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sábado, 23 de maio de 2009

Que disse o Papa a Deus?


por P.ANSELMO BORGES

Apesar das críticas de judeus e palestinianos mais radicais, a viagem de Bento XVI foi considerada um êxito

No Médio Oriente, os judeus pedem a Javé, os cristãos pedem a Deus, os muçulmanos pedem a Alá. Perante a contradição dos pedidos, o que faz Deus? Ele, que é o mesmo para todos, sem acepção de pessoas, só pode exigir a todos respeito mútuo, garantia dos direitos humanos, uma paz justa.

Na sua visita, difícil e mesmo arriscada, à Jordânia, a Israel e aos Territórios Palestinianos, que pediu Bento XVI a Deus? Dobrou uma folha com o seu "segredo", que meteu numa frincha do Muro das Lamentações: "Deus de todos os tempos, na minha visita a Jerusalém, cidade da paz, casa espiritual de judeus, cristãos e muçulmanos, coloco perante ti as alegrias, as esperanças, as aspirações, as provas, os sofrimentos e as dificuldades de todos os povos do mundo. Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, escuta os gritos dos aflitos, dos angustiados, dos deserdados. Envia a paz à Terra Santa, ao Médio Oriente e a toda a família humana."

É lá que o cristianismo tem as suas raízes. Mas o dogma, a história, a política dividiram os cristãos - coptas, nestorianos, arménios, católicos de rito latino e oriental, ortodoxos -, de tal modo que ainda hoje se assiste até a confrontos físicos por causa dos "Lugares Santos". O Papa apelou ao diálogo ecuménico, pois a divisão é " um escândalo".

Na constatação do êxodo dos cristãos - o seu número tem-se tornado cada vez mais diminuto nas últimas décadas -, pediu aos Governos que garantam o direito da liberdade religiosa, que é "mais que a liberdade de culto", e aos cristãos, tentados pela emigração, exortou-os a que "tenham coragem de ser fiéis a Cristo", permanecendo ali, "difundindo a sua mensagem de paz e unidade".

Com o mal-estar provocado pelo discurso de Ratisbona em fundo, entrou em duas mesquitas - em Amã, a Mesquita al-Hussein bin Talal e, em Jerusalém, a Cúpula do Rochedo -, manifestou o seu "profundo respeito" pelo islão, preveniu para o perigo da "manipulação ideológica da religião": ela "desfigura-se quando é obrigada a pôr-se ao serviço da ignorância e do preconceito, do desprezo, da violência", e exortou os muçulmanos a superar os conflitos do passado e empreender o caminho de um "diálogo sincero" entre religiões. Judeus, cristãos e muçulmanos acreditam no mesmo Deus e têm Abraão como pai comum.

Com o erro do levantamento da excomunhão ao bispo negacionista Wil- liamson em fundo, condenou o anti-semitismo, qualificando-o de "repugnante" e "totalmente inaceitável". No Memorial Yad Vashem de Jerusalém, lembrou as vítimas da Shoah (Holocausto): "Que nunca mais um semelhante horror possa desonrar a Humanidade. Que nunca se esqueça os nomes destas vítimas, que os seus sofrimentos jamais sejam negados, esquecidos ou diminuídos."

Muitos duvidavam, mas ousou condenar, de modo claro, o muro da Cisjordânia, construído por Israel ao longo de quase 800 quilómetros: "Num mundo em que as fronteiras estão cada vez mais abertas ao comércio, às viagens, à mobilidade das pessoas, aos intercâmbios culturais, é trágico ver que ainda se continua a levantar muros."

E, segundo o plano aprovado pela ONU, em 1947, defendeu a existência de dois Estados: o reconhecimento do Estado de Israel dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e o direito dos palestinianos a uma pátria soberana e independente. "Que a solução dos dois Estados se torne uma realidade!"

Apesar das críticas de judeus e palestinianos mais radicais, a viagem foi considerada um êxito pela maioria dos analistas.

Regressado a casa, Bento XVI terá dito a Deus que fez o que tinha podido, segundo a sua consciência e a dignidade; que fizesse Ele, agora, o resto. Deus terá respondido, lembrando um ditado, julgo que belga, que gosta de ajudar aqueles que O ajudam a Ele.

Passei recentemente pela Síria, Jordânia, Israel e Territórios Palestinianos e pude perceber melhor que o caminho da paz é dificílimo, exigindo um trabalho hercúleo. Mas, como disse Ernst Bloch, a partir de uma palavra enigmática de Heraclito: "Quem não espera o inesperado não o encontrará."

3 comentários:

andarilho disse...

seria bom começar por derrubar "muros" dentro das nossas próprias Igrejas... mal vai o testemunho quando pretendemos apontar aquilo que é infelizmente demasiado comum nas nossas comunidades.. lamento dizer, mas os muros também abundam no nosso meio cristão...!

Maria-Portugal disse...

muros há entre as famílias,entre o casal,entre os irmãos...ora a Igreja é feita de pessoas e essas pessoas são imperfeitas mesmo q sejam cristãs...o combate para abater os muros dá-se em todas as frentes da batalha da conversão...o pior é não fazer caso ou esconder debaixo do tapete...

ladoalado disse...

Aceitar emendar erros cometidos e reformular a rota iniciada é um acto de coragem. O Papa teve-a, a nível verbal. Mas ainda não estão reparadas todas as feridas (o bispo Williamson não volta atrás, os criticos do C. Vaticano II progridem, etc.) e a Igreja parece meia adormecida. Se errar é humano,reconhecer os próprios erros é tentar superar a fraqueza humana a que se está sujeito... Esse foi o caminho que Ele nos propôs. Para todos nós, esse é o único caminho que conduz ao Pai. E TODOS NÓS significa a IGREJA de Cristo, onde nenhum membro é mais valioso do que outro.