*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

domingo, 12 de abril de 2009

Retiro na cidade- Páscoa de 2009


Assim termina o retiro quaresmal dos Dominicanos de Lille em: http://www.retraitedanslaville.org/


Ele ressuscitou verdadeiramente


A Palavra de Deus


«É então que o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro, entra por sua vez no túmulo. Ele vê e acredita.»
Evangelho segundo João, capítulo 20, versículo 8
A meditação

Alguma vez já viveu uma experiência de tal forma horrível que a única maneira de continuar vivendo foi ir para longe e recomeçar? Após a morte de um ente querido, tudo que você terá que dizer: «Foi maravilhoso. Agora acabou. Devo recomeçar». Ou talvez seja preciso deixar um cantinho maravilhoso e dizer-me: Não serve de nada viver no passado. Este período da minha vida acabou. Não devo manter-me preso.» Quando Maria Madalena chegou ao jardim naquela madrugada, era para encerrar um capítulo do passado. Ela amara Jesus, ela esperara que ele fizesse coisas extraordinárias. Mas a sua história tinha chegado ao fim. Tudo o que ela poderia fazer, era ungir o seu corpo, dizer-lhe adeus e recomeçar a viver sem ele. Ela sentia um grande vazio no seu coração mas era preciso que ela continuasse a viver.

Mas mal chega ao túmulo, ela encontra um vazio ainda maior, o túmulo está vazio. No início ela pensa que os seus inimigos roubaram o corpo: talvez eles quisessem humilha-lo ainda mais, entregá-lo ao escárnio público, crucificá-lo mais uma vez. Não poderiam eles deixa-lo tranquilo? Ela queria virar a página, mas este túmulo vazio impedia-o. Foi o discípulo bem-amado que viu e acreditou. Ele vê as ligaduras mortuárias, dobradas com cuidado, e ele compreende. A história de Jesus efectivamente não terminou, porque ele ressuscitou dos mortos. Porque compreende ele isto? E que vê ele? Ele compreende porque ele é o discípulo que Jesus amava particularmente. A ressurreição, não é simplesmente um morto que volta à vida. É a vitória do amor sobre o ódio e sobretudo sobre a morte. Portanto, onde o amor é verdadeiro, o amor que é Deus, ele nunca acaba vencido. Amar, é participar numa história que não tem fim, porque Deus é eterno. Eu discuto talvez com pessoas que eu amo; acontece-nos estarmos em desacordo e brigarmos, mas o amor encontra sempre um meio de se desenrascar, mesmo em face da morte. Eis porque é o discípulo bem-amado que é o primeiro a crer.

Um homem veio visitar-me a Oxford há dois ou três anos. Ele era agnóstico. Ao envelhecer, ele disse-se que devia escolher entre a fé em Deus e o ateísmo. Ele não podia continuar a evitar tomar partido. Ele pediu para falar com seis cristãos crentes e seis ateus, para ver quem acabaria por convencê-lo. Tornámo-nos amigos e encontrámo-nos várias vezes. E voltávamos sempre à mesma questão: Será que o amor é apenas uma emoção? ou é a presença do Deus eterno nas nossas vidas? É um sentimento passageiro? Ou é o início da eternidade? Ele estava no meio destas questões quando descobriu que tinha um cancro. Fui vê-lo antes de partir para uma viagem através da Ásia. Ele sabia que morreria antes do meu regresso. E durante duas horas, confrontados com a sua morte, discutimos o que significa amar. Ele disse-me brincando que eu estava a tentar uma conversão de última hora. Eu disse que esperava vê-lo no paraíso. Neste momento ele sabe que eu tenho razão!

Mas o que viu então o discípulo bem-amado? Ele viu as ligaduras jazendo no chão e o sudário que tinha recoberto a cabeça de Jesus. Este sudário não estava junto com as ligaduras, mas tinham-no enrolado num local à parte. Porque esse é o sinal da vitória do amor? A explicação habitualmente avançada é que se o corpo de Jesus tivesse sido roubado, os ladrões não se teriam dado ao trabalho de dobrar com cuidado as ligaduras mortuárias. Mas no evangelho de São João, há sempre uma significação mais profunda. Tudo é sinal. Eis a minha interpretação. Moisés subiu ao monte Sinai, e falou com Deus face-a-face, como com um amigo. Quando desceu da montanha, o seu rosto resplandecia e ele cobriu-o com um véu para não ofuscar as pessoas. Mas sempre que ele voltava a falar com Deus, o seu rosto não estava coberto com o véu. Creio que para S. João o véu que cobria o rosto de Jesus na morte faz referência ao de Moisés. A ressurreição significa que retirámos o véu. Jesus está de novo face-a-face com o seu Pai, e por toda a eternidade. O amor vencedor!

Na nossa sociedade, nem sempre é fácil acreditarmos nisso. Se fordes à Terra Santa, lá onde Jesus ressuscitou, não será evidente vermos triunfar o perdão. Se fordes a Mossoul, no Iraque, o espectáculo do sofrimento da comunidade cristã far-vos-á pensar que o amor perdeu o jogo. Se fordes infelizes no vosso casamento, talvez façais mal em acreditar que o amor é eterno. Como o discípulo bam-amado, devemos manter os olhos abertos aos mais pequenos sinais de amor. Neste caso, nada mais que uma ligadura cuidadosamente dobrada num canto e que ninguém mais tinha notado. São Paulo escrevia aos Coríntios: «Nós que, de rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor, fomos transformados; indo de glória em glória) (2ª carta aos Coríntios, cap 3, vers 18). Nos nossos rostos também, as pessoas deveriam entrever o amor do Pai e do Filho, o amor que não pode nunca ser vencido. Quando olhamos uns para os outros, nós deveríamos oferecer uma imagem do sorriso de Deus, que encontra a sua alegria em cada um de nós, sejamos quem formos.
Em Novembro último, estive em Lourdes para uma conferência sobre o papel dos deficientes na vida da Igreja. Vi lá numerosos sinais da vitória do amor sobre o sofrimento. Um dia, um grupo de jovens mongolóides dançou para nós. Eles dançaram com muita aplicação e beleza, e os seus rostos estavam radiosos. Na Europa, 90% de fetos mongolóides são abortados. Mas os rostos destes jóvens davam um esboço do sorriso do próprio Deus.
Olhemos então rosto descoberto. Em Lima, no Peru, deparei-me com uma foto de uma criança das ruas cuja legenda dizia “Saben que existo ; pero no me vem”: eles sabem que existo, mas eles não me vêm. Eles sabem que eu existo como uma ameaça, perigo, estatística, mas eles não me vêem. Há milhões de pessoas na nossa sociedade que procuram um olhar de reconhecimento, um sorriso que dê vida. Podemos oferecer-lhes esse olhar, sinal de ressurreição.

Maria Madalena foi ao túmulo para encerrar um capítulo da sua vida. Ela tinha amado Jesus, ela tinha-o seguido e ele tinha enchido de esperança. Mas ele morreu, e o tempo completou-se. No entanto ela engana-se. Muitas vezes nós somos tentados pelo desespero ou o cinismo. Nós devemos encarar o fracasso de uma relação, uma decepção ou a morte. Mas se os nossos olhos estiverem abertos, então podemos talvez ver alguns sinais da vitória do amor. Nós fazemos parte de uma história que não termina. Como disse São Gregório de Nissa, vamos “de começo em começo por começos que nunca têm fim”.

3 comentários:

Maria-Portugal disse...

As vitórias constantes do Amor..mas têm um preço na nossa tão débil humanidade...


Submeter-se a esse preço ao custo de mostrarmos um sinal do Ressuscitado ,mesmo dobrando o nosso orgulho,perdendo os nossos coelhinhos brancos parece-me que é o pedido.

irmão disse...

Ana, tenho acompanhado com silêncio este retiro, grato pelo teu excelente trabalho de tradução... foi bom ... pena não termos uma abadia a passar a liturgia das horas via radio pelo menos como sugere a Maria...
Continuação de uma Santa Páscoa.

Maria-Portugal disse...

O Vento foi passar a Páscoa ao mosteiro de Singeverga,

Intercedi para que pedisse ao padre abade a transmissão da liturgia das horas pela radio.

Mas o Vento logo me disse q tal diligência era da responsabilidade da emissora católica.