Tenho diante de mim duas notícias completamente opostas: «Morreu aos 98 anos Irena Sendler, a heroína polaca que salvou 2500 crianças do Gueto judeu de Varsóvia»; «Pai mata filha de 17 anos que se apaixonou por um soldado inglês».
Qual o crime desta rapariga? Aos nossos olhos, nenhum. O soldado nem sequer lhe tocou, conta uma amiga. «Uma paixão de adolescente que podia até nem ser retribuída» – prossegue a colega. Porém, seu pai, Abdel-Qader Ali, não tem dúvidas: «O mínimo que a filha merecia era morrer». A sua filha apaixonou-se por um dos 1500 soldados britânicos estacionados na cidade iraquiana de Baçorá. A própria polícia iraquiana, que chegou a deter Abdel-Qader umas horas, deu-lhe razão. «Todos sabem que os crimes de honra são impossíveis de evitar», disse o iraquiano, segundo o qual «os agentes ficaram do meu lado o tempo todo a dar-me os parabéns pelo que fizera».
A outra notícia fala da morte de uma senhora de 98 anos, assistente social, que salvou um número enorme de crianças e adolescentes judeus.Irena Sendler, assim se chamava a mulher, organizou a saída de cerca de 2500 crianças do Gueto de Varsóvia durante a violenta ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial.
Ela – que trabalhava como assistente social – e a sua equipa de 20 colaboradores salvaram as crianças entre Outubro de 1940 e Abril de 1943, quando os nazis deitaram fogo ao Gueto, matando os seus ocupantes ou mandando-os para os campos de concentração.Adivinhando já o que iria acontecer, durante dois anos e meio, Irena Sendler conseguiu ludibriar os nazis, conseguindo retirar de maneira clandestina milhares de crianças do gueto, entregando-as a famílias católicas e conventos.De formação e prática católica, Irena explicava a sua acção humanitária dizendo: «Fui educada na ideia de que é preciso salvar qualquer pessoa, sem ter em conta a sua religião ou notoriedade.»Sendler foi presa em sua casa em 20 de Outubro de 1943. Durante o período em que ficou detida no quartel-general de Gestapo, foi torturada pelos nazis que lhe partiram os pés e as pernas. Ainda assim, não disse nada. Logo depois, foi condenada à morte, mas milagrosamente foi salva, quando a conduziam à execução, por um oficial alemão que a resistência polaca conseguiu corromper. Sendler continuou a sua luta clandestina sob uma nova identidade até ao final da guerra, trabalhando como supervisora de orfanatos e asilos em seu país.Que grande diferença entre o acima referido muçulmano e seus conterrâneos e esta mulher e sua equipa!
1 comentário:
Fizeste uma excelente pesquisa, Aurora e escreveste um excelente texto. Beijo
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