Esta frágil Humanidade…

Cláudio Ptolomeu na sua vasta obra científica defendeu, no século II da nossa era, a teoria geocêntrica: a Terra era o centro do Universo.

Nicolau Copérnico, há cerca de 500 anos, esclareceu que não era a Terra o centro, mas sim o Sol. O sistema planetário tinha o Sol como centro, e a Terra girava em torno do seu eixo, o que originava a sucessão dos dias e das noites. Contudo, para este astrónomo, era ainda o Sol que executava o movimento anual.

Há menos de 400 anos, Galileu Galilei foi condenado pelo Santo Ofício por defender que era a Terra que se movia, e não o Sol, na linha das afirmações de Copérnico.

Em 1519, o português Fernão de Magalhães, ao serviço do rei de Espanha, inicia a sua viagem de circum-navegação à volta da Terra; morre nas Filipinas, e a viagem é concluída, com êxito, por Sebastian d’Elcano, em 1522. Estava provada, deste modo, a teoria de que o nosso Planeta era uma “bola” à solta no Universo. Deram a volta ao Mundo: saíram numa direcção e voltaram ao ponto de partida, seguindo sempre em frente!

Apenas a meio do século passado (há cerca de apenas 60 anos atrás), é descoberto o ADN - um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos. O homem descobriu-se como um ser programado, com uma missão e destino sobre os ombros – uma vocação – e apetrechado com potencialidades bastantes para a sua realização.

Recentemente, a 30 de Março último, os jornais noticiaram que o “Big-bang” foi recriado no CERN, o Laboratório Europeu de Partículas, construído num túnel de 27 km de extensão, perto de Genebra, na Suiça:
«Desde as 12:00 (hora de Lisboa) que o acelerador de partículas do CERN está a recriar "os primeiros micro-segundos" a seguir à fundação do Universo, num investimento de cerca de seis mil milhões de euros, em que Portugal participou» – (cfr. DN Ciência).

Entretanto:

No mês que ora corre, um sismo mata, na China, mais de um milhar e meio de pessoas;

No Haiti, um terramoto fez, no princípio deste ano, cerca de 200 mil mortos e 3 milhões de desalojados;

No Brasil, há poucos dias, as enxurradas mataram mais de centena e meia de pessoas, e o colapso de uma lixeira, em Niteroi, engoliu toda uma povoação por cima dela construída;

Na Madeira, os últimos temporais contabilizaram mais de 40 mortos, centenas de desalojados e incalculáveis destruições de habitações, estradas e pontes;

Em Portugal continental, os tornados (coisa que era raro acontecer por aqui) devastaram casas e plantações, em segundos apenas;
Nestes dias que passam agora, um vulcão adormecido na Islândia, resolveu acordar e vomitar fogo, fumo e cinzas para a atmosfera, paralisando a navegação aérea em todo o Mundo, com especial incidência na Europa!

E o medo paira nos habitantes do Mundo, porque o movimento lento das placas tectónicas faz prever, sem se saber quando, terramotos cíclicos em vários pontos desta esfera em forma de laranja onde habitamos, entre os quais Portugal.

Dizem que o centro de anticiclones dos Açores se desviou mais para o continente europeu, provocando a permanente instabilidade do clima neste nosso torrão ibérico. E, também, que o eixo da Terra se desviou um pouquinho, após o trágico tsunami da Indonésia e o recente terramoto do Haiti.

Por outro lado, a humanidade vive, em permanência, a ameaça do terrorismo, e as guerras continuam a matar vidas e a destruir fazendas (como dizia Vieira) à face da terra. Como se isso não bastasse, surgem ainda as pandemias virulentas a desassossegar multidões.

Que se passa no Mundo? Que futuro para esta frágil humanidade?!...

Parece que a Natureza se revolta contra o homem. A Natureza, de que o Homem faz parte integrante, ou melhor… A Natureza, que o homem, em si, sintetiza! O Homem, a alma dessa Natureza, revoltada. E quando o Homem fica louco – a Humanidade – a Natureza igualmente enlouquece. Que tem feito o homem para preservar, com eficácia, a Natureza? Será que a Natureza está a gritar aos homens, que a maltratam, que a Humanidade está a ir no mau caminho? A Natureza, o Mundo, que foi criado para a felicidade do Homem, grita a plenos pulmões, na sua voz tonitruante, violenta, terrífica, mas os homens não interpretam a mensagem, porque têm os ouvidos tapados com acumulações de ganância, de prazeres desmedidos, de perversão egoística. A Natureza sofre, porque a Humanidade está doente, louca!

Os homens andam, nos fundegos de Genebra, à procura do princípio da Criação, mas têm orelhas moucas para a Palavra do Criador. Insensatos! Continua presente no mais íntimo da alma humana a “tentação do Paraíso” – “sereis como deuses!”. A maçã da perdição, não é apenas mito de pedagogia bíblica. É sabedoria divina que acompanha a condição humana de todo o homem, ainda imberbe, que ainda não encontrou resposta à pergunta essencial: «- Quem sou eu?!...».

Na Carta aos Hebreus, do Novo Testamento, o seu autor diz-nos:

“Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meios dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo” (Hb 1, 1-2).

É assim: Deus fala por muitos modos. Deus falou-nos por meio do Filho… Desse Filho que foi condenado à morte ignominiosa da Cruz, para redenção da Humanidade… Desse Filho que continua a falar por meio da sua Igreja (todos os baptizados) santa na sua cabeça (Jesus Cristo) mas, contudo, pecadora nos seus membros (todos os que se dizem cristãos). Deus fala-nos no dia a dia, no interior da consciência de cada um, e nos diversos acontecimentos aparentemente inofensivos da nossa vida e da vida de todos os povos. Deus continua a falar, com a mesma voz que Moisés ouviu, sem ver o rosto, no Sinai, agora através dessa Natureza que dizemos estar louca, revoltada. É imperioso que o homem de hoje, tenha ou não tenha fé, abra os ouvidos da sua alma, da sua humanidade, e ouça a voz de Deus, que, como “nos tempos antigos” continua a falar-nos de muitos modos, mas sobretudo pela voz do Ressuscitado, que não cessa de nos sussurrar em permanência:

- “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16, 33) ...
V.S.