Tradução da proposta de meditação para o retiro quaresmal do Dominicanos de Lille
Correr riscos em nome do EvangelhoA Palavra de Deus
12Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. 13E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no. 14Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» (Marcos, 1, 12-15 Bíblia dos Capuchinhos)
A Meditação
Para quem caminha na fé, para quem caminha em direcção à fé, os quarenta dias da quaresma são um tempo importante. Eles recordam-nos os quarenta dias que Jesus passou, por nós, no deserto há dois mil anos: foi lá que o Filho de Deus, enviado por Deus para nos salvar, começou a pregar o reino dos Céus, e é lá que também nós nos queremos encontrar para começarmos esta quaresma e recordarmo-nos daquele que nos salvou: Jesus Cristo, o Filho de Deus que disse: “Completou-se o tempo: o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai na Boa Nova!».
Se o Filho de Deus veio para nos salvar, é porque nós estávamos perdidos no deserto. No princípio não existia com efeito nem deserto, nem apelo à conversão. Havia simplesmente o reino de Deus e o que Deus tinha preparado para nós.
No princípio, diz a palavra de Deus, Deus havia-nos criado «à sua imagem». Dando-nos um coração capaz de compreender e de querer, de reflectir e de amar, deu-nos muito mais do que deu à maioria das criaturas: Deu à nossa vida um sentido de cujo culminar seria Ele próprio. Em vez do deserto havia o paraíso. Quando olhamos uma paisagem magnífica, por exemplo, somos arrebatados pela glória que se revela na criação, isso não é estar no paraíso? Não é estar no paraíso, quando fazendo o bem à nossa volta, quando descobrimos o prazer infinito e a infinita felicidade que há em se ser bom? É assim que Deus nos queria semelhante a ele, na liberdade e no amor.
No princípio, Deus queria ser o sentido das nossas vidas, o que lhes dá o verdadeiro sabor. Ele queria que a nossa alma fosse cheia do conhecimento do que é belo, verdadeiro e bom. Dia após dia, ele queria tornar bela a nossa vida, até que estivessemos completamente transfigurados, que nos assemelhássemos perfeitamente a ele: ele aspirava a ouvir um dia esse grito de alegria saltar livremente do nosso coração, da nossa inteligência e da nossa vontade: “Tu sabes bem que te amo!”
.
Mas, de uma forma ou de outra nós sabemo-lo bem: também desde o princípio, desde Adão, o pecado entrou no mundo, e nós deixámos o paraíso. O pecado: não é a repugnância de colocar a nossa inteligência e a nossa vontade ao serviço de Deus, assim como ao serviço dos irmãos? Desde essa altura, desde que nós nos tornámos lentos a entender e a amar Deus, o coração que Deus nos tinha dado para conhecer a felicidade foi como que estragado, destituído do seu esplendor inicial
Talvez façamos mal em no lo negarmos, mas não nos falta reconhecer a doença de que sofremos: esta languidez, este torpor que sofre a nossa vida de fé? Será que não estamos a sofrer de cegueira espiritual? Ficamos agradecidos pelo que Deus preparou para nós? Contemplar e amar Deus, servi-lo, eis o que deveria fazer-nos profundamente felizes, mas atingidos pelo pecado, só muito dificilmente discernimos o que Deus quer e o que ele é: em vez do bem, nós somos levados a discernir o mal, em vez da felicidade a infelicidade.
É deste coração ferido, destes entraves a contemplar e a amar, que o Evangelho nos fala como de um deserto. O paraíso que Deus tinha preparado para nós criando-nos tais como no fundo somos, este paraíso tornou-se pouco a pouco um deserto povoado por animais selvagens, um lugar de solidão, de perdição e de desespero.
Assim é necessário que Deus intervenha de novo na nossa história, que ele se afunde nas areias sem fim, que ele nos faça redescobrir sobre a terra e no mais íntimo de nós, na nossa alma, no nosso coração, o paraíso que perdemos e ao qual nós estávamos portanto prometidos: o sentido da nossa vida, o Reino dos Céus.
É por isto que Deus nos deu o seu Filho, Jesus : para que ele nos ensine o caminho da verdadeira felicidade, da beatitude e da caridade, e que ele cure assim a nossa inteligência da obscuridade e do pecado. É para isso também que ele nos deu o seu Espírito Santo, o Paráclito: para que ele console a nossa vontade do que a aflige, e a purifique também do lixo que ela tem.
E finalmente, Deus foi ainda mais longe: morrer por amor por nós, e este sacrifício salvou-nos definitivamente. É na cruz que o nosso coração encontra enfim o seu repouso salutar: contemplar de rosto descoberto a perfeição do amor e do perdão divinos!
Revelando-nos através de Jesus o rosto do Pai e ressuscitando Jesus, morto por nós no madeiro da Cruz, é a nossa alma, o nosso coração, que Deus ressuscitou: fez reflorir a nossa inteligência e a nossa vontade, ele fecundou o deserto onde nós vivíamos como que desfigurados pelo pecado. Ele fez brilhar em nós o amor do Pai. E agora que pode ele esperar de nós? Simplesmente que arrisquemos entrar novamente nesse mundo para onde levaremos um fruto que permanece.
Ele apenas espera que assumamos o risco de partir à conquista do reino que ele nos franqueia e nos oferece, onde a sua graça nos precede e onde ele nos espera.
12Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. 13E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no. 14Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» (Marcos, 1, 12-15 Bíblia dos Capuchinhos)
A Meditação
Para quem caminha na fé, para quem caminha em direcção à fé, os quarenta dias da quaresma são um tempo importante. Eles recordam-nos os quarenta dias que Jesus passou, por nós, no deserto há dois mil anos: foi lá que o Filho de Deus, enviado por Deus para nos salvar, começou a pregar o reino dos Céus, e é lá que também nós nos queremos encontrar para começarmos esta quaresma e recordarmo-nos daquele que nos salvou: Jesus Cristo, o Filho de Deus que disse: “Completou-se o tempo: o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai na Boa Nova!».
Se o Filho de Deus veio para nos salvar, é porque nós estávamos perdidos no deserto. No princípio não existia com efeito nem deserto, nem apelo à conversão. Havia simplesmente o reino de Deus e o que Deus tinha preparado para nós.
No princípio, diz a palavra de Deus, Deus havia-nos criado «à sua imagem». Dando-nos um coração capaz de compreender e de querer, de reflectir e de amar, deu-nos muito mais do que deu à maioria das criaturas: Deu à nossa vida um sentido de cujo culminar seria Ele próprio. Em vez do deserto havia o paraíso. Quando olhamos uma paisagem magnífica, por exemplo, somos arrebatados pela glória que se revela na criação, isso não é estar no paraíso? Não é estar no paraíso, quando fazendo o bem à nossa volta, quando descobrimos o prazer infinito e a infinita felicidade que há em se ser bom? É assim que Deus nos queria semelhante a ele, na liberdade e no amor.
No princípio, Deus queria ser o sentido das nossas vidas, o que lhes dá o verdadeiro sabor. Ele queria que a nossa alma fosse cheia do conhecimento do que é belo, verdadeiro e bom. Dia após dia, ele queria tornar bela a nossa vida, até que estivessemos completamente transfigurados, que nos assemelhássemos perfeitamente a ele: ele aspirava a ouvir um dia esse grito de alegria saltar livremente do nosso coração, da nossa inteligência e da nossa vontade: “Tu sabes bem que te amo!”
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Mas, de uma forma ou de outra nós sabemo-lo bem: também desde o princípio, desde Adão, o pecado entrou no mundo, e nós deixámos o paraíso. O pecado: não é a repugnância de colocar a nossa inteligência e a nossa vontade ao serviço de Deus, assim como ao serviço dos irmãos? Desde essa altura, desde que nós nos tornámos lentos a entender e a amar Deus, o coração que Deus nos tinha dado para conhecer a felicidade foi como que estragado, destituído do seu esplendor inicial
Talvez façamos mal em no lo negarmos, mas não nos falta reconhecer a doença de que sofremos: esta languidez, este torpor que sofre a nossa vida de fé? Será que não estamos a sofrer de cegueira espiritual? Ficamos agradecidos pelo que Deus preparou para nós? Contemplar e amar Deus, servi-lo, eis o que deveria fazer-nos profundamente felizes, mas atingidos pelo pecado, só muito dificilmente discernimos o que Deus quer e o que ele é: em vez do bem, nós somos levados a discernir o mal, em vez da felicidade a infelicidade.
É deste coração ferido, destes entraves a contemplar e a amar, que o Evangelho nos fala como de um deserto. O paraíso que Deus tinha preparado para nós criando-nos tais como no fundo somos, este paraíso tornou-se pouco a pouco um deserto povoado por animais selvagens, um lugar de solidão, de perdição e de desespero.
Assim é necessário que Deus intervenha de novo na nossa história, que ele se afunde nas areias sem fim, que ele nos faça redescobrir sobre a terra e no mais íntimo de nós, na nossa alma, no nosso coração, o paraíso que perdemos e ao qual nós estávamos portanto prometidos: o sentido da nossa vida, o Reino dos Céus.
É por isto que Deus nos deu o seu Filho, Jesus : para que ele nos ensine o caminho da verdadeira felicidade, da beatitude e da caridade, e que ele cure assim a nossa inteligência da obscuridade e do pecado. É para isso também que ele nos deu o seu Espírito Santo, o Paráclito: para que ele console a nossa vontade do que a aflige, e a purifique também do lixo que ela tem.
E finalmente, Deus foi ainda mais longe: morrer por amor por nós, e este sacrifício salvou-nos definitivamente. É na cruz que o nosso coração encontra enfim o seu repouso salutar: contemplar de rosto descoberto a perfeição do amor e do perdão divinos!
Revelando-nos através de Jesus o rosto do Pai e ressuscitando Jesus, morto por nós no madeiro da Cruz, é a nossa alma, o nosso coração, que Deus ressuscitou: fez reflorir a nossa inteligência e a nossa vontade, ele fecundou o deserto onde nós vivíamos como que desfigurados pelo pecado. Ele fez brilhar em nós o amor do Pai. E agora que pode ele esperar de nós? Simplesmente que arrisquemos entrar novamente nesse mundo para onde levaremos um fruto que permanece.
Ele apenas espera que assumamos o risco de partir à conquista do reino que ele nos franqueia e nos oferece, onde a sua graça nos precede e onde ele nos espera.
1 comentário:
Bravo,Ana...Acabaste a tradução...e a reflexão do jovem Frei era bem longa.
Este retiro pela net vai de vento em popa...ontem já tinham quase 22.000 participantes.
Maria
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