E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite.
Irm.Silencio
sábado, 21 de agosto de 2010
Exclusão social
Pensar alto
D. Manuel Martins - 21-08-2010
A Igreja, através dos Papas, não se cansa de chamar a atenção para a sorte injusta e desumana de 2/3 da humanidadeFomos todos convidados a entrar, durante 2010, numa campanha contra a pobreza e a exclusão social. E estou ciente de que, pelo menos no primeiro mundo, muito e muito se terá falado sobre tão importante matéria, em reuniões, congressos, jornadas, órgãos oficiais e privados. Muito e muito se terá escrito. E acredito que alguma desta tinta terá chegado ao papel, isto é, ao terreno, até porque na natureza nem tudo se perde. E acho muito bem que o eco de tanto dito e feito não se perca nesta, e, como em tantas outras matérias, tudo o que se disser e fizer é sempre pouco.
Claro que não podemos deixar de tentar abrir caminhos, falando, exigindo, protestando, mas infelizmente teremos de continuar convencidos de que os resultados desejados e necessários não se alcançarão sem que primeiro se atinjam os senhores do mundo. E quem são eles, senão os que seguram raivosamente nas suas mãos o poder económico? A nossa gente sempre disse que o dinheiro é que manda e eu acrescento que esse dinheiro conseguido de qualquer maneira, quantas vezes com o sangue da maior parte, "dessa multidão que ninguém pode contar" e que não se pode defender, é que dita a marcha da História e a sorte de toda a gente, sorte quantas vezes feita de fome, de falta de trabalho, de exploração da pessoa, do desinteresse às vezes agressivo do poder. Não precisamos de recorrer às informações dos livros, informações e livros que abundam, basta que olhemos à nossa volta e, sei lá, à nossa própria casa.
A Igreja, através dos Papas, sobretudo Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, não se cansa de chamar a atenção para a sorte injusta e desumana de 2/3 da humanidade, apelando não só à partilha em situações pontuais - essa partilha tem de fazer sempre parte da nossa condição humana e cristã - mas fazendo doutrina clara e desafiadora sobre o destino universal dos bens, sobre a necessidade do desenvolvimento, sobre a premência de um desenvolvimento solidário, sobre a primazia do Homem sobre o capital, sobre o testemunho na verdade de todas as coordenadas que têm a ver com a fé, a boa formação, a rectidão de consciência e o respeito pela dignidade e direitos da pessoa humana. Numa palavra, o dinheiro, criatura do Homem, só pode estar ao serviço do Homem. Estas afirmações basilares bebo-as em Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI. Estes Papas gritam meia dúzia de princípios que, apanhados e postos em prática, abririam portas a uma sociedade nova.
Já se olha o mundo como uma pirâmide, onde os cones são formados pelas gentes a perder presente, futuro e sonho, e no vértice se refastelam esses ditos senhores que o têm todo e mexem a seu bel-prazer os cordelinhos da vida. Perante esta realidade, vamos ouvindo, por aqui e por ali, que a procura das soluções pode não ser a mais agradável. E pequenos indícios ou fogueiras começam a aparecer por aqui e por além.
Há muitas formas de exclusão social, hoje mais que ontem, algumas delas resultantes das transformações sociais que se vão operando. Mas a mais evidente, gravosa e revoltante é a que tem a ver com a pobreza, essa pobreza que fere dignidade, que não deixa sorrir nem sonhar, que mata milhares e milhares todos os dias, que mata milhares de crianças em cada minuto.
O poder, político ou económico, organiza-se lá por cima, segundo as regras dos próprios interesses ou das macroeconomias. A nós, os de baixo, só nos aproveita ou manipula.
Cristão e padre que sou, queria de coração que a Igreja nunca se deixasse tentar por esta lógica ou por este jogo. E dói-me não ter a certeza disso.
Bispo. Artigo publicado no âmbito nas iniciativas da Cáritas Portuguesa
in Público
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário