Se o grão de trigo não morrer...
A Palavra de Deus
«Amen, amen, digo-vos : se o grão de trigo caído na terra não morrer, fica só. Mas se ele morre dá muitos frutos» Evangelho segundo João, 12-23
«Amen, amen, digo-vos : se o grão de trigo caído na terra não morrer, fica só. Mas se ele morre dá muitos frutos» Evangelho segundo João, 12-23
A meditação
Toda a morte é absurda, tanto nas guerras como nos hospitais, nos acidentes de estrada ou nos assassinatos hediondos. Mas há mortes que não são totalmente absurdas, mortes que têm sentido. A morte dos irmãos de Tibhirine tem um sentido, porque ela é inseparável do risco livremente assumido, o risco de ser assassinado se não renunciassem a ficar em Tibhirine para viverem uma fraternidade possível entre cristãos e muçulmanos. Eles morreram, mas a sua morte é fecunda, ela não é «perdida» para a causa que eles defendiam com a sua simples presença. Esta causa é cada vez mais credível porque ela tinha um preço mais elevado que a sua própria vida. Eles são o grão que morre na terra para assegurar as futuras colheitas.
Assumindo este risco, eles são os discípulos autênticos de Cristo, ele mesmo assassinado, mas acima de tudo vencedor da morte. Como Jesus, os monges ultrapassaram o medo da morte, não sem brechas interiores mas com uma determinação sem culpa.
O que está em causa no grão que morre na terra, é a vida que faz o seu caminho através da perda da semente no solo. É a vitória da vida, a vitória da não violência sobre a violência, a vitória da fraternidade sobre o ódio, a vitória sobra a própria morte e o seu cortejo de infelicidades.
Um velho agnóstico como André Malraux interrogou-se ao longo de toda a sua vida sobre esta forma extrema do mal que tinha descoberto desde a primeira utilização dos gases de combate pelos alemães sobre o Vístula em 1916: «Poucos resistem à ameaça da morte, isso coloca em jogo o confronto da fraternidade, da morte e da parte do homem que procura hoje o seu nome, que não é o indivíduo. O sacrifício continua com o mal mais profundo e o mais velho diálogo cristão: depois deste ataque da frente russa sucederam-se Verdun, o gás mostarda na Flandres, Hitler, os campos de extermínio. Se eu encontro estas coisas, é porque eu procuro a região crucial da alma onde o mal absoluto se opõe à fraternidade.»
O combate de Jesus é um combate da fraternidade contra o mal: ele foi assassinado como milhões de inocentes crucificados, gaseados, bombardeados, mas ele venceu a morte e os seus discípulos podem continuar a sua luta até ao ponto de se arriscarem a perderem a vida nessa luta. A vida cristã é uma vida dada: não é uma vida sacrificada, é uma vida dada para que dê frutos. Esse dom começa sempre de forma modesta: Para Jesus começa com trinta anos de vida escondido em Nazaré, depois de uma vida dada à boa nova para os pobres, tanto em actos como em palavras. É uma tomada de posição sem equívoco para a vitória da fraternidade sobre todas as divisões, apenas com as armas da fraternidade. É uma aposta fecunda.
Não creio que possamos falar da presença dos monges de Tibhirine na Argélia em termos de combate: eles próprios nunca se consideraram como militantes do Bem contra o Mal! Eles decidiram ficar como testemunhas pacíficas de uma fraternidade mais forte que o medo que lhe podia inspirar uma ameaça de morte muito concreta que acabará por se realizar. Eles não teriam querido que falemos deles como «combatentes», mas não recusariam esperar uma vitória final.
O Padre Congar gostava de comparar o tempo da Igreja com o tempo que separou o desembarque da Normandia, no dia 6 de Junho de 1944, da paz finalmente atingida no dia 8 de Maio de 1945: o Mal estava ainda presente, mas a vitória estava apesar de tudo adquirida, mesmo que ela não fosse sempre evidente. «Sede vencedores do mal pelo bem»: Cristo ganhou a vitória sobre o pecado e sobre a morte, mas pagando o preço mais alto que um homem pode pagar.
Ele «deu» a sua vida, e também nós podemos dá-la como ele.
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