazer uma escolha e ficar-lhe fiel, estava aí o afastamento de que fala Jesus.
Fui mais mais longe e precipitei-me sobre sobre os meus defeitos.Comecei a sentir que podem matar-me , não para a vida eterna, mas ao ferirem-me aqui em baixo.Então aprendi a proteger-me pela oração, pelo trabalho com os meus sentimentos, nas minhas relações. Fiquei fascinado pela capacidade humana em esquecer. O caminho espiritual pede perseverança e aprendi a forçar-me para não abandonar o que tinha começado. Por vezes quiz recolher os frutos logo de seguida. Mas fui obrigado a esperar muito tempo pelos resultados. Por vezes parecia-me já estar à vontade com uma certa virtude.Mas ao ser provado, descobria que não era o caso. O grão de trigo que se semeia tem necessidade das estações para germinar e crescer, antes de produzir uma espiga madura ; e a caminhada espiritual, ela também, leva tempo.
Então pensei que fazer este caminho e permanecer fiel nele, é a lição que nos dá Jesus ao mostrar-nos a imagem do grão de trigo.
Mais tarde, comecei a compreender que o sentido da vida se encontrava nas relações. Até aí, parecia-me que os outros violavam os meus interesses, impediam-me de ser eu-mesmo e que me impunham a sua vontade.
Mas hoje a mensagem que encontro neste texto, no contexto da minha vida, do meu próprio percurso com Deus está mesmo na importância das relações. É justamente nesse terreno das relações que posso continuar as minhas duas pesquisas essenciais: a de um Deus que que dá à minha vida o seu sentido, a sua dimensão sagrada, e aquela da minha única, insubstituível, viver esta vida que Ele me dá.,Torna-se então difícil distinguir as relações com Ele das relações com o meu próximo, porque estas relações formam um mesmo caminho: um caminho de santidade.


2 comentários:
A concretização do amor a Deus no amor ao próximo. Indissociáveis.
Tem sido tema entre nós se os nossos monges concretizam. tenho pensado nisso e hoje na Eucaristia em que participei no Centro de saúde tive a certeza de que viver em oração pelos outros é uma das formas de concretizar. Quando há dias pedi a um Romeiro que me encomendasse ao Encomendador das almas da Romaria em que iria participar durante esta semana também pensei no valor da Romaria para além da penitência, da caminhada dura debaixo de sol e chuva...A Romaria é também e talvez essencialmente oração pelos próprios, pelo mundo pelos que se encomendam. É concretização do Amor...
É mesmo:"Viver em oração" em contacto permanente com Quem nos fez ,nos ama e é nosso destino último.
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