As Cegueiras que nos abrem as portas às Fugas da Vida…!

“Mestre, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais? Jesus respondeu: Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus.” ( João 9,2-3)

Realmente, são mesmo absurdas e idiotas algumas perguntas que encontramos no Evangelho...! Quem é o meu próximo? O que é a verdade? São perguntas típicas quase sempre feitas por aqueles que não querem encarar aquilo que já sabem! E quando aparece por ali alguma alma tipo “apanha-bolas”, esses que perguntam com cretinice, logo chutam com maior força a “bola” para que não venha essa alma incómoda e volte a recolocá-la em jogo…!

Estas pessoas fazem-me recordar muito aquelas crianças que ao sentirem-se apertadas por questões que lhes exigirão respostas concretas… sem batota, porque alguém as chama à atenção confrontando-os com o erro, normalmente a reacção é apontarem para algo lá bem distante, e melhor se for no vazio, repetindo algo tipo: a lua….aaaa! a luaaaaaa ...como quem quer dizer… esse assunto não… agora não pf...!

Quem é o meu próximo? O que é a verdade? Quem pecou? Ou este ou os seus pais para que nascesse cego?!!!

Sabem, existem muitas pessoas que precisam deste tipo de questões, porque não querem ver… ou melhor, não desejam mesmo ver!

Imaginem, outros até andam por aí a tentar descobrir a causa da cegueira para continuar sem terem que fazer o discernimento de si próprios e do que vêm…! E mesmo que não queiram, lá fazem o “frete” e lá andam “atarefados” em simpósios da Fé, porque já não podem negar o óbvio…!

Os mais refinados são aqueles que passam a vida a filosofar sobre a cegueira…   “só sei que nada sei..”…. e assim, porque estou neste “dilema”, vamos mas é adiar a decisão de ver-olhar-discernir…! Não existe melhor maneira de nos escondermos das grandes interrogações-exigencias vitais que a vida nos faz…!

Por isso, quem não quer responder, passa a vida, mergulhado nas questões filosóficas… ou teológicas… ou até quem sabe, a discutir a própria existência…!

E eu pergunto: Será que algum de nós já encontrou alguma vez, descanso, serenidade, paz de espírito, consolação, coragem para viver em alguma decisão que fosse fundada em qualquer lógica filosófica, ou teológica ou qualquer outra explicação que tenha trazido paz à sua vida para sempre?

Pessoalmente sinto que não é possível…! Mas claro, estou a falar por mim, não posso falar pelos outros, o percurso espiritual é pessoal ainda que feito tantas vezes em comunhão…!  

O espaço não permite alongar-me mais, mas gostaria de lançar uma última questão que acho vital para quem anda com a cegueira, a carregar-fazer chaves que abrem as “portas” à fuga da Vida real e concreta…!

Será que as nossas dores são ou têm sido até aqui atenuadas ou adormecidas apenas por “analgésicos”  que entorpecem  por um determinado tempo as nossas angustias, criando em nós a ilusão de que somos capazes de apreender o significado da profundidade da Vida….. ou quando chega aquela hora da verdade em que não existem “morfinas” nenhumas, por mais poderosas que sejam, que nos aplaquem a dor do próprio SER-EXISTIR … algum de nós já conseguiu encontrar o verdadeiro sentido da DOR…?

Sabem, aprendi há muito que as palavras podem esperar… mas a dor já não pode… no meio da dor, nem um cego faz perguntas… o máximo que pode fazer é pedir ajuda…! Agora, não basta pedir ajuda… é preciso reconhecer que preciso dessa ajuda… é preciso reconhecer que sozinho não consigo ver… que continuo cego…ainda que os meus olhos vejam o mundo e as suas formas…! Ainda que tudo aponte para a luz, de nada me vale isso se continuar cego…!