As maravilhas da Beira profunda - II
Depois de uma pernoita no Hotel “Estrela da Idanha”, situado na periferia da Vila de Idanha-a-Nova (um complexo hoteleiro moderno, acolhedor, que se recomenda), seguimos, na manhã do segundo dia, 11 de Junho, para Idanha-a-Velha, passando pela Senhora do Almortão, em rápida visita àquele santuário mariano. “Senhora do Almortão, ó minha linda raiana”… Estava em nossos ouvidos esta melodiosa canção beiroa, na voz de Dulce Pontes.
Continuámos para Idanha-a-Velha.
Idanha-a-Velha é uma relíquia… Ou melhor, mais uma relíquia histórica no meio de tantas que a Beira nos guarda. Foi sede episcopal e sede de município, em tempos idos, antes da era cristã e nos primeiros alvores do Cristianismo.
Aqui estiveram os Romanos (desde o séc. I a.C.), os Visigodos, os Templários… Aqui, na “Egitânea” (nome por que era conhecido o povoado no período visigótico), terá nascido o rei visigodo Wamba, e desde 599 até 1199 Idanha-a-Velha teve o seu próprio bispo.
A Sé catedral sofreu obras de restauro nos princípios do séc. XVI, e em anos recentes desenvolveram-se ali aturados trabalhos arqueológicos, que vieram trazer à luz um elevado acervo de informações, que um bem cuidado museu (se bem que toda a aldeia é… museu!) guarda e deixa patente ao conhecimento dos visitantes (Gabinete de Arqueologia). Destacam-se, num amplo conjunto, a já referida Catedral, o palacete da família Marrocos (que a autarquia pensa, agora, transformar em hotel), a torre dos Templários, a igreja Matriz, o Pelourinho, a Ponte Romana sobre o rio Ponsul, o Lagar de Varas, várias capelas, a grandiosidade das suas muralhas.
Por tudo isto e pelo que representa como “documento” histórico-cultural, Idanha-a-Velha é considerada Monumento Nacional.
(Não será descabido pensar que a nossa “Idanha” (junto ao Monte Murado - Senhora da Saúde - tenha alguma relação onomástica com esta “Egitânea”, dada a presença dos Romanos nestas paragens, na mesma época histórica.)
A jornada prosseguiu depois para Monsanto – “a aldeia mais portuguesa de Portugal” – mesmo ali ao pé. Depressa lá chegámos, cerca das 11 horas da manhã, e, então, foi altura de aguçar o apetite para o almoço, subindo aquela penedia até ao castelo.
Monsanto foi sede de concelho entre 1174 e o início do século XIX, e teve proeminente papel antes e depois da formação do reino de Portugal.
Foi na década de trinta, do séc. passado, quando venceu o concurso da “Aldeia mais Portuguesa de Portugal” (em competição com Sortelha, de que já falámos), que Monsanto ganhou projecção nacional. Tanto assim é, que no alto da torre do Relógio ou de Lucano, encontra-se a réplica do galo de prata, galardão que Monsanto ostenta orgulhosamente, como prémio, do dito concurso.
O seu castelo, que foi um bom exemplo da arquitectura militar medieval, resistiu a invasões espanholas e francesas. Toda a aldeia de Monsanto é um baluarte inexpugnável, com as residências incrustadas nas rochas, e as suas ruelas, serpenteando e subindo a encosta da montanha... São autênticos labirintos que seduzem a coragem aventureira do visitante. Muitos dos que ali vão, não conseguem chegar até ao Castelo, mas quem nele entra não resiste a galgar mais uns metros acima e encostar-se ao pináculo do marco geodésico (227 m de altitude), para respirar uma lufada de ar mais puro e admirar a paisagem circundante, num deslumbramento de alma que inebria!
Cada um foi-se desenrascando com o almoço, aproveitando os apoios das tasquinhas da aldeia, onde se pode saborear umas boas sanduíches de presunto, ou umas bifanas apetitosas com batata frita e saboroso arroz. A bebida também não falta, e da boa. Depois convém dar uma fugida ao artesanato local, para que alguma recordação fique desta maravilhosa visita a mais uma valiosa relíquia do tesouro geográfico-histórico e cultural de Portugal.
A hora apertava, e urgia continuar a viagem para aproveitar ao máximo a luz daquele dia em fim de Primavera. Fomos, então, até às Termas de Monfortinho. Pequeno agregado populacional urbano, em zona plana, com um exuberante parque-jardim fronteiro ao complexo termal. Tivemos a dita de percorrer toda a estação de tratamentos, numa visita guiada e muito bem elucidativa, graças ao empenhamento de um responsável terapeuta. Bebemos, no final, um meio copinho daquela água que dá saúde, por dentro e por fora do corpo, com a recomendação de que não podíamos beber um copo cheio… senão desarranjávamos os intestinos (!...). Até aqui… “beber sim, mas com moderação”!
A fronteira com a Espanha ficava ali mesmo ao lado… Mas, diziam-nos: “Do lado de lá não há nada. Apenas planura, tipo Alentejo…”
Então… percebemos porque é que, “do lado de cá”, os nossos irmãos dos tempos medievais, tiveram de levantar tantos castelos para defender o nosso território.
De Monfortinho, regressámos a Idanha-a-Nova, mas primeiro passámos por Proença-a-Velha, onde visitámos o “Museu do Azeite”, e não só.
Mas deixemos isto para a próxima crónica.
(Continua)
Fotos:
Sentido ascendente: Srª. do Almortão; Idanha-a-Velha Catedral (duas); Id. Velha Pelourinho e igr. matriz; Monsanto - um Lusitano guarda a taberna; Monsanto - no marco geodésico.
4 comentários:
Estou a gostar do passeio e da companhia.
Por mim pode prosseguir...rsrs (alma rebelde)
Tb ando a viajar pelo mundo,sem sair daqui de casa.
Afinal o "facebook" não é nenhum papão...rsrs.
Sempre encontramos algumas almas semelhantes à nossa com desejo de Infinito.
Hoje em dia a passo de um clic,estamos tão perto do outro e, podemos partilhar em conjunto tanta coisa bonita,é só preciso abrir as portadas da alma.(Alma rebelde)
Então quando continuam as maravilhas?
Já demoram os relatos vibrantes...
Salvé, Maria!
Renovada, nessa lavagem espiritual?!... Que bom! A vida espiritual é como o Universo que Deus criou... Projectada para o Infinito!
Sim.
Tenho tanta coisa para escrever...
Mas tenho perdido o meu tempo com as tarefas do condomínio do "meu" prédio, entre outras.
Por aqui, tudo bem.
Bom fim de semana!
Que Deus vos guarde!
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