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Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. É isto que vos mando, que vos ameis uns aos outros".(Jo 15,16-17).
Nestes últimos anos, sobretudo nestes últimos dias, sinto cada vez mais a necessidade de ir separando o que é “essencial” do que é “acessório” na vida cristã, mesmo que para isso tenha que “recusar” um monte de coisas que já vivi no caminho espiritual…!
Confesso que escrever-partilhar desta forma não é nada fácil! Ainda assim, tento ser “cuidadoso”, sem fugir da firmeza que pede a “verdade-amor”… sei da fragilidade de muito caminho da Fé que me rodeia… no contacto com muitos cristãos vou percebendo como isso se torna doloroso, e até “perigoso”, sobretudo para aqueles que “dependem” dessas estruturas doutrinárias e actuares, como quem sente terrivelmente o medo de ficar sem nada!
E mesmo que seja um “nada”, muitos continuam a fechar os olhos à evidência do “desvio”, para que possam continuar na certeza que não viveram nem vivem no “erro”, e que aquilo em que sempre acreditaram, (porque lhe garantiram ser assim), que isso era a verdade (ainda que essas “verdades” venham carregadas por uma autoridade, quase sempre alicerçada em declarações elaboradas a partir de discussões humanas), a verdade, é que elas são tomadas como ponto de referência e bases de muitos aspectos da Fé que assim vai dar formas concretas que definem o agir e o crer de todos os que pertencem aos grupos que estão envolvidos nesses encontros, mesmo no paradoxo de quase sempre os que estão de fora desses encontros, não conhecerem as razões e os fundamentos que levaram a tais conclusões que dão forma a tais declarações!
E se vos soa escandaloso o que aqui vou dizer, sinto muito, mas nas maior parte das declarações que nós acolhemos e tomamos como base para a nossa Fé, ressoa ainda muito o eco e o sabor das outras declarações agora tão em voga no “EU DECLARO QUE” a fazer lembrar esses templos da prosperidade, onde tudo é feito a partir da declaração de homens, que num cinismo sem limites, tentam impor a Deus o seu próprio rumo e os seus próprios desejos que não passam por ser pura sede consumista e hedonista! Senão entenderam, abram a rádio nessas horas em que esses vendedores da banha da cobra religiosa tem os seus programas e logo entenderão do que estou a falar…
Paradoxo dos paradoxos, muitos entre nós, também continuam ainda a acolher e a obedecer, deixando-se guiar nas suas vidas, tomando precisamente como referência as conclusões que saem e nascem de declarações humanas!
Mas as estações nas nossas vidas espirituais as tempestades e as noites da vida espiritual que experimentamos, encarregam-se de ir purificando os nossos gestos e caminhos…. e de iluminar a nudez e a fragilidade tão humana de todas essas certezas que nos vendem os homens…!
Tudo isto está a acontecer e aconteceu já com os próprios Discípulos porque como eles, também não percebemos que não fomos nós que escolhemos e aceitamos Jesus! Foi Jesus que nos aceitou e escolheu.
Sim, é duro dizer, mas é a verdade… quantos não dissemos já, ou estamos convencidos que fomos nós que escolhemos e aceitamos Jesus, e por isso andamos para aí como quem tenta usar Jesus, ou convencer Jesus a agir conforme as nossas razões e carências… (afinal Jesus não nos deve por isso favores e obrigações…não é razoável essa cobrança!...), e por isso ficamos tantas vezes frustrados e revoltados quando não existem respostas… parece que Jesus ficou ingrato…!
Reparem a forma como nos relacionamos com Jesus… parece que andamos a “picar o ponto”… olhem as horas de oração oficiais, nas eucaristias encomendadas ou cronometradas com horários e programas bem definidos, (não vá esse tempo oferecido a Jesus “roubar-nos” a nossa agenda social)… Bom, e sei lá eu que mais, ele é um rol de autênticos disparates, acabando com tudo o que é lindo, sublime e santo no Encontro com o Pai…!
Passamos a ser os sócios fundadores do clube de Jesus que nos dá um cartão vitalício para a vida… Reparem como olhamos os que dizem que não aceitaram Jesus! Vejam e sintam… por isso ele são tantos a acordarem com esses sabores amargos que logo se levantam da cama com ganas de ir salvar o mundo desses ingratos e pagãos, e por isso nos embrulhamos na violência sem fim que consome e mata tantos inocentes…! Digam-me se as guerras mais fratricidas não são precisamente as de conteúdo religioso!
E aquilo que apenas Jesus nos chama a viver, é somente o Amor… mas não é aquele que cozinhamos na nossa sociedade, essa coisa enfeitada a que chamamos de amor, que todos nós celebramos, mas que ninguém vive e ninguém pratica! A amizade verdadeira de Deus é fazer aquilo que ele manda, mesmo no risco de perder tudo e todas as nossas seguranças, mesmo a própria vida…. tendo a coragem de dizer que “importa mais obedecer a Deus do que aos homens.”(Act 5,29)…!
Enquanto continuarmos a pensar que escolhemos ou fomos nós que aceitamos Jesus, e por isso vamos “impondo” nas nossas declarações o caminho a Jesus, o Evangelho não passará de uma história da carochinha… e a promessa do Senhor jamais se vai realizar nas nossas vidas! Aquilo que vivemos e recolhemos na nossa vida é e será sempre o fruto das nossas escolhas!
“Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte." O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa.” (1 Co 1:27-28).
A quem andamos a entregar o rumo e a direcção das nossas vidas… a Jesus ou a homens… quando virá o dia em que nos deixaremos escolher por Jesus…! Será que Deus tem necessidade de nós…!
Ai Senhor, tem mesmo misericórdia de todos nós que é o que agora mais precisamos…
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