*** Sanctus...Sanctus...Sanctus *** E é importante apoiar-se numa comunidade ,mesmo que seja virtual,porque entre aqueles e aquelas que a compõem,encontram-se os que estão nos tempos em que o dia vai ganhando, pouco a pouco, à noite. Irm.Silencio

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

e a Primeira Carta aos Corintios que nos diz?


A Primeira Carta aos Coríntios utiliza o gênero epistolar, mas é mais do que uma epístola. É uma explanação do pensamento de seu autor sobre várias situações bem concretas. Por isso, não é um tratado de teologia, mas um escrito ocasional. Suas orientações, no entanto, são um exemplo inestimável de como a mensagem cristã precisa moldar as nossas relações do dia-a-dia, não se restringindo a teorias intelectuais ou a ritos exteriores, nem a sentimentos passageiros.

Hoje não faz diferença se a chamamos de "carta" ou de "epístola". É um escrito de grande importância para nossa fé cristã.
Os remetentes: "Paulo, chamado a ser apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e Sóstenes, o irmão" (1 Cor 1,1). São estes os remetentes da carta. Paulo, provavelmente, ditou e Sóstenes escreveu.

Só a saudação final é que Paulo escreveu de próprio punho (cf. 16,21). Por isso, talvez, que a carta tenha o estilo mais vivo, exortativo, não se prendendo à rigidez literária do gênero epistolar.
Sóstenes, "o irmão", é, porém, mais do que um simples "secretário" de Paulo. Trata-se de um colaborador na evangelização; portanto, um co-autor da carta, pois com certeza partilha as opiniões do apóstolo. Talvez Sóstenes fosse o chefe da sinagoga de Corinto que, segundo Atos dos Apóstolos, foi espancado diante do tribunal de Galião, procônsul da Acaia, na confusão gerada pelo conflito entre judeus e cristãos (cf. At 18,12-17).

Esse episódio nos permite situar a época da fundação da comunidade cristã de Corinto entre os anos 50 e 52 da nossa Era Comum. Paulo é o "pai espiritual" dessa comunidade, de forma que suas palavras escritas retomam o ensinamento - o Evangelho - que ele havia pregado de viva voz, durante os dezoito meses de sua estada como evangelizador, em Corinto (cf. At 18,1-11). O objetivo não é anunciar novas idéias nem complementar a evangelização, mas explicitar o conteúdo do que jáfoi anunciado, aplicando-o mais concretamente às situações particulares. Por isso, não precisamos hesitar em dizer que é Paulo o verdadeiro remetente dessa carta.

Ninguém, mais do que ele, se afligia ao saber dos rumos que a jovem e pequena comunidade de Corinto, que ele fundara, estava perigosamente tomando. Ele escreve de Éfeso, entre os anos 54 e 57:2
Paulo é um apaixonado, uma alma de fogo que se consagra sem limites a um ideal. E esse ideal é essencialmente religioso. Para ele, Deus é tudo e ele o serve com lealdade absoluta, primeiro perseguindo aqueles que ele considera como hereges (os judeus seguidores de Jesus), depois pregando Cristo, após haver entendido, por revelação, que só nele está a salvação. Paulo tem só uma paixão: Jesus Cristo.

De personalidade forte, intrépida, Paulo às vezes parece intolerante, mas sabe ser comovente e cheio de ternura. Ninguém mais do que ele conseguiu se abrir para acolher os diferentes - os pagãos ou gentios - e, assim, tornar o cristianismo uma experiência realmente universal, que pode ser vivenciado em qualquer cultura. Tudo isso ele atribui exclusivamente à graça de Deus, da qual ele se sente o primeiro beneficiado. É para não deixar perder-se essa graça infinita que Paulo, impossibilitado de ir pessoalmente ao encontro dos seus amados, lhes escreve cartas.
Os destinatários: "À Igreja de Deus que está em Corinto: aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" (1,2).

A comunidade cristã de Corinto é a primeira destinatária da carta, pois, afinal, é ela que está em foco na preocupação do apóstolo. Foi "chamada a ser santa", "santificada em Cristo Jesus", mas, ao que parece, está correndo o risco de perder essa graça. Paulo sabe que esses riscos podem ser os mesmos de outras comu¬nidades "em qualquer lugar". Sua intenção, portanto, é deixar orientações que venham servir para "todos os que invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo".

Ou seja: também para nós, cristãs e cristãos do Brasil, do século XXI.
Como era a comunidade de Corinto? Quando ouvimos dizer que Corinto devia contar com cerca de 500 mil habi¬tantes naquela época,5 somos imediatamente levados a pensar que a comunidade cristã também devia ser muito numerosa naquela cidade. Hoje estamos acostumados a ser maioria: vivemos num país onde mais de 90% dos habitantes declaram seguir o cristianismo como religião. Isso significa que, numa cidade como Contagem, em Minas Gerais, de cerca de 500 mil habitantes, por exemplo, mais de 450 mil pessoas são cristãs (incluindo todas as denominações de católicos e evangélicos).

A nossa pergunta, então, é: quantas pessoas formariam a comunidade cristã de Corinto?
Lembremo-nos de um dado importante: naquele tempo não existia estrutura paroquial como atualmente, de modo que houvesse, nas cidades grandes, uma paróquia em cada bairro. Nas cidades menores, no entanto, a paróquia abrangia todo um município, com uma "matriz" e várias "capelas" dirigidas por um pároco. Assim, podemos pensar que os cristãos de Corinto deviam formar uma única comunidade, que se reunia na casa de algum fiel ou num único lugar em que coubessem todos e ali celebravam juntos a eucaristia (cf. 11,17-34). Por isso, deduzimos que seria um grupo bem pequeno de cristãos.

Não nos iludamos: era uma "ínfima minoria, estando sempre presente o perigo de se diluírem em uma sociedade de costumes desregrados".
O motivo: Por que escrever uma carta para essa comunidade? Paulo recebera, em Éfeso, uma delegação de coríntios: Estéfanas, Fortunato e Acaico, que lhe entregaram uma carta relatando os problemas e questões da comunidade e pedindo orientações (cf. 16,17 e 7,1). Além disso, recebeu também notícias de lá por meio de "algumas pessoas da casa de Cloé" (1,11), provavelmente servos ou mesmo parentes dessa mulher, que devia ser uma industrial ou comerciante importante na cidade.7 Paulo teria recebido também informações por meio de ApoIo, que foi seu colaborador em Corinto (cf. At 18,27; 19,1) e que, nesse momento, se encontrava em Éfeso (cf. 1 Cor 16,12).

Infelizmente, as notícias não eram muito boas.
Os assuntos: Apesar das más notícias, Paulo começa a carta pelo lado positivo da comunidade: "Dou incessantemente graças a Deus a vosso respeito, em vista da graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus"; "fostes nele cumulados de riquezas", "o testemunho de Cristo tomou-se firme em vós" (1,4-9). No interior da comunidade, porém, havia sérias ameaças à comunhão (1,10-4,21); à pureza dos costumes (5,1-13; 6,12-20); ao sentido do casamento e da virgindade (7,1-40); à ordem das assembléias religiosas e celebrações da eucaristia (11-12) e ao exercício dos dons ou carismas (12,1-14,40).

Problemas de fora também afetavam a vida em comunidade: o ambiente pagão de permissividade sexual; o costume de oferecer carne aos ídolos, antes de vendê-la nos mercados; a variedade de crenças religiosas; a exclusão social (grande número de escravos); o apelo dos cristãos aos tribunais pagãos, para resolverem seus conflitos internos (6,1-11); o vai-e-vem de viajantes, comerciantes, tropas romanas, que se serviam dos portos de Corinto, sempre trazendo novidades.
Essa efervescência fez da comunidade de Corinto uma frágil barca em meio às turbulências e agitações daqueles portos, entre a Grécia continental e o Peloponeso.

Seu capitão-mor, porém, Paulo apóstolo, segurará com mão firme o leme, garantindo
o rumo certo: o amor e a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, força e luz para enfrentar qualquer obstáculo à fé e à ação na comunidade cristã. Desejamos, de coração, que nossas comunidades cristãs se apaixonem por Jesus Palavra e Eucaristia, tornando-se verdadeiramente discípulas missionárias, como nos pede a Conferência de Aparecida.

Extraído do blog Lectio Divina

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