E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite.
Irm.Silencio
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Catequese e Vida
Estamos na altura de todas as «Rentrées».
Os partidos políticos, celebram o início do novo ano de actividades, com agitadas festas retumbantes: ruidosas, palavrosas, cheias de promessas e de esperanças competitivas.
As crianças e os jovens, preparam-se para uma nova e longa jornada de luta com os livros, com as instalações escolares cheias de carências, com os professores reivindicativos, com os transportes desgastantes, e, mais no interior, com o encerramento de tantas e tantas escolas que, noutros tempos, apetrecharam o País.
Os emigrantes, regressam aos países onde labutam pelo pão de cada dia, após terem respirado o ar puro do torrão natal. Mataram saudades.
Os trabalhadores, depois de algumas merecidas férias, voltam a manobrar os seus instrumentos de trabalho (aqueles que ainda vão tendo trabalho…).
Os tribunais, com férias mais reduzidas, abrem outra vez as suas salas de audiência, com as mesas pejadas de processos.
Os futebolistas, deram por terminado o seu descanso, para tornarem a pisar os relvados das vitórias e das derrotas.
Os fazedores de leis, reocupam as bancadas parlamentares, alguns ainda ensonados pelo desgaste de atribuladas noitadas nas estâncias mediterrânicas, do Brasil ou das Caraíbas.
Os governantes, regressam aos seus gabinetes, pondo a mexer o seu séquito de assessores, com vista aos preparativos do próximo Orçamento, sob o horizonte negro de défice assassino…
E o povo, a imensa populaça anónima, assiste na plateia a todas estas movimentações, impávido e sereno, digerindo a “crise”, a crise que até rapa o cotão do bolso onde amealhou das suas parcas economias.
Mas este virar de página, na vida da sociedade em que estamos, também se faz sentir nas actividades pastorais das nossas comunidades religiosas. Com o início de um novo ano lectivo, as paróquias arrancam para um novo ano de actividades, especialmente com os jovens e as crianças, onde se vai semear a Palavra que salva… Dessa Palavra que foi e é Jesus de Nazaré, que agora lhes chega à alma pela boca dos pais, dos catequistas e dos sacerdotes.
A Catequese não é uma actividade subsidiária, é um ensinamento nuclear na vida do cristão, e na vida de todo o homem. Quem sou, donde venho, para onde vou? – é a pergunta que cada um de nós deve colocar no seu horizonte de vida. Da resposta a esta questão, depende todo o resto do percurso. Somos viajantes do Universo, encavalitados numa bola de matéria que rodopia e percorre uma trajectória anual à volta do Sol, a uma velocidade de 30 km por segundo. O planeta que habitamos, a nossa casa comum, não passa de uma nave espacial, minúscula no Espaço sideral. Quem criou tudo isto? Porque existo? Quem sou eu?
Foi esse Jesus de Nazaré que, na sequência de toda a Revelação divina anterior, veio confirmar e desvendar, em Pessoa, quem é o Homem e quem o criou. Mais: ensinou aos homens como deve o homem viver, na sua relação com o Criador (um Deus que é Pai) e com os seus irmãos – os outros homens. E é esse ensinamento que a Catequese transmite e desenvolve, para que todo o homem, toda a mulher, o seja em plenitude, numa vida terrena que, salva por Cristo na cruz, se projecta, em ressurreição para a Eternidade.
Por isso a catequese é a base de todo o ensinamento vital. Tudo mais é complementar, subsidiário. Foi isso que compreenderam os grandes santos, v.g. Francisco de Assis, Inácio de Loiola, António de Lisboa, Claret, Teresa de Calcutá…
Um dia, ouvimos de um pai, que se defrontava com a dificuldade de gerir convenientemente o comportamento de seu filho jovem, o seguinte desabafo: “ – Hoje, sinto pena de o não ter metido, em criança, na catequese. Talvez ela lhe tivesse dado outras bases para a sua formação humana, e ele agora fosse diferente».
A Catequese, para ser fecunda, para deixar raízes na alma, tem de ser escola de vida. Jesus arrastava multidões atrás de Si, porque – no dizer de Pedro – Ele tinha palavras de vida eterna. Os seus milagres eram sinais da graça divina, e os seus ensinamentos, ilustrados por quadros de vida prática: as parábolas. Não fazia acepção de pessoas, nem mesmo postergava da sua presença os mal comportados do mundo; antes, suscitava neles a conversão espontânea, como a mulher adúltera, ou o corrupto Zaqueu.
Entretanto, Jesus orava. A catequese não pode deixar de ser, também, celebrativa. A alegria que vai na alma, pela infusão dos dons do Espírito de Deus, tem de se expandir, de retorno, na direcção dos Céus.
Mas a Catequese não pode resumir-se apenas à preparação das crianças para a “festa familiar” da Primeira Comunhão, onde muitas já ficam pelo caminho; nem, quando muito, para a da Profissão de Fé, e acabou. A vida do cristão exige uma formação permanente, na contínua descoberta das incomensuráveis riquezas da Revelação divina, que nos chegam pela Sagrada Escritura e pela Tradição Apostólica – interpretadas pelo Magistério da Igreja fundada pelo Salvador.
A terminar este apontamento, e dada a contundência das suas afirmações, citamos Frei Herculano Alves:
“Os Apóstolos ensinavam aquilo que Jesus lhes tinha ensinado a eles: o Evangelho. Quer isto dizer que a Bíblia deve ser ensinada, que ninguém a sabe se não a estudar e aprender, e que tal aprendizagem exige persistência e assiduidade.
“Ora, normalmente frequenta-se a catequese da infância, talvez se continue mais uns anos, e fica tudo por aí. Entretanto, o corpo cresce, a inteligência des¬perta para a verdade, a vontade procura outros valo¬res... e surgem os problemas da juventude, da matu¬ridade psicológica, da vida profissional e familiar. E a pessoa, apenas com aquela "catequesezinha" da infância e adolescência, não tem respostas para tanto problema!
“Por isso é tão comum deixar de frequentar a igreja e até voltar-se contra uma Igreja e um Deus que não se chegou a conhecer e viver em relação de profundidade. E vai de se dizer agnóstico ou ateu, e de afirmar que, se Deus existisse, as doenças e desastres não atingiriam os inocentes, as crianças não morreriam de fome, não haveria guerra no Iraque, e até - quem sabe? - a economia portuguesa iria de vento em popa e a gasolina seria mais barata!
“Quando a Palavra de Deus não converte a pes¬soa, enchendo a sua vida à medida do seu crescimento total, perde-se como a semente no meio dos espinhos (Mc 4,18-19). A Palavra é para comer toda a vida e não apenas nos primeiros anos de catequese.” (In “Revista Bíblica”, de Jan-Fev de 2006).
V.S - Setembro 2010
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8 comentários:
Caro Victor, meu amado irmão no Senhor, bom seria que a catequese deixasse de ser apenas ensino e assimilação de conhecimentos e passasse a ser apenas e somente Discipulado, então aí sim, bem poderiam as comunidades preparar-se para as enchentes dos novos Tiberíades… mas o resultado, infelizmente è a secura e os desertos a aumentarem nas nossas comunidades...
Agora peço perdão, mas deixe-me dizer-lhe com toda a franqueza: sabe, só vão resistindo os que lá andam por teimosia e mais parecidos com os “velhos do Restelo” ou aqueles que estão sedentos e desejam mesmo conhecer mais e mais do Senhor…
Eu acho que seria vital começar a catequese pelos catequistas… esses sim, muitos precisam mesmo de se renovar, e deixar-se ensinar também… o sopro do Espírito anda por esses espaços, mas é preciso que os corações se abram a Ele, sem isso, somos apenas continuadores do ensino da lei como faziam os doutores da lei…
Abraços no Pai…
É claro que no Discipulado existe o caminho do ensino e o conhecer novos horizontes (conhecimento), mas isso também o fazem aqueles que vivem sem desejo de caminhar pelo caminho da fé… o verdadeiro Discipulado é aquele que parte sempre de um Encontro com o Pai… o problema, é que se faz exactamente o contrário nas nossas catequeses, primeiro ensinamos e depois (se existir tempo) porque o que é vital é cumprir o programa…!, então proporcionamos espaço para o Encontro…. Trocamos sempre tudo nos caminhos de Deus… coisa de homens…
…para que não haja mal entendidos… acredito que existem muitos catequistas que são genuínos no seu desejo de servir e ensinar, mas sejamos honestos connosco, sabemos bem que isso não basta… recordo aqui Nicodemos: era genuíno e um homem bom e de Deus e até dominava como Mestre a doutrina e lei, mas Jesus deixou claro que lhe faltava algo… bom… um Santo dia a todos…
Caríssimo irmão VP,
Concordo com as suas palavras e agradeço os seus comentários. Penso do mesmo modo, e tenho~me batido por que a catequese, no meu meio, sofra algumas modificações, no modo como é gerida e pastoralmente administrada, mas sinto~me a pregar no deserto. Sim, são os catequistas os primeiros que precisam de ser catequizados... e não só, compreende?
Por exemplo; acha bem que uma criança tenha de pagar, cada ano, onze euros de matrícula (inscrição), e mais o catecismo?... É por isto que muitos fazem a "festa" da primeira comunhão e nunca mais aparecem. O Senhor não disse: "Recebeis de graça, dai de graça?!... às vezes sinto que por estas e por outras estamos a descristianizar.
Abraço apertado, no Coração de Cristo!
Santa tarde... aqui ainda se paga o livro mas não a inscrição... surpresa e estranheza, o livro do aluno custa mais do que o do formador!!!! valha-nos Deus...
Abraços fortes....
Este ano tb estou ligada à catequese, em apoio de rectaguarda.
Aqui é pedida uma contribuição para o material ,mas apenas no caso de o poderem fazer.
Ora, isso está bem! É o que eu defendo. Lançar a "rede", isto é, o apelo, e colher o que cada um em consciência puder dar, sem constrangimentos e, como diz o Senhor, sem que a mão esquerda saiba o que a outra dá, para que os que menos podem não fiquem diminuídos. Sou avesso a que, em Igreja se estabeleça uma tabela de preços, tipo supermercado.
Quanto ao mais, Maria, parabéns! Mesmo na retaguarda há de ser produtivo o teu trabalho na vinha do Senhor. Eu tinha dito que, agora, deixaria a catequese activa, mas surgiu um caso especial e estou a preparar um miúdo de 12 anos para a Profissão de Fé. Não chegou a finalizar o 4º. ano..., por causa de actividades desportivas, mas agora quis retomar o percurso. Estou com ele ao sábado de manhã.
Sim,VS,há um tempo para tudo...catequista fui muitos anos,mas agora é aos mais jovens que compete continuarem, estando mais próximos dos pequenos catequizandos. É com grande alegria que vejo alguns dos meus antigos tomarem o facho.
Agora há muito a fazer em trabalho de secretariado e pesquisa para os deixar mais livres...
E quiçá "alguma aula de substituição" rs
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