As maravilhas da Beira Profunda - IV
Quarto dia. Domingo. Encerramento deste percurso pelas terras da Beira interior e raiana. E não só.
História a ressoar das pedras e a correr, ainda, pelos ribeiros que embelezam e refrescam o bucolismo da paisagem.
Gente ordeira, pacífica, amadurecida nas freimas quotidianas pela conquista do pão de cada dia. Povo habituado a servir de guarda avançada à Lusitanidade de uma Nação que se quis independnte, contra as investidas faraónicas dos monarcas de Castela ou do império napoleónico.
Terras onde correu, sim, o suor do rosto, mas também o leite e o mel, o vinho e o azeite, das colheitas de todos os tempos. Terras onde a sobriedade e a honradez informaram o trabalho que moldou carnes e ossos de gerações e gerações. Terras onde a cultura e a fé temperaram muitas almas dos nossos maiores que escreveram pelo mundo a história de Portugal. Terras que, hoje, cada vez menos encontram braços que peguem nas enxadas para o amanho das hortas, ou no cajado que sossegue os rebanhos da pastorícia em decadência. Tempos novos, em que as luzes da ribalta citadina atraem a juventude sequiosa de novidade, de melhores ganhos e de prometidos prazeres, a deixarem para trás os idosos, eles próprios seduzidos à inactividade pelos parcos subsídios de um Estado que se diz social mas que esquece a verdadeira dimensão da pessoa humana.
Manhã cedo. Após o pequeno-almoço no hotel, e feitas as despedidas da praxe, partimos com destino a Castelo Branco. Dia quente - 13 de Junho. Dia de Santo António de Lisboa, e a lembrar também a Virgem de Fátima. Oração da manhã, no autocarro - o habitual. A seguir, mais uma “oferta” pública dos bons livros do Pe. Barros (para ajudar os pobres), com uns tercinhos de bónus piedoso, em acrescento. Tem jeito, o nosso carinhoso Reverendo… Férias, sim, mas sempre com Deus ao fundo. O espírito também precisa de atenção, e de alimento (diariamente, no hotel, no fim da jornada, era celebrada a Eucaristia – para que a comunidade se efectivasse em Comunhão).
(fotos: na Sé de Castelo Branco)
Em Castelo Branco, uma visita rápida à Sé, para seguirmos para a igreja da Misericórdia. Havia necessidade de encontrar um templo para que o nosso “capelão” celebrasse, para todos nós, a Eucaristia. Na igreja da Misericórdia, surgiu a oportunidade, e ali participámos da Eucaristia do dia. O Pe. Barros concelebrou, e foi alvo de uma especial deferência do presidente da Liturgia, que à homilia lhe concedeu o privilégio da palavra. É sempre consolador poder experimentar esta realidade de que os cristãos, em qualquer parte onde se encontrem na oração, se sentem em Família, unidos sob a solicitude do mesmo Pai, e alimentados pelo mesmo Pão – Jesus Cristo.
Antes do almoço, livremente procurado na restauração local, fomos ver os jardins do Paço Episcopal. Quem passa por Castelo Branco e não visita este aprazível espaço de arte ambiental, não sabe o que perde. Várias vezes o autor destas linhas passou por este maravilhosa cidade albicastrense, mas nunca teve o ensejo de admirar a beleza e o registo histórico desta “unidade agrária, paisagística e estética” – o Jardim de S. João Baptista, mais conhecido pelos “Jardins do Paço Episcopal de Castelo Branco”.
(foto: Escadaria dos Reis de Portugal)
O Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco foi mandado construir pelo então bispo da Guarda, D. João de Mendonça, por volta do ano de 1720, depois do seu regresso de Roma, onde viveu três anos. Desconhece-se o traçado primitivo deste Jardim e quem foi o autor do projecto. Terá, por outro lado, sofrido as consequências do terramoto de 1755, que destruiu algum do seu espólio artístico. Pensa-se, contudo, que esta obra terá sido arquitectada por artistas italianos.
Todo o conjunto arquitectónico e paisagístico é constituído por vários jardins, lagos, fontes, escadarias, patamares, e é “povoado” por estátuas de granito representando figuras bíblicas, históricas, de santos e também da simbologia moral cristã. Assim, podemos admirar a escadaria dos reis de Portugal, com as estátuas alinhadas lateralmente em cada degrau; a escadaria dos Apóstolos; de igual modo; as estátuas das Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade); das Virtudes Cardeais (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança - a que juntaram um quinta, a Sinceridade); dos Evangelistas; de Moisés (com as tábuas da Lei, onde se pode ler “Ama o Senhor teu Deus, e ao próximo como a ti mesmo”, com a data inscrita -1726). E por aí fora…
Gastaria esta crónica de viagem, só com a descrição do que foi observado. E não tivemos tempo para admirar o Museu, na lateral norte; fica para outra vez!
Depois do almoço, e da compra de algumas recordações típicas, prosseguimos a viagem com destino a Almourol (outro Castelo!...).
É sempre “nova”, a vista deste belo monumento medieval, implantado numa ilhota no meio do rio Tejo, e abraçado pelas águas que correm desde Espanha até Lisboa. O castelo de Almourol foi edificado sobre as ruínas de uma antiga fortaleza romana sob as ordens de Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários. É constituído por uma dupla muralha flanqueada por dez torres cilíndricas e uma, quadrada – torre de menagem – a dominar todo o conjunto.
(foto;
Castelo de Almourol)
Alguns mais afoitos atravessaram, de barco (ali, na margem, à espera de turistas), e foram “conquistar” a “fortaleza”, se calhar com o intuito de poderem desvendar algumas lendas tão ligadas a este castelo. Subiram à torre de menagem, onde drapejava ao vento a Bandeira de Portugal, para desfrutarem um panorama de soberbo encanto. Em baixo, no rio, um bando de patos com penas “furta cores” nadavam, ensaiavam mergulhos e esvoaçavam ao longo da margem, oferecendo aos visitantes, um espectáculo cativante e gratuito.
Debaixo do calor daquela tarde de Junho, foram refrescantes, deliciosos, os momentos passados naquele paradisíaco local ribeirinho de Almourol, que a tropa aquartelada em Tancos guarda e mantém.
E partimos para a etapa final. Subimos a Tancos, apanhámos de novo a A23, e galgámos a Serra d’Aire, com rumo a Fátima.
Chegámos à Cova da Iria ainda com sol alto. Aqui, as costumadas visitas: Capelinha, Basílica, Igreja da Santíssima Trindade. Saudámos a Mãe do Céu e adorámos Jesus Sacramentado. Tivemos a dita de participar na procissão eucarística da tarde. Agradecemos, naquele cantinho do Céu, estes maravilhosos quatro dias em que do espírito se desvaneceram tristezas e preocupações, e a fé mais se dilatou em convívio de fraternidade e partilha. Penitência e oração, pedira a Senhora aos Pastorinhos, e ali estávamos nós, agora, feitos peregrinos, a louvar, e a pedir misericórdia.
E assim, com a alma cheia, de gratidão e de Esperança, revitalizada para continuar a labuta diária e enfrentar a “crise” onde os nossos políticos nos meteram, regressámos a casa, onde chegámos, já, pelo cair da noite. Tinha valido a pena, viver estes quatro dias de “férias… com Deus ao fundo”.
(foto:
Fátima - procissão eucarística - 13 de Junho, em fim de tarde)
2 comentários:
Pois aqui está uma maneira de dar espaço à alma....Bem hajas por estas interessantes crónicas..e votos de futuros e bons passeios...
Se Deus quiser parto na quinta feira para mais uma das minhas visitas "pastorais" .Desta feita até ao Porto.
Abraços fraternos
Grato Irmão, belo trabalho.. bela partilha... Abraços fortes em Cristo para todos...
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