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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Silêncio dos bons











A citação de Luther King, de referência abaixo, deu-me azo a escrever para o "meu" Jornal o texto que aqui incluo, com a vossa condescendência.
Grato.
VS


“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”
(Luther King)


Este nosso Mundo, criado por Deus, está assente na Harmonia... Nada está desequilibrado, e toda a criação cumpre a sua missão, na mira de um sentido impresso desde origem.
Foi e é o homem que quebrou e continua a quebrar essa harmonia, esse equilíbrio. E este facto está simbolicamente relatado na tentação da serpente, no Génesis: "Sereis como deuses…". 

É nessa ânsia de se fechar em si próprio, de se tornar “deus” em e de si mesmo, que o homem atraiçoa a sua vocação existencial. Rompe o equilíbrio; desfaz a harmonia; autocondena-se ao niilismo egocêntrico. É esse o seu pecado - o "pecado original", que acompanha, na sua existência, esta pobre Humanidade.
Podia não ser assim?!...
Não pudesse ser assim, o homem não seria um ser livre, embora com uma vocação dimensionada ao Infinito.
Toda a restante criatura universal é determinada, mas o ser humano é "livre". Por isso, fazendo o que quer (conscientemente), arrasta também com os seus actos as consequências, sobre si próprio e sobre todo o meio natural e humano onde vive, em partilha de projectos e de realizações, para o bem e para o mal.
O homem é um ser social, e como tal é a alma do Mundo. Não existe por si mesmo e para si mesmo; é um ser relacional, incompleto, em aperfeiçoamento contínuo. Para se realizar tem de se projectar na direcção de um tu. Mas é precisamente nisso que está estruturada a sua dignidade: administrador do seu destino. E esta administração desenvolve-se numa permanente e progressiva descoberta: “Quem sou, donde vim, para onde vou (ou devo ir, e como)?
Contava-se na catequese às crianças, em maravilhoso e sugestivo diaporama, a história da “Bonequinha de sal”, que ajuda a dar resposta a estas interrogações. Saída do íntimo da montanha, esse pedacinho de sal-gema feito menina, resquício de uma época em que o mar cobria o solo agora seco, ansiava por encontrar o Mar, que lhe haviam revelado como a origem da sua existência. Deambulou de terra em terra à procura do mar... porque só aí encontraria a felicidade, a razão do seu viver. Perguntou aos rios, aos lagos, às fontes... “- És tu o mar?”, e toda a resposta negativa fazia crescer mais o seu sofrimento. Finalmente, atravessando montes e vales, chegou à vista deslumbrante do oceano. Que imensidão! Que beleza!... Já na praia, correndo pelo areal, lançou de novo a pergunta: “ - És tu o mar? “... e o mar respondeu: “Sim, sou eu o Mar!”. Era realmente ali o Mar. A bonequinha tinha encontrado a fonte original da sua vida. Estava feliz. Não precisava de mais nada. Caminhou até ao quebrar das ondas, e penetrou nas águas... Viu que os seus pezitos se diluíam nas águas do mar. Foi avançando, e à medida que entrava mais no mar, o seu corpo desaparecia nas águas, até que se integrou totalmente no oceano, sem perder, contudo, a sua individualidade. Mistério. Já vindo de um pouco longe, ouvia-se ainda, na praia, a voz da bonequinha de sal, emanando das águas do mar:
– Estou feliz. Reencontrei finalmente o Mar, donde nasci!
Também o homem é um viajante na História, um peregrino na sua própria vida. O horizonte de cada vida humana está sempre a dilatar-se, e a Humanidade, sempre em contínua evolução, progride em aperfeiçoamento, ao encontro da realização plena. Arrastamos connosco toda a Criação, desde a origem, desde o ponto Alfa, disparados para o ponto Ómega – o Cristo total, que S. Paulo definiu na sua fé doutrinal, e Teilhard de Chardin vislumbrou nas suas investigações científicas.
Se a boneca de sal não se abrisse, na sua ânsia, à imensidão da sua origem; se aquele bocadinho da criação do Mar, depositado nas entranhas da Terra, se fechasse egoisticamente dentro dos seus limites individuais, ter-se-ia fatalmente desfeito no niilismo, por não encontrar a razão do seu viver. Ora, como a bonequinha desta história, somos nós, humanos, seres contingentes, que só existimos em razão da Fonte da vida, e, por vocação, para ela tendemos, em liberdade de escolha, para nos realizarmos ou não.
É neste dualismo do ser e não ser, do claro e escuro, da luz e das sombras, do bem e do mal, dos bons e dos maus, que tem lugar a preocupação de Luther King: é mais pernicioso o silêncio dos bons, que o grito dos maus.
É na luz do Sol que ilumina a Terra, que todas as manhãs a escuridão da noite se dissipa. É na alegria que entusiasma as almas e nos dá razões de viver, que a tristeza opressora desaparece. É contra a coragem empreendedora e o exemplo frutificante dos “bons”, que se desfaz a arrogância gritante dos “maus”.
Mas quem são os bons e quem são os maus?...
Daria “pano para mangas” tentar encontrar, com exactidão, resposta a esta pergunta. Contudo, julgamos que tudo se poderia resumir, com lucidez bastante, à parábola evangélica do bom samaritano (Lc 10, 25-37). Ou, então, atender ao mandamento novo de Jesus de Nazaré: “… Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). De outro modo, continuando a ouvir o Salvador: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus.” (Mc 10, 17)
Poderíamos então concluir que, sendo o homem criado à imagem e semelhança de Deus, os “bons” são aqueles que na sua vida prática mais configuram o seu comportamento à vontade do Criador.
O drama deste mundo e desta nossa humanidade não é, de facto, que existam os maus, que exista o mal, mas que os “bons” fiquem calados e de braços caídos perante tanta necessidade de promover, proclamar e defender o Bem e a Verdade, para que o mundo se harmonize. E é aqui que se torna imperioso, também, o empenhamento pela Justiça, porque veículo e fundamento da Paz.
É isto que dá nobreza à Politica, e ajuda a compreender a tragédia que desaba sobre os povos quando nas cadeiras do poder se sentam os maus políticos, perante o silêncio complacente dos que poderiam fazer alguma coisa pelo bem comum.

8 comentários:

Anónimo disse...

Não podia ter sido mais clarividente nesta belissíma explicação.
Abraços fraternos
(Alma Rebelde)

Anónimo disse...

Olá, caríssima!
Em cima da hora!!!...
Saúde para vós.
Abraço aos dois.
VS

Anónimo disse...

“Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus.” (Mc 10, 17)

Tudo o mais... são apenas palavras que saem de corações que necessitam todos, mas todos sem excepção, da mesma misericórdia de Deus.... "não há um justo, nem um sequer" (Rm 3.4,10)

Continuamos a Viver-Alimentar muito o nosso caminho em função do caminho dos outros… bem ao estilo de Pedro: “Senhor, e que vai ser deste?» 22Jesus respondeu-lhe:…. que tens tu com isso? Tu, segue-me!”

Os homens e os créditos que ajuízam a pesarem eternamente nos juízos das balanças humanas… que Ele tenha compaixão de todos…
Santo fim-de-semana com Deus a todos...

vp disse...

referia-me ao episódio de Pedro em João 21,22.

vp disse...

o anónimo sou eu, moi Vp... desculpem os lapsos...

vp disse...

E amado Irmão VS... o drama deste mundo não é o silêncio nem o baixar dos braços do “bons”… antes fosse sim…

O drama… é a incapacidade de vermos que Deus enviou o seu Filho ao mundo para morrer por todos… quando percebermos de uma vez por todas essa verdade … então o nosso olhar se encherá e transbordará de compaixão por aqueles que nas suas fragilidades nos escandalizam tremendamente…

…. e sabe porque é que isso vai acontecendo… é que neles vemos o nosso próprio rosto ali reflectido cheio da humanidade barrenta que também somos…

Por isso as palavras do perdão em Jesus escrevendo … 70x7… sabe que o 7 significa o nº perfeito… e afinal quem é de entre nós perfeito…!

Que Deus habite e ampare os eu lar que sei ser já Dele há muito... abraços em Cristo...

vp disse...

falo assim porque experimento todos os dias o perdão e a misericórdia do Pai em mim...

e não é só do Pai... muitas vezes esse perdão e essa misericórdia chegam precisamente daqueles que nós cristãos, classificamos como os "maus" ... tenho sido purificado e ajudado no caminho ... precisamente por esses... nem imagina o quanto...

... ao longo da minha vida, a maior intolerância e impaciência com o meu pecado tem vindo precisamente dos meus irmãos na Fé...

Maria-Portugal disse...

Pois....temos ainda que distinguir os bons oficiais e os maus oficiais...pq frequentemente como Jesus nos ensinou os criterios baralham-se,atingidos que são pela quantas vezes falível consciência humana....