
Gosto muito da escrita de Cipriano Pacheco, Padre Cipriano Pacheco- Vigário Episcopal em S. Miguel, Açores. Espero que também gostem.
Abraço fraterno
Um ano com Paulo de Tarso – aprender a esperança
A proclamação pelo Papa Bento XVI do Ano Paulino iniciado a 29 de Junho passado, assinalando os dois mil anos do Apóstolo Paulo, pode e deve constituir um bom pretexto para aprender alguma coisa com o Apóstolo dos gentios, ou seja, dos não-judeus.Ele que foi um judeu culto e rigorosamente observante do Judaísmo, levou a sua condição de fariseu até ao extremo de perseguir os primeiros cristãos. Dele se diz que “devastava” a Igreja. No entanto, o mesmo intransigente fariseu, mediante uma forte experiência de conversão, acaba tornando-se um discípulo apaixonado e um fogoso apóstolo de Jesus Cristo.Do muito que se pode aprender com Paulo, a partir dos seus escritos, a esperança é, claramente, um dos núcleos duros da sua mensagem. Ela tem a sua raiz no paradoxo da vida cristã. É que, a originalidade cristã está no facto de, mediante a Ressurreição de Jesus, a presença do mundo novo desejado por Deus para todos os humanos, já ser uma realidade em acção na história humana, embora de forma oculta. Contudo, é também uma presença ainda não plenamente manifesta, porque sempre-a-vir até à volta gloriosa e definitiva de Jesus, isto é, quando Deus for “tudo em todos” na expressão do próprio Paulo.A existência cristã vive-se neste tempo que medeia entre aquele já e o ainda não, em que todos os cristãos já vivem do Espírito Santo, mas esperam ainda o que o Apóstolo chama a “adopção filial e a libertação do nosso corpo” (Rom. 8, 18-23). É o tempo da esperança.Como diz o biblista Ravasi, a Esperança, parecendo a menor das três virtudes teologais, incluindo a Fé e a Caridade, é ela, no entanto, que leva pela mão aquelas duas virtudes maiores do Cristianismo. Ela manifesta-se como esperança física em todo o esforço humano por manter as pessoas de pé. Ao mesmo tempo, como esperança espiritual, traduz-se no Perdão que encoraja e permite retomar a vida, até mesmo quando ferida pelo desespero. É uma Esperança que volta para o futuro abrindo a história humana para a “utopia” da Jerusalém nova ou da vida em plenitude.Uma vez que, na perspectiva paulina, toda a Criação está ferida e sofre as “dores de parto”, também a Igreja participa da mesma dor. Com Paulo, herói da Esperança, ele sabe que a Primavera trabalha a terra e a criação inteira que Deus visita sempre de novo.Diante da dor sem esperança de tantos homens e mulheres, compete à Igreja ser testemunha da compaixão e uma presença que não julga ou um silêncio que acolhe o seu grito encaminhando-o para a Palavra de Deus feita carne na pessoa de Jesus Cristo.Nesta viagem humana feita no tempo, Paulo pode ser um guia ajustado às próprias circunstâncias em que se encontra a Igreja de hoje. Resta esperar que o Ano Paulino se revele uma feliz oportunidade a não perder.
In Diário on line
1 comentário:
Ana, o texto até é muito bom, sobretudo, naquilo em que permite “antever” a oportunidade de deixar algumas janelas abertas para a esperança… Aqui também iniciamos esse “Ano Paulino” e por acaso, “calhou” ser eu o máximo responsável para o animar e guiar nesta comunidade……
Sabes, como vou vivendo no meio das ruas e não em palácios episcopais etc…. vou dando conta de algumas coisas que todos “esquecemos” ou “se calhar” preferimos passar de lado… por isso talvez apenas fiquemos pela “utopia”, uma palavra que encontrei neste texto que transcrevestes…! Como sabes, de nada vale servir o alimento, por melhor e mais composto que esteja feito o prato, se esse prato está “sujo” com tantas marcas das gorduras das desigualdades e tantas outras faltas de caridade que habitam essa “Igreja” que não consegue descer do pedestal das vaidades e intolerâncias…! Certamente “muitos” não quererão sentar-se à nossa mesa, todos os que fazemos parte dessa “ Igreja”…! É que, ninguém consegue comer em pratos sujos… bom..! talvez os que há muito, se deixaram vender por um prato de lentilhas…talvez esses… e olha infelizmente abundam na seara do Senhor..pena que não se possam agora arrancar, o outro, o trigo poderia vir também junto nessa batalha espiritual que é preciso fazer, romper..a seu tempo o Senhor permitirá essa ceifa… a seu tempo…….
Ana, a este servo que te abraça, só lhe resta retomar caminho… procurar outros lugares onde ainda se respire a verdade e esperança… o caminho está à espera, faltam dias, e é só esperar o último barco que atracará no cais da coragem que me abraça… só desejo que nele, nesse caminho, sempre encontre a paz e a força que me trouxe e alimentou estes anos aqui, em que entreguei a minha vida ao Senhor… um beijo fraterno…
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