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“… a prova de que é o percurso de vida, mais do que as palavras, que nos ajudam a reconhecer como certo o caminho de quem peregrina.” Lila
“… a prova de que é o percurso de vida, mais do que as palavras, que nos ajudam a reconhecer como certo o caminho de quem peregrina.” Lila
… bastava-nos “percorrer” o caminho de um Nicodemos ou de um Job ou até mais recentemente de uma Madre Teresa entre muitos outros para compreender que não são os “percursos” que fazem-constroem ou confirmam VIDAS mas sim as decisões que se tomam e que fazem os percursos serem-existirem!
E digo isto, porque o caminho-percurso de vida já feito ou ainda por fazer por eles e por qualquer um de nós, está dependente, e foi ou é sempre fruto de uma DECISÃO ou decisões… e sejam elas quais forem, essas decisões percorrem dois caminhos: o do espírito ou o do instinto… mas essa é outra questão que não importa agora, situemo-nos aqui e agora apenas no caminho espiritual…!
Por exemplo, olhemos para Madre Teresa… agora que estão a “vasculhar” toda a sua escrita, acabam por “descobrir” a sua também “noite obscura” durante os seus últimos anos de vida…! (como se isso fosse incompreensível e inevitável de quem faz o CAMINHO…! Só quem não conhece um S. João da Cruz e outros e quem não fez um percurso espiritual pode ficar surpreso…!).
Agora imaginem se os que eram seus superiores hierárquicos tivessem conhecimento desses escritos antes… qual o rumo e as considerações que teceriam à volta dessa bela e santa mulher de Deus…! Qual seria a análise e as decisões tomadas em função desse seu percurso se ele se passasse nos dias de hoje com qualquer um de nós que vivesse numa comunidade… ou até “servisse” num qualquer ministério na Igreja como leigo… ?!
Como aconteceu com Job, Nicodemos, Madre Teresa e outros… foram as suas decisões pessoais (fruto de uma relação que depende apenas de certezas cheias de incertezas constantes de quem vive por e só de Deus..) que os libertaram e nos libertam ainda hoje de existências que vão minando e cansando-nos a alma nessa eterna corrida por entre os “percursos” que muitos de fora, às vezes até os melhores amigos ou irmãos na fé… que cheios até de amor genuíno, nos “empurram-convidam-encorajam” a fazer… a percorrer… sem se darem conta que, como Teresa de Calcutá e outros, o que eles precisam é de decidir em e pela liberdade de espírito que não está “cativa” de qualquer caminho humano…!
Madre Teresa teve que resistir para a deixarem partir da ordem a que pertencia não foi… e olhem que não foi decisão aceite de um dia para o outro… e já nem falo de outros e do que sofreram pelas decisões que os fizeram alterar o percurso de vida…!
Dir-me-ão que mesmo no meio das sombras da sua noite da fé, Madre Teresa, ainda assim continuou firme… sem se “desviar” do caminho… Sim, mas a que preço… como estaria ela interiormente… e não esquecer que o único caminho que lhe importava, por vezes até contra a sua própria Igreja eram os mais pobres dos pobres, os que todos nós ainda deixamos morrer sozinhos nas nossas ruas da vida… ainda hoje… agora mesmo… se nunca pensastes nisso, a Calcutá está à tua e à minha porta também…!
Os caminhos da vida da Fé já nos ensinaram muita coisa… e uma delas, é que, mesmo que existam “resultados” durante esses percursos… eles não podem afirmar-confirmar absolutamente nada como “seguro espiritualmente”, porque eles são sempre AFERIDOS pelo olhar humano…!
Perguntarão: Como podemos então ter alguma certeza que tal “percurso” é prova fiel de que estamos no caminho certo?
E quem pode ter alguma certeza disso…?!!! Olhem Madre Teresa… dolorosamente inquieta até ao ponto de duvidar de tudo… até da própria Fé… e um S. Juan da Cruz… e no entanto, exteriormente são para nós percursos sólidos e firmes…!
Pobre, incerta e fragilizada gente de Deus…! Eles sabiam sim… ó como sabiam… que por mais que desviemos o olhar, a verdade é que só “conta-vale” AQUILO que Deus vê no interior… nem os melhores “percursos” sociais, culturais ou até espirituais, mesmo até aqueles que sentimos tão cheias de amor e do ES, mesmo esses escapam ao “filtro” do Olhar divino…! Não há “templo” humano que resista a esse olhar..!
O “problema” é que continuamos a viver, a experimentar e a repetir hoje a metáfora do TEMPLO…!
Naqueles dias, aquele “templo exterior” significava ao olhar dos sacerdotes tudo aquilo que acolhemos como sólido, seguro e habitável-válido à razão humana! Sim, certamente esse templo era forte, imponente, seguro, firme, tranquilizador… comparado ao “templo interior”, que ao olhar humano vinha carregado de fragilidades, mortes, pobrezas, quedas, inseguranças como o descreveu-viveu Jesus na sua humanidade completa…!
Mas digam-me, quantos “dias” o Mestre lhe “deu de vida” ao templo exterior…? Os do “Templo” julgavam ter nele completado a obra perfeita e sólida… e afinal, quantos dias Jesus lhe concedeu… e dias ao contrário do que muitos pensamos, não significam aqui temporalidades, mas certezas-seguranças-valores!
O Templo Interior não se vê com o olhar humano, mas com o olhar espiritual, e esse CONCEITO-VIDA do “templo” jamais poderia ser ou será aceite-acolhido por quem tem as suas seguranças postas nas coisas do mundo, as reconhecidas como válidas, as que ao olhar humano são sólidas… as que “asseguram” o futuro…!
Compreendo, para aqueles que o frequentavam e tinham nele (o templo) o “suporte” seguro e certo para o seu “percurso de fé”, era insuportável acolher a fragilidade e a incerteza de tudo…
Hoje é isso que nos é insuportável… porque o EERNO, ainda que todos o desejemos, tornou-se insuportável… Porque nele, percebemos de que nada do que somos, do que temos ou do percurso que fazemos “vale” a não ser no espírito constante da MORTE em nós…!
Por isso Nicodemos preferiu esconder-se… e esse esconder-se é viver o mesmo do MESMO… que privilegia mais o mundo que nos torna cativos de coisas e valores inúteis… não que o sejam no imediato, eles até nos podem proporcionar uma vida de bem-estar e de aceitação social e conforto intelectual no momento ou durante a nossa vida aqui…mas… “… de que nos vale ganhar o mundo e perder a vida…”…!
Tem razão… as palavras estão a mais na vida que pede para ser apenas vivida, por isso a necessidade de silêncio e de recolhimento… Vir aqui pediu de mim o deixar-me acolher… mesmo nas minhas pobrezas… mas é assim como sou que Ele me ama… e isso não está “programado” num qualquer “percurso”… ele não me dá garantias nenhumas… nem sequer que estou a fazer o caminho certo… pobre de mim… quanta solidão nos traz essa “noite obscura da fé”… e ainda mais dura se torna quando estamos fragilizados pelas nossas quedas constantes fruto do tactear no VAZIO das nossas “in-certezas” de peregrinos da fé, que nos mantém afastados daquilo que mais desejamos que é sentir Deus por perto… poder ao menos tocar o Seu rosto uma vez na vida…!
… a única CERTEZA que tenho é que Jesus nos ama… não pelo que fazemos-percorremos ou pelo que somos, mas porque Ele nos AMA e por isso nos procura diariamente…
… e esse percurso de vida que nos leva ao ENCONTRO não está sujeito a um espaço geográfico ou físico, a uma doutrina ou a um ritual, mas apenas a um coração aberto… a SALVAÇÃO dá-se e acontece dentro de cada um de nós, é aí que acontece o TEMPLO, onde Jesus quer habitar… fazer caminho com cada um de nós, ainda que ele aconteça numa noite longa e escura da Fé…!
“O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós.” (Act. 17,24-27).
(peço perdão pelo texto longo mas não tinha outra forma!)
vp
3 comentários:
ao ler o comentário da Irmã Lila ao Aniversário da Ana, senti que deveria escrever, sem presunções ou sequer a certeza que o que escrevi é certo, amas fi-lo na mesma, o que importa é abrir espaços de diálogo... peço perdão pela largura dele n tive outra forma de sintetizá-lo...
...hoje pude vir aqui graças a Deus e a alguns corações que o pai sabe... por isso aproveito também para renovar o desejo de um santo Natal para todos...
...que o ano que chega venha cheio de misericórdia e luz no meio deste mundo de dores e trevas... e também de muitas luzes que alguns corações vão erguendo nos seus gestos de amor... nem tudo é noite...
Que Ele nos guarde a todos nos eu Coração...
Tacteando...sim...o véu que se rasgou no templo ainda treme nos nossos corações...só uma pontinha se levanta e muito pouco e poucas vezes...
Vivamos da confiança debaixo da Asa da Misericórdia!
Pois, Irmão, a minha frase baseia-se no pressuposto de que certos percursos de vida assentam exactamente numa decisão consciente e não num ímpeto de ocasião.
Foi por decisão consciente que João da Cruz, Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá e outros seguiram os caminhos que conhecemos. E o terem passado por períodos de “noite obscura” não apagou as decisões tomadas, antes os fortaleceu nelas. A dúvida, o silêncio de Deus, a amargura inquietante, puseram-nos à prova, mas continuaram, apesar de tudo, fiéis: os seus caminhos prosseguiram na direcção da decisão tomada e, se interiormente vacilavam, porque a natureza da humanidade é frágil, a fidelidade ao projecto foi mais forte – o Espírito prevaleceu.
Naturalmente, os pais de Francisco e a congregação a que Madre Teresa pertencia, não entenderam o que se passava, porque lhes parecia “ímpeto de ocasião” o que na verdade era uma decisão madura. Mas é preciso estar já num plano bastante acima do dos mortais comuns para compreender decisões como estas. E é, por isso, precisa muita humildade para reflectir na facilidade com que fazemos julgamentos...
Mas acho que no essencial concordo totalmente consigo. Gostei muito do que escreveu e de todo o coração o acolho. Fiquei feliz por voltar a ler um texto seu. Posso não o compreender sempre, nem às suas decisões, na minha limitação pragmática, mas não duvido de que anda numa busca incessante do tal caminho certo. Peço ao Senhor que não esconda de si a Sua face.
Um abraço em Cristo. Lila
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