
Qual o lugar que escolhi neste mundo em que ainda vivo…
Encontrar o lugar neste mundo, nesta Igreja que sou em comunhão com outros e outras que fazem o mesmo porque escolheram livremente não foi fácil nem nunca o será, porque isso exige escolher… fazer opções…!
Porque fiz essa escolha como tantos outros, ainda que feita de barros e misérias humanas, é que a própria Igreja existe, sem mim, sem ti, ela nunca existiria, ela existe porque tu, eu e outros se juntam em nome de Cristo, Ele o diz no Evangelho, não são minhas estas palavras….e por isso, porque Ele está no meio de nós, isso faz dela espaço sagrado, só por isso, como outros tantos espaços também… Ela é uma das muitas barcas que nos levarão a porto seguro, onde se recolhem os orantes, os feridos, os que buscam a paz, os que também vivem o mal porque não, nela existe lugar para todos, ainda que tantas vezes fechemos as portas (não tem que ser fisicamente) aos diferentes, aos que escolheram outras formas de estar com Cristo…!
Uma coisa estou “seguro”…depois de alguns anos percebi que o único lugar, neste mundo que preciso é os braços de Cristo, e é Nele que busco servir, amar, corrigir também os meus caminhos… nunca foi nem nunca será até aos fins da minha vida, uma instituição ou qualquer canto deste mundo a minha escolha final… esses, são apenas caminhos, o meu lugar é e será com Cristo e em Cristo…
Porque foi Nele que encontrei essa liberdade que tanto fala o Apóstolo Paulo, logo um dos que não faz parte dos Doze, olhem as dificuldades que enfrentou por causa dessa sua “condição”, tantas vezes desço desses braços, porque gosto de caminhar pelo meu próprio pé, mesmo que cambaleante, inseguro, fragilizado pelos combates da Fé, faço-o, sem medos, no preço de tantas incompreensões e desenganos, de desassossegos, de preços elevados… Ele, o Pai, nunca me impediu nem impedirá de caminhar… embora eu saiba que as quedas fora dos seus braços me ferirão e trazem perigos de morte…
Claro que seria mais fácil e mais rápido ter um grupo de homens à minha volta como tantas comunidades, e fazê-lo crescer se tivesse uma conta em bancos e em investimentos imobiliários, sei lá, talvez patrimónios amealhados em tantos anos, sabe lá deus, doados por gente pobre e depreendida, essas imensas viúvas da esmola do evangelho, doados a alguns grupos que escolheram fazer caminhos de pobreza, obediência e castidade, votos que assumiram, e por isso hoje, nada lhes falta, claro que não falo do abandono e o esvaziar das suas comunidades… Não tenho esses meios materiais, embora vocações não faltem porque é Deus quem chama, não eu, felizmente para esses, seria uma desgraça se me viessem seguir, sei de que barro sou feito…!
A barca, essa comunidade que abraçei, esse juntar de homens que caminham comigo e eu com eles em direcção a Cristo, caminhos em que me meti livremente, não é minha, só navego nela, porque ela é de Deus, é Ele o construtor o fundador, só Ele… tantas vezes ela balança perigosamente nas ondas da fome, da falta de pregos e madeiras e tijolos, no frio de uma janela sem vidros, no gás de um duche que perigosamente ali coexiste na asfixia que mata, porque não existe dinheiro para tubos, por isso posso cair a esse mar, estou seguro disso, não tenho nem possuo veleidades nenhumas… mas não estou arrependido, a liberdade vale mais do que isso tudo.. ser livre em Cristo vale tudo..é o meu tudo, o melhor tesouro que tenho… e por isso não abandono a barca feito ratazana quando já mete água por todos os lados… nos momentos difíceis… paradoxalmente, ainda hoje espero por ajuda de tantas comunidades que existem e sabem que existimos também… mas é mais fácil rir da pequenez e das misérias alheias, com as pedras e braços em riste para sufocar a miséria humana como queriam fazer com aquela prostituta que o Senhor desenhou na areia… é tão fácil estar no meio da multidão dos fortes, mesmo que camuflado por palavras feitas e oferecidas como conselhos e sabedorias…
Quanto à serenidade, não a consigo entender, apreender, nem sentir ou vivê-la em mim se nela não coexistir a tensão permanente da insatisfação de não ter amado ainda o suficiente… de não ter feito o suficiente, e esse ter feito não é a minha vontade ou “ o meu sonho”… os serenos são filhos rebeldes, como aquele que disse nos evangelhos não ao seu senhor, mas depois foi e fez… Essa mansidão, a que tantos apelidam de serenidade, e que tantos gostam de colocar como roupa aos cristãos, não é mais nem menos do que o comodismo e o viver na paz que o mundo oferece, mesmo que para isso tenham que comer do prato de lentilhas que esse mundo lhes oferece eternamente…… Eu, só desejo a paz de Cristo, e essa, é feita de combates… por isso o mataram… Ele não veio trazer a paz… leiam o Evangelho e compreenderão do que estou a falar…
Nunca amei tanto a minha Igreja como amo hoje, é um caminho cheio de possibilidades de amar a Cristo no outro… mas ela não é o meu todo, só Cristo… Nela, com outros, caminho para o alvo, combato esse combate que S. Paulo fala… o combate da Fé…
2 comentários:
felizmente o gás já se resolveu..graças à Irmã Maria... outros também vão servindo à mesa..Deus lhes pague tal generosidade...
E...quantos por detrás dessa falsa Liberdade fogem dos problemas do caminhar de outros tantos ,daqueles que não lhes convém,daqueles que lhes perturbam o sono da alma,porque não são iguais....
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