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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Não há outra Igreja?


Partilho este texto do meu querido amigo o escritor Daniel Sá


Não há outra Igreja? (Daniel de Sá)

Terça-Feira, dia 04 de Maio de 2010

Havia um fidalgo em Abrantes que se chamava Mendanha. Certa vez interessou-se pela compra de uma quinta do déspota que nesse tempo governava o país. No entanto, quando foi ver a propriedade, percebeu que ela não valia mais que a quarta parte do dinheiro combinado. E desistiu do negócio. O déspota mandou-o para a cadeia, tirou-lhe o direito de paternidade e encerrou num convento as suas duas filhas.

Esse mesmo tirano ordenou o incêndio da Trafaria, porque nela se escondiam muitos jovens que não queriam ser soldados. E fez construir Vila Real de Santo António, obrigando a que fossem povoá-la os habitantes de Monte Gordo.

Quando os preços do vinho do Porto, controlado por ingleses, subiram de tal modo que tornaram quase impossível a vida dos pequenos comerciantes, estes organizaram manifestações de revolta. O déspota encarcerou cerca de meio milhar, exilou mais de uma centena e fez enforcar vinte e seis, incluindo cinco mulheres. No julgamento a que foi submetido já no reinado de D. Maria I, haveria de considerar-se misericordioso, porque, afirmou, D. José lhe recomendara que mandasse executar trinta dos manifestantes.

Foi da sua imaginação pérfida que saiu a maior parte dos nomes dos responsáveis pelo hipotético atentado contra D. José. Fez torturar horrivelmente os Távoras e vários dos seus parentes, encerrando como prisioneira num convento a futura Marquesa de Alorna, criança de oito anos, que só seria libertada depois da queda do tirano devida à morte de el-rei.

Quando chegou ao poder, a Inquisição tinha perdido grande parte do seu ignóbil afã persecutório, sobretudo pela acção do inquisidor-mor, D. José de Bragança, um dos filhos ilegítimos de D. João V. O tirano, que fora ele mesmo "familiar" do Santo Ofício (um cargo equivalente ao dos informadores da PIDE), pôs seu irmão Paulo no comando da vergonhosa organização político-religiosa. E serviu-se dela para um dos mais incompreensíveis autos-de-fé da sua negra história, o que levou vivo à fogueira o padre Malagrida.

Para além de muitos outros crimes, entre os quais um dos mais frequentes terá sido o da corrupção, exterminou a Companhia de Jesus. Centenas de missionários que haviam trabalhado no Brasil morreram em prisões absolutamente tenebrosas. Dos motivos que o levaram a isso, os principais são hoje tidos como verdades absolutas do conceito de liberdade. Os Jesuítas, que eram ferozes adversários da Inquisição (o que de algum modo também pesou contra eles), lutavam pela libertação dos escravos e negavam que o poder real fosse de origem divina, defendendo que era no povo, que ao rei o outorgava, que ele residia.

Apesar de tudo isso, é-lhe dedicado o mais imponente monumento escultórico de Lisboa. Mas a sua construção não foi pacífica. Venceu a facção anticlerical da República, que sempre viu na expulsão dos Jesuítas um acto de justo governo e não uma violência inqualificável.

Este espírito de benevolência de muitos em relação aos que combatem a Igreja Católica é velho em Portugal. Porque a julgam pelos seus erros apenas e nunca pelas suas virtudes. Uma vez mais o coro ecoa em uníssono, transformando em rosto visível da Igreja os actos hediondos de uma minoria. Nisto, o diapasão nacional está em harmonia com a partitura que vem de fora. Se houve a aberração de duzentos surdos abusados por um padre abjecto, ele passa a ser "a Igreja". Mas duzentos mil moribundos retirados das sarjetas de Calcutá, para morrerem nos braços das Missionárias da Caridade de Madre Teresa, não contam para as estatísticas do bem. Nem importa que a Igreja seja a instituição que acode ao maior número de leprosos, de doentes com SIDA, de cegos ou de pessoas em risco de cegar, de analfabetos, e de tantos outros miseráveis do Terceiro Mundo. Trabalham nessa missão universal milhares de homens e mulheres cuja paga, muitas vezes, dezenas de vezes por ano, é o assassinato. E se há cerca de trezentas mil crianças, cálculo talvez exagerado, abusadas anualmente na Alemanha, só importam para a estatística da vergonha as vítimas de instituições católicas.

Fazer justiça contra estes crimes tornou-se um negócio nos Estados Unidos. Consta que o principal promotor dos processos em tribunal, o advogado Jeff Anderson, já terá ganhado cerca de sessenta milhões de dólares. Pagos pela Igreja americana, enquanto o Estado não indemnizou nenhuma das vítimas da guerra absurda com que a América destruiu o Vietname.

O Mundo está podre. Uma parte da humanidade tudo fez, e continua a fazer, para destruir a Natureza e a sua própria natureza moral e ética. E, à ignomínia dos abusos, que nos são contados num "compacto" de dezenas de anos, depois de a maior parte deles já ter sido motivo de escândalo e julgamento quando aconteceram, sucede a limpeza da honra com o dinheiro que tudo paga e apaga neste mundo.




Em Azoresdigital
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=1954&tipo=col

4 comentários:

nem tanto ao mar... disse...

hummmmm......

Maria-Portugal disse...

O último artigo do Pe Anselmo vem ao encontro do Daniel.

No entanto tenho que discordar dele quanto à apreciação do Marquês...estamos como a apreciação da Igreja...não pode ser globalmente demolidora...há que ver a sombra e a luz.

irvictor disse...

LUZ e TREVAS... ambas habitam e encontraram poiso dentro dos muros da Igreja...

O que não consigo é "perceber" comos e pode alegar o bem feito para justificar o mal também feito...

Muitos,naquele dia ,hão de dizer-me: Senhor! Porventura,não temos nós profetizado em teu nome,e em teu nome não expelimos demônios,e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente; nunca vos conheci! Apartai-vos de mim,os que praticais a iniquidade´´(Mateus 7.22-23)

Ana Loura disse...

VP, não entendi o teu comentário. Que mal justifica o Daniel com o Bem?

Já vi que tens a "mala feita", tás quase de partida.

Abraços